*Álvaro Junior
O atual cenário político brasileiro tende a potencializar o posicionamento de grupos ideológicos e fazer com que as pessoas, de uma forma geral, se aproximem de posições políticas bem delineadas, influenciadas pelas objetivas disputas que se apresentam no espectro político. Pode-se dizer que tais disputas têm sua síntese no processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff, claramente orquestrado por setores conservadores e de oposição ao projeto eleito, tendo a pretensão de impor ao país um projeto político derrotado eleitoralmente e, assim, modificar o centro de poder. Nesse contexto, a acusação imputada à presidente Dilma de ter cometido crime de responsabilidade fiscal mostra-se mero artifício, produzido para dar ares de legalidade a uma ação essencialmente ilegítima. Esse é o cenário que deixa mais clara e objetiva a disputa entre a esquerda e a direita no atual momento político.
Olhando especificamente para o campo da esquerda e tendo como recorte temporal e geográfico a última década em Petrópolis, a atual configuração política chama atenção para a seguinte indagação: como se comporta a esquerda petropolitana diante da polarização observada e qual o papel que o Partido dos Trabalhadores, enquanto maior organização da esquerda em escala nacional e que governa o país há treze anos, tem nessa recente evolução? Para que se responda tal pergunta é preciso ter em mente que a posição política conservadora é predominante em Petrópolis, apesar de, historicamente, tal posição sofrer antagonismo de uma fração progressista na cidade. Outra característica que deve ser considerada é a dificuldade que a esquerda local tem em se unir, mais do que em escala nacional.
Observadas as condições descritas, é possível perceber que a esquerda petropolitana vive um momento positivo, em que a polarização da disputa ideológica instiga uma dinâmica de maior interação com a população e faz frente de forma mais enérgica à posição conservadora, predominante no município. Nessa perspectiva, uma característica que deve ser ressaltada é o protagonismo das camadas mais jovens. Mais do que isso, a existência de um processo em curso de rejuvenescimento dos grupos de esquerda na cidade, que fica visível, principalmente, nos partidos políticos desse campo, na medida em que grupos jovens passam a fazer frente a direções desgastadas e obtém sucesso, dando maior vigor e reformulando a atuação desses partidos. Além disso, o atual ambiente político vem propiciando maior unidade entre a esquerda, aglutinando esses grupos em torno de pautas populares importantes, tanto nacionais quanto pautas regionais e locais.
Apesar da atual conjuntura política contribuir para o importante momento da esquerda em Petrópolis, a boa fase não é resultado instantâneo dessa condição. Ela vem de um processo recente de reorganização dessa esquerda, no qual o Partido dos Trabalhadores de Petrópolis tem uma contribuição extremamente interessante. O partido governou a cidade de 2008 a 2012, quando o então prefeito Paulo Mustrangi não consegue a reeleição. No período em que esteve no poder, o PT Petrópolis sofreu com um desgaste interno muito grande, fruto do descolamento entre o governo e o partido e do abandono de bandeiras históricas da esquerda por parte do ex-prefeito. Em 2013, ano de eleições internas do Partido dos Trabalhadores, o cenário a nível municipal era de um partido internamente fragmentado, com um forte clima de ressentimento e que ainda amargava a derrota de 2012. Nesse momento, a hegemonia de longa data do grupo que até então dirigia a legenda, e tinha levado ao seu ponto de esgotamento na cidade, é confrontado pelo núcleo de juventude. Desta forma, um grupo de filiados jovens se apresenta como uma opção de mudança dos rumos do partido na cidade, sob a liderança do então secretário de juventude, Yuri Moura, após quase ter sido eleito vereador pela legenda ao atingir 1.241 votos.
A possibilidade de mudança do status quo une o grupo oriundo da juventude e militantes históricos do partido em uma chapa de oposição, fazendo com que Yuri Moura fosse eleito o presidente partidário mais jovem da cidade e a maior parte da direção fosse renovada. Temos então um ponto de inflexão nos rumos recentes do PT na cidade. A nova direção reanima o partido e inicia uma fase de grande interação com a sociedade, retomando um PT orgânico onde a discussão política passa a sobrepor a discussão eleitoral. Tal mudança acaba por reverberar na evolução recente da esquerda petropolitana. A inflexão na postura do partido o posicionou como um importante articulador e aglutinador entre diversos grupos e coletivos de esquerda e cativou um movimento mais amplo de reorganização do campo popular na cidade, através do que pode ser chamado de um ciclo virtuoso iniciado com a mudança petista. Dentre os episódios onde essa configuração fica evidente, cito o processo de criação da Comissão Municipal da Verdade, a luta pela criação de um Conselho Municipal de Combate à Discriminação LGBT, as manifestações recentes contra o aumento da tarifa de ônibus na cidade, que desaguou na ocupação unificada da sede da prefeitura, as eleições de 2014 e o processo de construção política da Frente Brasil Popular – Petrópolis.
Finalmente, cabe destacar que 2016 é ano de eleições municipais e o bom momento da esquerda na cidade pode gerar uma contribuição interessante para a qualificação do debate político e até mesmo para os rumos que a disputa majoritária irá tomar. Apesar de apenas o PT, no campo da esquerda, ter lançado oficialmente pré-candidatura à prefeitura até agora, o nome de Yuri Moura, observa-se a abertura do diretório petista para discutir apoio a possíveis candidatos do PSOL, PCB e PCdoB. Finalmente, é essencial que os grupos de esquerda da cidade deem continuidade ao processo de reorganização observado, combatendo fisiologismos, defendendo pautas revolucionárias, buscando maior unidade e tendo a consciência de que o movimento precisa chegar de fato ao trabalhador, bombardeado diariamente pela ofensiva conservadora, tanto em escala local quanto nacional.
*Álvaro Junior é secretário geral do PT de Petrópolis e Economista