*Carlos B. González Pecotche
Lamentavam-se, certa vez, um perneta e um maneta. Dizia o primeiro que, se tivesse as duas pernas, seria o melhor corredor do mundo; o segundo, por sua parte, faria muitas coisas se tivesse os dois braços. Ouvindo-os um terceiro, propos a cada um fazer o que o outro pensava.
O perneta, depois de tê-lo escutado disse, dirigindo-se ao maneta: – Você quer fazer muitas coisas com as duas mãos; tantas, que nem mesmo aqueles que as têm as fizeram, e muito menos eu.
O maneta respondeu também, dizendo ao perneta: – Penso que tampouco eu poderia correr a tanta velocidade como você diz; além do mais, para que serviria? Se os que têm pernas muito poucas vezes correm, pois pareceriam uns doidos se todos se pusessem a correr.
O terceiro, advertindo que as reflexões eram boas, observou: – Vejo que os dois estão perdendo o tempo ao pensar no que não poderiam fazer mesmo que nada lhes faltasse; por outro lado, esquecem que possuem uma mente, a qual podem cultivar e, por esse meio, fazer depois uma boa colheita em obras de inteligência.
– É verdade – respondeu os que tinham estado se queixando de seus males -, a mente pode suprir nossas deficiências físicas.
– Está bem, mas não corra muito com a imaginação porque tropeçará freqüentemente – replicou o terceiro ao perneta. – E você – disse, dirigindo-se ao maneta -, não pretenda tocar muitas coisas com seu entendimento, porque estará exposto a perder o tato. Fazer com moderação e prudência o que cada um se propuser, eis aí a melhor forma de se manter erguido sem que o peso dos erros encurve o corpo e as coisas se tornem difíceis de conseguir.
É costume, no sentir comum das pessoas, pensar no que fariam com aquilo que lhes falta, deixando de fazer muitas coisas com o que realmente se tem.
*Carlos B. González Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br – Tel.: (21) 27679713