*Pedro Luiz Rodrigues

O Partido dos Trabalhadores (PT) não admite que tenha um “Plano B” para a candidatura presidencial, caso seja confirmada a sentença de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (condenado em primeira instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, a mais de nove anos de cadeia) pelo TRF de Porto Alegre, nesta quarta-feira (24).
Mas como todos sabem que é melhor a prevenção do que o remédio, a questão já vem sendo discretamente discutida na agremiação: e se os juízes não se intimidarem com as ameaças de fazer jorrar sangue pelas ruas, proferidas pela senadora Gleisi Hoffmann? E se a condenação de Lula for mesmo reiterada, retirando-lhe a possibilidade de estar à cabeça da chapa do PT nas eleições de outubro próximo?
A conclusão óbvia a que todos chegam é que o partido tem escassez de candidatos com a necessária estatura política e que estejam em liberdade. Seus dois únicos nomes a contar ao mesmo tempo com experiência e expressão nacional– José Dirceu e Antonio Palocci – são cartas fora do baralho, por estarem ambos na cadeia. Palocci, então, é odiado internamente pelas ameaças de revelar tudo o que sabe sobre o envolvimento Lula com esquemas de corrupção.
Uma candidatura de Gleisi Hoffmann também não é considerada. Todos reconhecem que ela é boa palanqueira, mas que lhe falta a necessária envergadura para vôos mais ousados, a despeito do período em que ocupou a chefia da Casa Civil da Presidência da República (como também ocorreu com a ex-Presidente Dilma Rousseff, que passou pelo mesmo cargo e teve no Planalto desempenho sofrível).
Dois outros próceres do Partido, os ex-ministros da Saúde (Raimundo Padilha) e da Educação ( o ex-prefeito de São Paulo, que não conseguiu a reeleição, Fernando Haddad), podem lá ter suas qualidades, mas são considerados mais como uma reserva para os embates provincianos em São Paulo do que para a grande disputa nacional. Nessa mesma perspectiva de líderes para embates locais situam-se o senador Lindbergh Farias (que possivelmente tentará a reeleição ao Senado) e Fátima Bezerra (considerada esta uma candidata forte ao governo do Rio Grande do Norte). O ex-senador Eduardo Suplicy não parece disposto a novas aventuras.
Seguindo-se esse processo de eliminação (descartando-se os incompetentes, os inexpressivos, ou os que se debatem com sentenças ou processos judiciais) desponta apenas um nome para substituir Lula na chapa presidencial de outubro: o ex-chanceler Celso Amorim.
Autor do manifesto distribuído internacionalmente, em várias línguas – que desqualifica a isenção e a independência do poder Judiciário, caso a sentença do dia 24 seja desfavorável a Lula, – o ex-chanceler conta com toda a confiança e admiração do ex-presidente. Além do mais, reúne experiência na administração pública, fala línguas, e circula com facilidade no meio internacional (característica que o distingue do resto dos seus colegas do PT, geralmente monoglotas).
Lula já disse que gostaria de ver Amorim como candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro. Mas certamente, caso o ex-Presidente tenha mesmo sua condenação reafirmada e não possa concorrer, não hesitará em convocar o Partido para apoiar Amorim para Presidente.
O próprio Amorim é discreto. Aos jornalistas, brasileiros e estrangeiros, que levantaram-lhe essa hipótese durante as inúmeras entrevistas que concedeu recentemente, ele tratou de descartá-la, reiterando o discurso do partido de que o PT não tem plano B.
Mas na política, as posições e as convicções são efêmeras. Dependendo da sentença dos juízes em Porto Alegre, quem sabe se a partir da quarta-feira já não começarão as manifestações de apoio do PT e dos movimentos sociais no calçadão da avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, diante do prédio vizinho ao Copacabana Palace Hotel, onde mora o ex-ministro?
*Pedro Luiz Rodrigues é jornalista e diplomata.