*Edson Vidigal
Sempre que o Brasil tem pela frente um desafio monumental como o destes tempos de tanta intolerância e insensatez, em meio a tanta gente escabriada como ultimamente, me consolo e me animo ao lembrar-me da constatação de Goethe – mais difícil do que derrotar o monstro e remover-lhe os destroços.
Quem está de fora, querendo, pode ver melhor. As lentes dos óculos ou das meninas-dos-olhos ficam mais límpidas. Os que seguem no picadeiro desse circo montado com o maior conforto em qualquer espaço onde seja possível amealhar algum dinheirinho, ainda apostam naquele perdão prometido aos que não sabem o que fazem.
Ora, não sabem. Sabem e muito. Não apenas sabem como até ensinam suas artes e manhas aos que chegam. Logo saberão que não sendo apadrinhados por um desses Corleones, e os são muitos em diversas frentes, não terão futuro na organização marginal a que pejorativamente chamam de política.
Impressionante ver em cores nítidas como a rapaziada aprende rápido a se dar bem, sem temor de consequências. Foi-lhes ensinado que quanto mais processos criminais, melhor. O foro privilegiado faz desaguar todos para enxurrada que leva à prescrição, que consolida a impunidade.
Ouço muitos dizendo que depois da Lava a Jato não vai ter lugar para tantos criminosos que passando-se por políticos se aboletaram nas facilidades do clientelismo, do toma lá dá cá.
Ouvi no rádio que um Deputado do Maranhão, ou de sobrenome Maranhão, exigiu uma Vice-Presidência da Caixa Econômica Federal para levar à votação um projeto de interesse do Governo. Antes, na votação do impeachment, um Senador, aliás, socialista, emplacou um apadrinhado na direção de um Banco estatal. A que servem essas ocupações?
O monstro incorporado na desastrosa presidência da senhora Dilma restou vencido, não sem antes causar os maiores prejuízos à economia, à coesão social, enfim ao que resistiu no arcabouço institucional. A estratégia da tomada do Estado por prazo ilimitado pela via do aparelhamento dos três poderes não se completou a tempo e, por isso, não funcionou.
Remover agora os destroços do monstro que se mostrava imbatível e que agora jaz inerte sob o sol e a chuva na Praça dos Três Poderes não é tarefa para tão poucos patriotas nessa urgência que a realidade social e política impõem.
Anteontem, no Ministério da Agricultura, por exemplo, não era possível fechar contrato. Nem dar seguimento, a qualquer providência que dependa de alguma cópia em papel.
Sem receber o que fora contratado, a empresa prestadora dos serviços retirou todas as copiadoras e agora, já vencido o prazo do contrato, tudo está a depender de uma licitação.
Para economizar despesa com hotel em Tóquio, Temer preferiu viajar à noite. O fuso horário de 24 (vinte e quatro) horas atrasou a notícia.
No início da tarde de terça a Polícia Federal prendeu Eduardo Cunha em Brasília. Desde a véspera ele já havia até arrumado a mala. No avião presidencial que voltava ao Brasil, passava da meia-noite. Temer dormia.
Na véspera, horas antes do Juiz Moro assinar a ordem mandando prender Cunha, estourou uma rebelião num manicômio em Franco da Rocha, município de São Paulo. Alguns fugitivos foram capturados. 55 (cinquenta e cinco), não.
*Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tri unas de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.