*Carlos B. González Pecotche
Vamos nos referir a certa prédica de raízes milenares: o “descanso eterno” que deve ser desejado para todo o espírito que abandona este mundo. Formularemos, antes, três indagações em nome da sensatez e da lógica.
Há alguém que num período de vida física – efêmero em relação à infinidade do tempo cósmico – tenha trabalhado tanto, a ponto de fazer credor de semelhante ócio?
Que espírito evoluído consentiria recolher-se em si mesmo, numa perene folgança, enquanto tantas almas humanas, a quem ele poderia ajudar, sofrem no mundo?
Quem pode aspirar ao descanso eterno, sabendo que seu espírito deve continuar a evolução pré-fixada pela lei?
Ficaremos agradecidos se nos desejarem uma eterna atividade, pois atividade é energia, e a energia é o motor que impulsiona a existência em qualquer de suas manifestações. Descanso eterno é, pelo contrário, imobilidade, é a segunda morte, o caos, o nada. Enquanto a atividade amplia a vida, a inércia a comprime, com risco de faze-la desaparecer.
Infere-se do exposto que, impensadamente, será um mau pensamento o que se terá para com aquele a quem se deseja um “descanso eterno”.
>> Nem a vida, nem na pós-vida, um descanso prolongado não convém a ninguém –
Cada ser humano que se preze como tal na mais elevada expressão de seu significado, deve intuir que sua criação obedece a uma finalidade superior e que, portanto, não pode limitar sua vida à rotineira e simples tarefa de viver e morrer sob o influxo de uma concepção materialista que nada lhe concede fora das prerrogativas comuns de um mero existir diário. Sua ocupação fundamental, isto é, a que leva a cabo fora de suas obrigações de ordem física ou material, deve ser concretizada em vivências altamente construtivas para sua evolução. Como? Interessando-se vivamente pela condução consciente da vida em direção a um destino que transcenda completamente o comum. A logosofia satisfaz plenamente essa aspiração e leva cada indivíduo a penetrar profundamente nos mistérios da própria existência.
Assim, adquire-se a certeza que nem na vida, nem na pós-vida, um descanso prolongado não convém a ninguém. A inércia desintegra a matéria, prevalecendo a mesma lei para o espírito individual.
Deus não pode alentar vida naquelas almas que contrariam a grande lei de evolução, a qual enche de energia o Universo e é atividade permanente. Convém tomar gosto pela atividade, neste caso a atividade consciente, já que nos estamos referindo à que preferentemente interessa ao espírito. Essa atividade é a que nos faz experimentar o fluir constante da vida, pois promove seu enlace com a energia da Criação, esse alento imperceptível, fecundo, que dá estabilidade a tudo quanto existe.
Quando o espírito se sustenta com os elementos sempre ativos do eterno, faz-se invulnerável à ação do tempo, que jamais afeta o que permanece ativo, com vida, unido ao alento da vida universal.
*Autor da Logosofia – Carlos B. González Pecotche – www.logosofia.org.br