*José Maria Couto Moreira
A marcha da civilização é historicamente avassaladora, e nada detém a volúpia do homem rumo ao futuro e à expansão das fronteiras do conhecimento. A superior determinação da multiplicação dos homens compõe o destino da terra. O avanço em todos os setores da atividade sobre o planeta traz os seus ganhos à humanidade, causando, outrossim, como resultado de seus esforços e dos riscos a eles inerentes, fenômenos indesejáveis no curso da evolução social e tecnológica. Na idade da pedra, o homem aparelhou-se e defendeu-se com as próprias pedras. Com a descoberta da pólvora, igualmente, o homem tanto matou como morreu em virtude daquela mistura sinistra. Mais além, o impulso dos homens pelas conquistas territoriais foi sucessivamente criando e aperfeiçoando artefatos para o êxito na eliminação dos contrários, até que, no século passado, em nome da melhor conduta dos homens frente a seus apontados inimigos, invocando princípios de sobrevivência, supostamente ameaçados, o homem dizimou, em dois terríveis e inesquecíveis episódios atômicos mais de trezentos mil inocentes, uma gente que esperava muito mais viver do que morrer.
E é assim que caminha a humanidade. A cada dia o homem se prepara para não sucumbir, alertado pela lição profética do romano: se queres a paz, prepara-te para a guerra. E como tentativa para afastar povos e nações belicosas em proveito da paz mundial é que surgiu a Organização das Nações Unidas, organismo que, por vezes, as nações desconhecem sua autoridade para cometer seus desatinos. Contudo, há de se reconhecê-la como um contrapeso poderoso nos instantes da cólera ou dos interesses insatisfeitos das nações. É um ensaio da tolerância zero no concerto universal.
Na ordem mundial, a recalcitrância e a contumácia dos homens obriga a que se construam novas defesas contra esses. Os países, a cada dia, aperfeiçoam sua legislação e os recursos de enfrentamento, a esperar que os violentos e os maus se contenham diante da repressão eficaz. É o que precisamos no Brasil. Na ordem interna, se os poderes públicos municipal e estadual, com apoio da União, adotarem o modelo vitoriosamente implementado pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliano, iríamos obter os mesmos resultados que os novaiorquinos obtiveram. Não podemos mais assistir passivamente à violência, a crimes hediondos e à degradação das cidades onde vivemos. O que hoje ocorre neste país é a notória banalização dos crimes e infrações penais, e os cidadãos, atemorizados, reféns em suas próprias casas, assistem com medo a afrontas e ataques dos homens do mal, e nossos centros de convivência vão se degenerando em face de sucessivas ocorrências violentas que o governo não consegue conter. É imperioso que as autoridades ajam de imediato com todo o empenho. A tolerância zero, de todo recomendável, irá não apenas evitar males que se propagam, e o Estado se realizará com a ordem, a segurança e o conforto pessoal que todos merecemos. Falta vontade política para a implementação de uma política de segurança que adote uma logística de tolerância zero. Enquanto isso, a população, desmuniciada, segue evitando encontrar-se com o inimigo sem saber qual é.
*José Maria Couto Moreira é advogado.