Toninho Drummond

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*Eduardo Simbalista

Toninho trocava de meias sem tirar os sapatos, mas não era por esperteza: era por delicadeza. Habilidoso, circulava pelos palácios sem ser muito notado. Entre os importantes, dava-se pouca importância. Entre os poderosos, era ouvido confiável. Da sua boca não escapava um segredo, grande ou pequeno, nem comentário vulgar. Quando abria a boca, era para um conselho sábio.
Acostumado aos meandros maquiavélicos dos porões, sabia separar os ratos dos homens, mas não deixava os ratos perceberem que era um gato atento. Testemunha dos altos e baixos do poder, ao vai e vem das ambições, ao entra e sai dos puxa sacos nos gabinetes, lançava sua rede de informações em todos os níveis, guardando sempre um sorriso amável para os menos poderosos: os prestimosos funcionários que sabem tudo o que se passa nas repartições.
Experiente, sabia que não há vácuo de poder nessa gangorra de ilusões, mas era nesse vazio indefinível e enigmático que Toninho equilibrava-se, sempre atento. Para nós da planície, era o guardião da montanha, o sábio mineiro.
Gostava de causos, sobretudo dos que escondiam a sagacidade dos que aparentemente são menos sagazes. Sobre as falsas aparências da vida, contava a história do técnico de futebol de Araxá, decepcionado ao saber que, para ganhar na loteria esportiva, não precisava prever o placar, bastava indicar o provável vencedor ou o empate. Ou aquela sobre as trapaças da vida, em que se cruzaram no restaurante do Hotel Nacional, o diplomata e banqueiro Walter Moreira Salles e o garçom Walter, nascido no mesmo dia, no mesmo hospital da mesma cidade do sul de Minas… Ou a das falsas impressões, quando o cinegrafista Careca foi chamado ao cruzar o corredor do Palácio do Planalto e topar com o general Hugo Abreu.
Como bom “coach”, tinha faro para os melhores talentos. Com o carinho e a paciência do jornalista que já vira de tudo um pouco, Toninho só se mostrava intolerante com a burrice e com a teimosia. Mas, mesmo assim, não levantava a voz. Jornalista tinha de ser inteligente e persistente, sem empacar. Um passo de cada vez, sempre perguntando por quê.
Articulava soluções sem palavras: jornalista da velha escola, escrevia pouco para não revelar os segredos que sabia. Importante, para ele, era o outro. E, voltado para os outros, não tinha gosto de cuidar de si mesmo.
Mentor de muitos, mesmo ausente, Toninho é presença.

*Eduardo Simbalista é jornalista.

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