*Carlos B. González Pecotche
Entre as diversas modalidades que configuram a psicologia humana, existe uma que a Logosofia define como reações involuntárias. Apresenta-se como característica nos temperamentos humanos pela frequência com que se repete, e é das que mais desgostos e inquietudes causam ao ser, tanto que, às vezes, até se converte em sua inimiga mais cruel.
Essas reações involuntárias são as que amiúde fazem cometer as chamadas precipitações, que levam a julgar sem a intervenção da razão, e tudo isso conduz, como consequência, a semear contrariedades e dar começo a inimizades. Por serem involuntárias, deve-se entendê-las como descontroladas.
Praticamente, as reações involuntárias são as que criam maiores obstáculos à vida harmônica do ser. Não se deve esquecer que os seres humanos reagem com maior facilidade desfavoravelmente, e isso ocorre porque, em geral, são suscetíveis a tudo quanto afeta direta ou indiretamente sua auto-estima, e também a tudo que contraria aquilo que foi aceito por sua razão.
Como é natural, tal suscetibilidade é limitada em grande parte ao se penetrar na vida sem conhecimento do que nela ocorre ou vai ocorrer, pois os tropeços e as quedas, com as consequentes reflexões que suscitam, dão lugar às primeiras experiências, as quais, por sua vez, criam a noção, ainda que rudimentar, da realidade, essa realidade que muitas vezes deverá ser enfrentada sem se dar conta disso, até que seja adotada a postura devida.
As reações involuntárias podem ser consideradas como pedras que o próprio ser põe em seu caminho, e nas quais tropeça repetidamente, sem advertir a que obedecem. Acaso não se truncaram, por causa delas, amizades formadas e alicerçadas durante longos anos? Isso é muito certo, como é muito certo também que elas muitas vezes fazem com que o ser se situe mal ante os demais, privando-os de desfrutar o afeto e a simpatia de que poderia ser credor por suas virtudes ou condições.
Entretanto, esta característica tão típica do temperamento humano não se delineia em todos por igual. Enquanto em uns aparece com variações pouco pronunciadas, em outros se acentua com bastante intensidade, por exemplo, nos estados de impaciência, nervosismo, ansiedade, contrariedade, e em muitos outros de análoga natureza.
Sob a influência desses estados, comumente transitórios, a mente perde com facilidade o próprio controle; são pensadas e ditas coisas sem a obedecer a um critério definido, ou seja, o ser está sob a influência de uma excitação do ânimo ou alteração psicológica. Tais reações, que na maioria dos casos levam em sí a violência, por sua vez dão lugar a que se promovam mo semelhante outras de índole variada: primeiro, de desconcerto; mais tarde, de desconfiança; por último, de prevenção. E é lógico que isso aconteça, porquanto o trato entre as pessoas se afirma sobre a base do respeito à sinceridade com que cada um exprime seus pensamentos, ao conviverem e confiarem na boa-fé mútua. Daí que, se depois ocorre uma mudança brusca na maneira de pensar ou de proceder, sem dúvida isso afetará o conceito de integridade que ambas as partes tenham formado uma da outra, o que promoverá, como consequência, um debilitamento das relações entre elas.
O comportamento individual deve estar condicionado sempre às boas disposições do ser, e não às caprichosas formas da inconstância. É essencial, portanto, não se afastar da própria natureza consciente, mantendo sem alterar os estados que, quando pensamentos, se definem como condições superiores do espírito, só assim o ser pode se preservar de ser influenciado pelos pensamentos que, alheios muitas vezes à própria posição interna, induzem a cometer atos irrefletidos que depois devem ser lamentados.
As reações involuntárias costumam fazer perder, como dissemos, muito do prestígio ou do conceito pessoal, conseguido a mercê das próprias energias e qualidades. Isto adquiri uma grande importância ao serem condiderados os fatores que, durante a vida, contribuiram para o bem ou para a desdita humana. Sabe-se que um ser que luta sozinho na vida, por exemplo, deve sofrer e correr uma infinidade de riscos se suas condições psicológicas, morais e físicas são precárias. Se a isso se adiciona o debilitamento de energias que tais coisas trazem consigo, e também o debilitamento do que constitui seu patrimônio como um todo, ocorrerá que quem enfrente a vida em semelhante inferioridade de condições haverá de encontrar suas perspectivas de triunfo consideravelmente diminuidas.
*Carlos B. González Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br