*Ney Lopes
Já às portas de 2018, a “gangorra presidencial” ainda permanece indefinida e com ocorrências frequentes de fatos, que alteram o cenário.
Recentemente, o PSDB deu um “passo a frente”. Elegeu Alckmin presidente e o lançou como candidato presidencial.
Dias após, surge o anúncio de investigação sobre a formação de cartel de empreiteiras em obras, durante período do seu governo.
Um grave golpe para quem teria como maior trunfo demonstrar ao eleitor seriedade, experiência e boa gestão. No Brasil de hoje, a simples suspeita poderá ser mortal, em matéria de pretensões eleitorais.
Permanece um vazio na disputa presidencial, em que pesem os avanços do ex-presidente Lula e de Bolsonaro. Pesquisa constata aprovação do ex-presidente Lula em 45% e a desaprovação de 54% dos entrevistados. (Barômetro Político Estadão- Ipsos). Jair Bolsonaro atinge, em segundo lugar 21% de aprovação e 62% de desaprovação.
O país aguarda um discurso de equilíbrio, que não seja novo, nem velho, mas sim inovador, criativo, de credibilidade. Atualmente, em jogo estão os extremismos de Lula e Bolsonaro. Um de direita e outro com apoio da esquerda radical.
Mesmo que Lula viesse a ganhar a eleição e tomasse posse, encontraria um país dividido, em função da sua rejeição, que alcança quase a metade do eleitorado.
Seria praticamente impossível governar dessa maneira, pois até as alianças se tornariam difíceis. O ministro Henrique Meirelles anuncia a sua intenção de disputar a presidência.
A pressa revela que, ou ele teme avanços de Alckmin, ou já se lança como opção para vice nessa chapa. Meirelles se colocará como responsável pelo fim da recessão. Certamente, enfrentará sérias dificuldades políticas.
O seu trabalho na economia é inegavelmente eficiente, porém a estratégia usada pelo governo Temer assemelha-se a uma “balança”, que oscila para um lado só e aplica remédios em alta dosagem à população, sobretudo aqueles de menor renda.
Os sacrifícios para superar a crise nacional não estão sendo divididos com todas as categorias sociais. Seria necessário que o governo tivesse analisado o déficit e sugerisse soluções em que “todos” perdessem, como contribuição à Nação.
O temor de que seja proposto qualquer tipo de aumento de imposto (ou regulamentação de tributos existentes) faz com que o governo se torne refém da linguagem dirigida unicamente à existência de privilégios, cujos únicos beneficiários são os assalariados da previdência e os servidores públicos.
Ninguém mais oneraria o país! O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira chegou a generalizar, em declaração pública recente, que o servidor público é elite. Não esclareceu nem onde, como, nem em que situações. Generalizou, apenas.
Inegavelmente, há distorções injustificáveis no serviço público, que clamam mudanças. Esse quadro, entretanto, não é a regra geral.
Considerar o funcionalismo como elite nacional, além de injusto é inverossímil. Talvez por esse comportamento exagerado do governo, o ex-presidente Lula esteja em tão boa posição nas pesquisas.
Hoje, o maior aliado de Lula é Michel Temer e o seu governo, contribuindo para maior concentração de rendas. Em tais circunstâncias, existirão dificuldades para Meirelles crescer eleitoralmente, embora fosse um nome confiável para estabilizar a economia e possuidor de experiência política.
Enquanto o governo age dessa forma, a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018 revela que, no período de 2001 a 2015, quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país, a maior concentração do tipo no mundo. O Brasil ficou à frente até dos milionários do Oriente Médio. Dá para entender?
*Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br