A geração Moro: tempos de mudanças

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*Thiago Chacon

Na história mundial, observa-se uma correlação entre a evolução da humanidade e grandes terremotos. Estes fenômenos arruinaram nações inteiras, impulsionando a população sobrevivente a recomeçar a escrever suas páginas do zero.
Assim ocorreu com o terremoto que abalou Portugal em 1755. De 275 mil habitantes, cerca de 90 mil foram a óbito. 85% das construções foram destruídas, incluindo palácios, hospitais e escolas. Enfim, não houve outro caminho, o país teve que se unir e se reinventar.
Os governantes da época, com pragmatismo, deram impulso à imediata reconstrução do país. Narra a literatura que no dia seguinte, um preocupado político perguntou: “E agora?”. O ministro da Guerra, Marquês de Pombal, respondeu “Enterram-se os mortos e cuida-se dos vivos”.
A frase, mais do que frieza, demonstra preocupação em firmar liderança e iniciar rapidamente uma reconstrução em todos os sentidos, físicos e humanos. A reação possibilitou criar programas sociais, melhorando consideravelmente o sistema de saúde e esgotamento. Um ano após o terremoto já se enxergava um novo país, mais eficiente e planejado, com as estruturas prontas para futuros tremores.
Sem olvidar do sofrimento do povo português, entendemos que momentos assim, de tensão e rupturas drásticas, são semelhantes aos observados desde 2014 no Brasil, após o desencadeamento da operação Lava-Jato.
Nota-se que estamos diante de um duro abalo das instituições e dos recursos humanos. A crise de representatividade é axiomática. A corrupção entre setores do mercado e parcela dos políticos é cada vez mais explícita. Onde mexe se acha. O enredo expõe seus reflexos na segurança pública e até no sentimento de moral e justiça.
Nesse contexto de caos, o combate à corrupção precisa ser encarado como algo necessariamente perene, inaugurando não salvadores da pátria, mas sim um novo horizonte. Mais do que magistrado, Sérgio Moro representa uma verdadeira geração de brasileiros, aprovados em concorridas seleções, que ingressaram no serviço público com republicanos parâmetros valorativos e sem dívidas com padrinhos.
Precisamos apostar nesse caminho e ultrapassar esta difícil fase de transição. A caminhada exige abdicações, inclusive econômicas. O outro lado da estrada compensa e nos dá esperanças, desde que adotadas reais e efetivas mudanças, ainda que para isso seja inevitável uma reforma constituinte exclusiva.
O sistema eleitoral se mostra excludente, reproduzindo uma aparente democracia quase sempre vencida pelo dinheiro e sobrenomes. No criminal ainda temos uma normatização travada por uma distorcida percepção do devido processo legal.
Utilizar o discurso de que as operações contra a corrupção atrapalham a economia é desviar o foco e esquecer que o problema não é o remédio, mas a própria doença. Com estruturas mais sólidas e éticas estaremos preparados para enfrentar quaisquer abalos, sísmicos ou institucionais, fazendo a democracia, com seus defeitos e virtudes, voltar a existir.

*Thiago Chacon é promotor de justiça do Ministério Público do Estado de Alagoas.
Artigo publicado originalmente na ‘Gazeta de Alagoas’

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