*Clébio Luiz
Hoje é o quarto dia sem o convívio com aquela que foi muito importante e fundamental em minha vida: minha mãe! Infelizmente, ela faleceu no último sábado (5 de agosto). Após o sepultamento ouvi de um colega a seguinte frase: “Foi um dos poucos enterros que vi em que não presenciei gritos ou ameaça de desmaios”. Eu disse ao colega que fizemos (eu, meu irmão e minhas duas irmãs) o melhor por ela em vida, durante toda sua existência. Por isso, estamos com a consciência tranquila de que ela partiu serena e sabendo que cumpriu sua missão aqui na Terra.
Nordestina arretada (Ela batia no peito e dizia: sou paraibana com muito orgulho!), dona Francisca (como era chamada carinhosamente pelos vizinhos) soube criar os cinco filhos dentro de um cenário de dificuldade. Por muitos anos andava mais de um quilômetro até à estação ferroviária para pegar um trem que a levaria ao centro da cidade. De lá, mais um ônibus até ao trabalho, no Rio Comprido.
Mãe zelosa, caridosa e FRANCISCANA (tal qual o nome diz) sempre se preocupou com o próximo, independente do grau de parentesco ou não. Viveu intensamente seus 82 anos trabalhando e quase sempre distribuindo bondade e ajudando os necessitados. Era comum minha mãe comprar ovos, pães, frutas e outros gêneros alimentícios e distribuir com os mais necessitados da rua onde morou durante 47 anos. Tudo isso sem pedir nada em troca e sem nenhum alarde. Tinha carinho pelos filhos, netos, sobrinhos, bisnetos e por todos que a cercavam.
Sincera, franca…gostava de dizer que falava tudo na cara o que sentia sem nenhum rodeio. E falar era com ela mesmo! Adorava andar (bater perna, como ela dizia) e não se contentava, apesar da idade, de ficar em casa se lamentando da vida. Nunca vi minha mãe se lamentando de nada. Dinheiro para ela era necessário, mas não era o pilar de sua vida, cuja principal virtude era a generosidade.
Partiu e vai deixar saudade! Mas eu e meus irmãos deitamos e dormimos com a consciência tranquila, pois sempre a respeitamos ao longo da vida. Portanto, aquela história de que faremos tudo na doença para nos redimirmos do que fizemos de ruim com ela, não serve para nós.
Frasista nata (Quem tem com o que me pagar, a mim não me deve nada; Esse povo quer dinheiro, mas não sou banco…) era sempre animada, Eu gostava de a provocar para arrancar boas gargalhadas. Serena até nos últimos dias, mostrou que sua honestidade era preciosa. Já no fim da vida, com a voz fraca, cansou de me recomendar para pagar as contas e não deixar atrasar nada. Essa era dona Francisca: uma mulher honesta, íntegra e bondosa!
Se fosse ficar falando da minha mãe aqui eu ficaria séculos. Mas onde ela estiver estará sempre olhando por nós sabendo sempre que a árvore que ela plantou deu bons frutos. Sempre digo às pessoas mais chegadas: sou o que sou, agradeço à minha mãe. Sem ela a caminhada seria muito pior. O sonho dela era ter um filho formado e para isso não mediu esforços (hoje somos dois, eu e minha irmã). Ouso dizer que até com pouquíssimo dinheiro ela ficou para ver seu desejo se concretizar. E isso não tem preço!
Quem foi ao sepultamento viu o quanto ela era querida, pois o hall do cemitério estava lotado! Agradeço a todos que compartilharam comigo essa dor Tranquilizo a todos (Não é Aninha, que ligou para a minha filha dizendo que estava muito preocupada como eu reagiria à morte da minha mãe) dizendo que sinto muita falta dela, mas de cabeça erguida e consciência tranquila de que exerci bem o meu papel de filho.
E se pudesse escolher (em uma outra possível vida) escolheria voltar como filho dela de novo, sem mudar uma vírgula, pois as dificuldades serviram para o nosso crescimento.
Como diz a oração de São Francisco de Assis… ”É morrendo que se vive para a vida eterna!” E minha mãe será sempre eterna!
*Clébio Luiz é jornalista, ex-repórter, subeditor e editor-substituto do Jornal de Hoje. Depoimento-homenagem publicado originalmente no Facebook dele em 8 de agosto de 2017.