Célio Junger Vidaurre
Jamais se viu oportunidade melhor para parodiar o clássico poema de Fernando Pessoa no sentido de classificar os políticos atuais como uns autênticos fingidores, na sua maioria.Os caras fingem tanto, tão completamente, a ponto de fingirem que são verdades as mentiras que deveras proferem em suas declarações, atuações, depoimentos e campanhas. Com exceção, claro, do “ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva que, jamais mentiu e nunca antes neste país existiu alguém mais honesto do que ele”. Pasmem!
Para complementar o raciocínio sobre o tema, torna-se fácil fazer uma adaptação para a política de outro poema célebre “Poeta Fingidor”, de Zena Maciel:“Não acredito nos políticos! São como os falsos profetas. Adoçam a vida com o mel e beijam o sorriso com o escárnio do fel. Jogam palavras ao vento. Viajam pelo país como arautos do bem-estar social para mascarar sua própria iniqüidade! Amam o amor com a efemeridade da flor! Um anjo sedutor! Adornam a política com letras doces de magia que encantam a alma do crédulo eleitor. Usam a promessa para vender ilusão e semear vantagens pessoais. Bebem na boca do falso altruísmo. Pintam um país tão próspero como um jardim de sonhos com um futuro promissor! Escrevem leis e tomam decisões. Fingem que são suas as dores do povo, mas são simples traidores. Seus redutos são um grande harém. Amam a todos. No fundo não amam ninguém e fazem do poder o que bem lhes convêm. Não importa se estão a ferir outrem”.
Não precisamos criar textos novos, os do passado trazem os sentimentos que se encaixam perfeitamente aos dias de hoje. O retrato atual do político brasileiro mostra que fingimos ser uma potência emergente e que estamos longe do desenvolvimento. A nossa realidade está escondida em favelas esfomeadas e desempregados, aposentados judiados, escolas sem professores e merendas, hospitais sem médicos, leitos e medicamentos, esgotos e lixões a céu aberto, infra-estrutura sucateada e obsoleta, direitos humanos esquecidos, meio ambiente abandonado, justiça social sonegada, segurança pública falaciosa e uma classe política oportunista com governantes dominados pela amnésia do poder.
Desde o fim do século XIX Ruy Barbosa já previa e escreveu o poema “Mentira”:“Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra, no ar, no céu. Mentira nos protestos. Mentira nas promessas. Mentira nos progressos. Mentira nos projetos. Mentira nas reformas. Mentira nas convicções. Mentira nas soluções. Mentira nos homens, nos atos e nas coisas. Mentira no rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações e nos blocos. Mentira nas instituições, mentira nas eleições. Mentira nas apurações. Mentira nas mensagens. Mentira nos relatórios. Mentira nos inquéritos. Mentira nos concursos. Mentira nas embaixadas. Mentira nas candidaturas. Mentira nas garantias. Mentira nas responsabilidades. Mentira nos desmentidos. A mentira geral. O monopólio da mentira”.
Isso tudo mostra a intemporalidade do pensamento sobre a ligação entre a mentira, o fingimento e a política. Portanto, devemos ficar atentos para não continuarmos fingindo que votamos, senão seremos os verdadeiros fingidores, objetos de manipulação por parte daqueles que costumam usar o expediente da mentira para enganar eternamente o povo. Eles fingem que legislam e governam e nós fingimos que acreditamos, mas, continuamos a pagar os tributos, sem qualquer fingimento.
Quem finge mais: Lula, Maluf, Cunha ou Picciani?
Célio Junger Vidaurre é advogado e cronista político. Publica seus artigos em 11 jornais diários e 16 semanários, do RJ.