Fecham-se as cortinas para Maluf, o símbolo do político corrupto

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*Jorge Oliveira

Mais de vinte anos depois, um senhor de 86 anos apresenta-se à Polícia Federal para atender a um pedido de prisão decretado pelo STF. Ele já era procurado em mais de 120 países. Sua foto afixada em vários aeroportos do mundo, mas, aqui, no Brasil, gozava de imunidade parlamentar e ostentava um passaporte diplomático. Vivia em sua mansão paulista e trafegava soberbamente pelos corredores da Câmara dos Deputados. Nunca se negava a dar entrevistas movido pela extrema vaidade de um político que jurava inocência das acusações de corrupção. Na última conversa com o SBT, disse que gostaria de ser lembrado em uma praça, um viaduto ou em uma das principais avenidas de São Paulo. Seu nome: Paulo Maluf, o símbolo da corrupção brasileira. Seu crime: o roubo de 1 bilhão de dólares (valor corrigido), sacado dos cofres da prefeitura de São Paulo, quando administrou a cidade.
Mentiroso compulsivo, seu nome virou verbo: malufar é roubar. Cínico, desdenhava da Justiça e da polícia quando negava que tinha dinheiro em bancos suíços, de onde foi repatriado grande quantia que estava em seu nome e da família. Ousado, agia como um gato dissimulado. Dizia-se de memória prodigiosa para gravar nomes de aliados e ofertar-lhes presentes. Por suas qualidades genuinamente brasileiras quase chega a presidência da república quando disputou o Colégio Eleitoral com Tancredo Neves. Paulo Maluf sai de cena tarde, depois de gozar do frescor de vários mandatos que lhe garantiram a imunidade. Tripudiou o quanto pode da justiça brasileira que permaneceu cega às suas estrepolias durante mais de trinta anos.
Apresentou-se logo cedo à Polícia Federal quando soube da decisão do ministro Edson Fachin, do STF. Evitou deixar a mansão a bordo do camburão, que nos últimos anos virou o Uber dos seus aliados a caminho dos presídios. A cena que se viu à sua entrada na sede da PF paulista é típica de um ator bufão, pois se sabe que estava leve e fagueiro dias atrás circulando pelos corredores da Câmara.
Ao contrário da sua última visita à cela, onde passou 40 dias no mesmo cárcere em 2005, dessa vez Maluf apareceu sustentando-se numa bengala, fazendo-se de vítima. Com cara de abatido por um câncer, segundo seus advogados, ele quer a compaixão dos brasileiros aos seus crimes apresentando-se para o perdão para uma plateia cristã. Mas sempre resistiu em devolver o dinheiro roubado que fez falta nos investimentos sociais da cidade de São Paulo.
Maluf é daquela espécie perniciosa, quase em extinção, do “rouba mas faz”. Achava que tinha o direito de receber vultosas quantias de propinas pelo fato de transformar São Paulo em um canteiro de obras, como propalava ao falar da sua administração. Com os bolsos cheios vivia em luxuosos hotéis em Paris. E fazia questão de ser fotografado com a família nos belos salões parisienses numa época em que a internet ainda engatinhava, numa gastança desmedida às custas do sacrifício do povo de São Paulo. Agora, amarga 12 metros quadrados de cela.
De onde vinha tanto poder? Sabe-se agora: de uma rede que ele montou para se proteger e ficar longe das sentenças que tinha que cumprir. Espertos e ágeis advogados o mantinham fora da cela a soldo de milhões sacados dos cofres públicos. Certamente, a mesma rede que tem influência nos tribunais para manter outros privilegiados longe das grades, que, desesperados, ainda correm de um canto a outro para se livrar da faxina diária nos presídios. Esse é o motivo pelo qual Maluf e agregados safavam-se da cadeia. Esses políticos espertos quando roubam já separam os montinhos gedelnianos para pagar seus advogados, integrantes da cadeia onde todos se locupletam do dinheiro público rapinado.
Mas Maluf também tinha outra proteção: a do eleitor. Na última eleição ele teve 250 mil votos, o oitavo deputado federal mais votado. Ou seja: Maluf tinha a proteção das urnas de milhares de aliados para roubar. Além disso, esses votos davam-lhe também o direito de fazer conchavos para indicar apaniguados nos governos estadual e federal, homens suspeitos, que assumiam funções públicas para manter a máquina de corrupção malufista ativa, pois é difícil acreditar que um executivo sério se prestasse a esse serviço sujo.
Durante muitos anos o malufismo triunfou porque o eleitor nunca deixou o seu líder sem imunidade parlamentar. Até o PT, quando precisou chegar ao poder em São Paulo, correu atrás do Maluf e dos seus eleitores. A fotografia dele recebendo em sua mansão o Lula e o Haddad, candidato a prefeito, foi estampada nos jornais de todo o mundo. Naquele momento, os petistas e os malufistas já eram irmãos siameses, pois o Partido dos trabalhadores já havia sucumbido à contaminação da corrupção e era acusado de assaltar os cofres com a criação da organização criminosa.
E agora, pergunta-se: como ficam as 250 mil viúvas do Maluf? Vão chorar na porta do presídio ou esperar que ele saia para devolvê-lo novamente ao parlamento em 2018, garantindo-lhe a chave do cofre. Façam suas apostas, senhoras e senhores.

*Jorge Oliveira é jornalista e cineasta.

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