*Almir Pazzianotto Pinto
Procuro encontrar razões para ser otimista. O cenário mundial, todavia, não me parece favorável. O Brasil, por sua vez, não consegue emergir do interminável lamaçal de corrupção em que foi mergulhado. Guerras localizadas no Oriente Médio. Terrorismo alimentado por ódio político, religioso ou étnico. A Europa emitindo nítidos sinais de decadência. A América do Norte, considerada a pátria da liberdade e modelo de democracia, prestes a ser governada por Donald Trump, cujo grau de irresponsabilidade ninguém consegue dimensionar. Entrevistado pelo Estadão na edição do dia 1º de janeiro, o presidente da Volkswagen, David Powels, aponta, como aspecto positivo da sua administração, o fato de a empresa ter dispensado 4 mil trabalhadores nos últimos dois anos. Diz o executivo: “Hoje temos 18 mil trabalhadores (nas quatro fábricas). Há dois anos eram 22 mil. São 4 mil pessoas a menos, mas todas saíram por meio de programas de demissão incentivada”. Ainda assim, o fato é que foram se somar a outros 12,1 milhões de demitidos, ou sobrecarregar o INSS com precoces pedidos de aposentadoria. A indústria, que foi grande contratante no passado, orgulha-se por despedir.
Não é fácil, mas não me deixo apanhar nas redes do pessimismo. O País é grande e forte. Será capaz de resistir à devastação provocada por quatro governos petistas, e se recuperar. O povo generoso, bom e trabalhador precisa, entretanto, aprender a fazer as escolhas, para não reincidir nos erros do passado. As eleições de 2018 se aproximam. A ausência de lideranças de amplitude nacional é fato incontroverso. Deveremos nos haver com o que aí está. Esperamos que os dirigentes partidários tenham consciência das altas responsabilidades na indicação de alguém que se encontre em condições de presidir o Brasil. A tarefa de reconstrução, que talvez demore 10 anos, mal começou. Não pode ser interrompida por demagogo alucinado.
Feliz 2017 a todos nós. Carinhoso abraço.
*Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.