O São Francisco não mais “vai bater no meio do mar”

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*Aloísio Alves

O Rio São Francisco de tantas lendas e histórias, fonte de sobrevivência de milhares e milhares de famílias ribeirinhas, agora agoniza. Enquanto o governo só fala em transposição, esquece que o “Velho Chico” está desidratado, maltratado, precisando de investimentos urgentes pela sua recuperação. O espetáculo das águas já não existe mais. As belas canoas de tolda com suas velas gigantes levadas pelo vento, já não fazem parte do cenário das cidades por ele banhadas. Os pescadores se emocionam ao olharem para baixo e só verem lama e pedaços de madeira despejados pela correnteza das antigas cheias. O apito do pomposo navio Comendador Peixoto, o vai e vem das lanchas Tupy e Tupigy, há muito ficaram para trás. Apenas fotos em preto e branco são lembranças de que um dia o São Francisco foi o majestoso rio da unidade nacional. Vários trechos se transformaram em imensos bancos de areia, completamente assoreados, impróprios para navegação. Os mais antigos relembram com saudade as lendas que fizeram parte da história como a do “Caboclo D’água”, que vivia sob as águas e diziam ser forte, moreno e até bonitão para uns, horrível para outros. Tinha um olho no meio da testa e se divertia ao fazer batuques nas coxias das embarcações. A Uirara, considerada a deusa do rio pela sua beleza, cantava e encantava à luz da lua cheia. Membro do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e especialista em gestão de recursos hídricos, Luiz Dourado, em recente visita ao Pajeú, disse em entrevista que a perspectiva do rio morrer em 50 anos como afirmam alguns, é uma previsão muito otimista. “Caso não haja um plano de ação emergencial, morrerá muito antes”. Ele o comparou a um paciente de UTI, que precisa de cuidados especiais, mas, ao contrário, estão tirando seu sangue gradativamente. É o rio que mais perdeu volume de água nas Américas, estimando-se que nos últimos 20 anos essa perda atingiu o espantoso percentual de 40%. Em Alagoas, estudiosos da matéria falam com tristeza da situação do “Velho Chico” e afirmam que só construindo uma barragem de contenção, na garganta da foz, e outra a montante, à altura de Propriá, com eclusas para passagem de embarcações e para o sangradouro das águas após atingir o seu nível normal salvará de perder o baixo São Francisco. “Apesar da Chesf negar isso, trabalhamos no baixo rio com um deflúvio (vazão) de 550m³/s, menos de 1/6 antes da existência de Xingó. Uma coisa é a situação do médio, outra coisa é a do baixo São Francisco”, confirmam os técnicos. Nunca é demais lembrar que o rio morre pela foz! É assustador acreditar que 3.500 nascentes morreram ou estão em vias de morrer, deixando de abastecer o rio. Contrariando o que cantou o Luiz Gonzaga na canção Riacho do Navio, o São Francisco não mais “vai bater no meio do mar”.
*Aloísio Alves é publicitário e membro da Apalca.

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