*Carlos B. González Pecotche
Existe em quase todos os seres humanos, mais acentuada em uns do que em outros, uma deficiência do mecanismo mental que costuma ser causa de muitos sofrimentos, ao interromper e dificultar o desenvolvimento normal da vida. Essa deficiência é o esquecimento.
Para a logosofia, o esquecimento é uma espécie de morte daquilo que antes teve vida no cenário das recordações. Enquanto todo instante passado estiver presente na mente, a existência mantém-se conectada a tudo o que pertence ao mundo de seus pensamentos e afetos.
Quantas vezes o esquecimento obriga a reeditar fatos e experiências à custa de novos esforços e preocupações! Em toda aprendizagem, seja da índole que for, ele constitui a dificuldade maior com que tropeça aquele que aprende.
Quanto ao esquecimento do bem recebido, isto leva o ser à ingratidão e, naturalmente, costuma fechar-lhe muitas portas, que ele não vai encontrar abertas quando, recorrendo à recordação, voltar a bater nelas.
O esquecimento também diminui a autoridade das pessoas e chega até a desconceituá-las perante seus semelhantes; é o caso dos que esquecem suas promessas ou, simplesmente, suas palavras, sendo que estas foram pronunciadas em determinadas circunstâncias para inspirar confiança e fazer com que merecessem todo o crédito possível. O esquecimento, nestes casos, costuma extraviar os seres numa série de confusões, pois que, não tendo o bom cuidado de guardar com fidelidade o exposto ou feito em tal ou qual ocasião, expõem-se ao perigo de parecerem falsear os fatos ou as palavras, o que quase sempre dá lugar a que toda a atuação posterior seja vista pelos demais com prevenção, ao ser considerada como falta de veracidade.
Os esquecidos costumam matar o tempo. Também se poderia dizer que matam parte da vida, porque os trechos que percorrem e que, por esquecê-los, devem voltar a percorrer, são passagens da vida que eles repetem sem nenhuma utilidade, e, sendo assim, é lógico que o tempo utilizado em repeti-los seja vida que perdem e tempo que dificilmente recuperam.
Definitivamente, o esquecimento é um eclipse temporário da consciência, que pode se tornar permanente, em tal caso, ter reflexos sobre a vida de hoje e de amanhã.
*Carlos B. González Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br