*Paulo Crepaldi
Talvez você seja apaixonado pelo nosso futebol, talvez seja um executivo ou até mesmo colaborador de um clube ou federação. De qualquer forma, em algum momento já deve ter ouvido falar sobre a necessidade de mudança no futebol brasileiro. Mas, será que a palavra mudança é realmente empregada e pensada da maneira correta por quem está no centro das decisões? Pesquisas realizadas pela McKinsey e IBM, com diversos CEOs, mostram que quase 70% dos esforços para “mudança” falham, sendo que metade das prioridades desses gestores está relacionada a essa questão. A nível corporativo, inovar e lidar com mudanças são grandes dificuldades. Imagine, então, quando o assunto é futebol, onde não só metas reinam e há espaço para sentimentos como a paixão. O futebol sofre hoje com o que as empresas lidam desde o pós-Segunda Guerra Mundial: a globalização do mercado, a expatriação de executivos e a padronização de processos. Muitos campeonatos europeus ganhararam importância na grade de programação, jogadores deixam nossos clubes e os clubes internacionais profissionalizam cada vez mais suas gestões. Acredito que possa haver o futuro organizacional no futebol nacional: um alinhamento cada vez mais profundo das melhores práticas de empresas dentro dos clubes. Staffs Menores e Globais —Ultimamente, tem sido normal ver técnicos brasileiros optarem por outros países para estudar. Este tipo de atitude deveria ser abraçada pelos clubes também. Buscar as melhores práticas em outros países e, claro, contar com estrangeiros, não necessariamente em posições de poder, e sim no back office, não é um erro. Empresas buscam talentos e os retêm assim, dando maiores oportunidades e criando “treinamentos empresariais”. Maior Conexão —Os clubes precisam de processos interligados por tecnologia. Aqueles que ainda mandam e desmandam conforme o “vento” sofrerão muito. Escutamos falar de centros de treinamento, médicos apoiados pelas últimas tecnologias, mas e os processos internos, como comunicação com técnico, jogadores e diretoria? Como é avisado o período de férias? Qual é o planejamento extra-campo? Como os processos são verificados e utilizados? Qual o “link” entre jogadores, técnicos, colaboradores, diretores e torcedores? Como o clube-empresa se comunica como unidade? Adaptar-se a rápidas mudanças —Seguir bons modelos tardiamente não é a solução nos negócios, muito menos no futebol. De que adianta querermos seguir as escolas alemã e espanhola apenas depois que elas ganharam a Copa do Mundo. Decisões precisam ser tomadas com maior rapidez, a nível comportamental. Devem existir processos auditáveis dentro do próprio clube e não apenas do clube pra fora, para as entidades. Estrutura Plana —Hierarquias e mais hierarquias. Quanto maior a burocracia, menor será o número de colaboração. As como criar blog empresas pararam de se importar apenas com resultados de curto prazo, e sim almejam o sucesso como organização. Hoje, os clubes focam em metas de curto prazo, como vitórias e títulos, e não em sua saúde como todo, ou seja, como ele é visto pelos torcedores, o número de camisas vendidas, a estruturação de um plano associativo, entre outros fatores. Focando apenas em metas curtas, posicionamos os jogadores como administradores do clube. Se eles não vencem em campo, a meta não é batida, a conta não fecha. O clube precisa desenvolver um sentimento de eqüidade entre os seus colaboradores no qual o sucesso será obtido a partir de um ambiente no qual todos os colaboradores, e não só jogadores, sonham juntos. Padronização do futebol—Você deve conhecer o ISO, ou pelo menos já escutou o termo. Alguns devem recordar a dor de cabeça que dá se preparar para o dia de uma auditoria. Se isso alinha tudo para que funcione da melhor forma possível, por que o futebol não implanta tal sistema? Somos obrigados a seguir determinados padrões se quisermos oferecer um serviço para nossos clientes. No futebol não é diferente. Se quiser gerir de forma eficiente um clube, então você precisará preencher alguns pré-requisitos básicos, como: categorias de base estruturadas, processos estabelecidos, carga horária de treinos e profissionais especialistas, entre eles técnicos, fisioterapeutas e psicólogos. Chega de futebol sete a um —Hoje, grandes blocos de organizações brigam para diferenciar seus commodities e, infelizmente, nosso futebol se tornou a maior commodity sem diferenciação de todas. O Campeonato Brasileiro é transmitido apenas em âmbito nacional e pouco vale para outros países. Sabemos bem que o oposto não ocorre, pois pagamos muito para ver campeonatos internacionais. Temos mais orgulho em andar com a camisa do Barcelona do que ir aos estádios para ver nossos clubes. Não podemos deixar que num futuro próximo, nosso futebol seja mencionado como algo que foi grandioso há tempos. Hoje temos bons motivos para falar de Garrincha, Leônidas e Ronaldo. Será que os ídolos de hoje terão fôlego para serem lembrados daqui 50 anos? É preciso pensar o futebol como uma empresa que precisa se importar mais com prosperidade do que lucro propriamente. Chega de futebol sete a um. Queremos mais organização e modernidade para os nossos clubes, melhores condições para os nossos torcedores. O futebol brasileiro precisa ser internacional e não apenas o refúgio de jogadores internacionais em final de carreira.
*Paulo Crepaldi, 33, é especialista em Neuromarketing e Situational Leadership. Atualmente, é sócio e Diretor Executivo da ING Marketing & Training – empresa pioneira na implementação do conceito Behavior Designer no Brasil.