*Márcio Coimbra
A eleição de Mauricio Macri para presidente da Argentina representa uma mudança de fundo na política do país e também na região. O anúncio do movimento em denunciar a Venezuela diante da cláusula democrática do Mercosul evidencia uma disposição urgente de reposicionar a Argentina no cenário internacional.
No âmbito interno as mudanças serão mais profundas do que se especulou. Macri é um liberal. Acredita que o motor do desenvolvimento de seu país passa pelo setor privado. Cabe ao Estado zelar para que sejam respeitadas as regras e desregulamentar setores engessados pelas políticas protecionistas peronistas dos anos Kirchner. A Argentina em breve estará reaberta aos negócios e ao universo do comércio internacional.
Os desafios serão grandes. A política populista dos peronistas está arraigada em setores estratégicos da economia argentina. O kirchnerismo forneceu uma roupagem clientelista, mediante programas de transferência de renda que assegurava ao partido justicialista sua manutenção no poder. Macri precisará desmontar o paternalismo articulado por Perón e o assistencialismo operado por Cristina e Néstor.
Na política os desafios também serão grandes. Macri governará por um partido novo, fundado por ele pouco mais de uma década atrás. Não foi eleito pelo justicialismo peronista ou pelos radicais da UCR, apesar de ter contado com o apoio destes para obter a vitória. Sem maioria no parlamento, precisará montar uma estratégia política eficiente para conseguir governar.
O próximo Presidente terá ao seu favor o modelo político argentino, onde os governos das províncias tendem a se alinhar com a Casa Rosada. Isto trará muitos peronistas eleitos por estes locais ao apoio de Macri no parlamento, que tende a tratar os governadores de forma republicana, sem revanchismo ou confrontações.
Aliás, este é um traço do novo Presidente. Busca, em suas palavras, construir uma Argentina sem polarizações ou confrontos. A ideia é promover a união, uma agenda comum e criar um ambiente sadio para a política e a economia, diminuindo a influência de uma em outra. Enfim, como empresário, é evidente que Macri entende que uma economia mais livre gera mais riqueza e por consequência um país mais sadio e próspero.
O fato de ter sido empresário por grande parte da vida, mais do que um problema, é visto como diferencial positivo. Macri focou seu gabinete na gestão. Convocou profissionais com experiência no setor privado para operar uma mudança de fundo na postura com que a Argentina lida com a economia e os negócios. Um gabinete que possui nomes com experiência no setor privado em áreas como energia, tecnologia, finanças, mídia e transporte. Em suma, em seu governo há nomes com experiência de gestão em companhias como Shell, Volkswagen, General Motors, Siemens, LAN, Hewlett-Packard, JP Morgan, La Nación, entre outros. Em suma, saem os burocratas, entram os gestores executivos da iniciativa privada.
Na esfera internacional, além do distanciamento da Venezuela, existe a promessa de rever o alinhamento com o Irã, além de revisar acordos realizados pelo governo peronista com China e Rússia. Como lembrou o ex-Presidente uruguaio, Julio Sanguinetti, tudo indica que “a festa populista entrou em seu ocaso na América do Sul”. Macri poderá entrar para a história como o início de um movimento reformista na região. Boa gestão, profissionalismo e visão estratégica. A Argentina tem nas mãos a grande oportunidade de reorientar a política latino-americana.
*Márcio Coimbra é coordenador do programa de MBA em Relações Institucionais do Ibmec. Trabalhou como observador eleitoral internacional nas eleições presidenciais da Argentina. E-mail: marciocoimbra@gmail.com