
Foto: Davi Boechat
O avanço da ciência trás consigo a catalogação de ideias e conceitos absolutamente antigos e conhecidos pelo senso comum que, muitas vezes, passam a ganhar atenção e possíveis resoluções com a força dos estudos acadêmicos.
Um termo relativamente novo (foi concebido em 1985, fruto de estudos do psiquiatra americano Richard A. Gardner) está colocando em xeque e redefinindo uma série de práticas culturais comuns referentes à relação entre pais e filhos.
A Síndrome de Alienação Parental (SAP) consiste na prática constante de um genitor, em um jogo perverso, de anular a autoridade, caráter e até mesmo, em casos extremados, o contato com os filhos com outro par. No centro da ‘disputa’ estão as crianças, que privadas de receber a atenção do pai ou da mãe, crescem objetos de uma competição motivada por razões alheias a sua vontade, desenvolvendo sentimentos de repúdio a um dos pais.
Regidos por uma legislação recente e sufocada pela jurisprudência e cultura, as vítimas se organizam em torno de grupos de apoio, como o Igualdade criado pelo ativista social Adriano Dias. Entrevistado dessa edição, ele afirma ter passado pelo problema, após uma separação conjugal.
Jornal de Hoje: O que é a Alienação Parental?
Adriano Dias: É a prática de um genitor romper os lanços com o outro genitor, o que causa consequências graves nos envolvidos, com ênfase nas crianças.
JH – Pode-se dizer que é um problema predominantemente feminino?
AD – Com ressalvas. É importante ter em vista que devido a guarda das crianças prevalece estando nas mãos de mulheres, que acabam sendo as praticantes mais frequentes da SAP. É importante que isso não seja confundido com uma questão de gênero.
JH – E isso é encarado dessa maneira pelas vítimas?
AD – Muitas vezes sim. Nos últimos dois anos em que estou envolvido com outras vítimas, ouvi muitas vezes frases como “Isso é coisa de mulher”. Nesses momentos era necessário discutir as causas, mostrando que o problema está além.
JH – É possível dizer que as separações são origem da SAP?
AD – Não. Basta que um dos pais queira se sobrepor, desqualificando o outro. Muitas vezes, o processo de pensão vira vingança. Consiste em criar um dano ao outro retirando dele o máximo de recursos possíveis. Existem casos de mães que pedem R$ 5 mil para crianças de dois anos, valor assustador para a realidade em que vivem.
JH – Você disse que o alienado realiza atos extremos para culpar o outro. Cite um exemplo.
AD – Há casos de mães que para forjar estupros que seriam praticados pelos pais, violam os genitais das crianças. Isso causa um enorme prejuízo, visto que os pais passam a ser investigados. Ser suspeito de estupro no Brasil é muito complicado.
JH – Quais são as possíveis consequências para crianças que passam pelo problema?
AD: Elas podem ter complexos de inferioridade, depressão e sentimento de culpa pela separação dos pais. Em longo prazo, o envolvimento com drogas e alcoolismo pode virar uma possibilidade.
JH – Você afirma ter experiência no caso. Como foi viver isso?
AD – Há dois anos, após uma separação, sofri com ameaças e extorsão da minha ex-esposa. Eu, ativista de direitos humanos, recebi oito denúncias de agressão apenas em uma delegacia. Nas redes sociais, foram enviadas inúmeras mensagens de ameaças anônimas. Mas nada é mais violento que ter os lanços afetivos rompidos. Fiquei meses sem ver meu filho.
por Davi Boechat (davi.boechat@jornalhoje.inf.br)