*Carlos B. González Pecotche
Certo dia, um ancião preceptor deleitava com seus contos a um grupo de crianças que o escutava com viva e particular razão. Ao finalizar um de seus belos relatos, cujo agregado quimérico era, talvez, excessivo, viu esboçar-se nos rostos de seu infantil auditório um sorriso que, claramente, refletia a dúvida. Como as crianças sabiam que seu preceptor nunca mentia, era natural que se produzisse nelas certa confusão.
Não perdendo detalhe de quanto acontecia na alma dos pequenos, o bom ansião lhes expôs a seguinte parábola: “Se eu mostrasse uma fonte cheia de água cristalina e vertesse nela uma gota de tinta, manchar-se-ia a água? Não, porque desapareceria em seguida e ninguém poderia dizer que essa gota teve maior existência do que o breve instante em que caiu na água. Assim, crianças, quem vive e ensina a verdade pode, também, dizer pequenas mentirinhas, pois estas nunca poderiam turvar, sequer fugazmente a brancura daquela”.
E em seguida, prosseguiu: “O mentiroso que alguma vez disesse uma verdade, seria como se jogasse num recipiente cheio de tinta, uma gota d’água. O que aconteceria? Embora à inversa, idêntica coisa: a gota d’água desapareceria absorvida pela tinta. Ao exposto acrescentarei ainda este outro, de muito fácil alcance para seus entendimentos: quem mente por costume é como se freqüentemente deixasse cair sobre um papel branco, que viria a representar aquela parte da mente na qual cada um forma o conceito sobre sua pessoa, gotinhas de tinta. O que acontecerá? Que custará muito apagar as manchinhas que elas deixam, e , ainda que o consiga, estas nunca desaparecerão totalmente.
As crianças compreenderam a moral da história e fizeram o firme propósito de preferir sempre a verdade do que a mentira.
*Carlos B. González Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br