Lorenna, de oito anos, é uma menina surda, aluna da turma de Educação Especial do Ciep Municipalizado Constantino Reis, em Belford Roxo. Em linguagem de sinais, ela assegura que não gosta de usar aparelho auditivo. Segundo ela, o som incomoda e a comunicação em gestos é muito mais divertida. A declaração da menina aconteceu nesta quinta-feira (10/4) no primeiro dia de aula do curso de Libras, oferecido através da Secretaria Municipal de Educação (Semed) a todos os profissionais da rede municipal.
As aulas acontecem toda quinta-feira, na antiga sede da Semed, na Rua Manicoré, 125, Bairro São Bernardo. Terão duração de 12 semanas, em dois turnos, manhã e tarde. Cerca de 300 profissionais estão participando. “A necessidade do curso foi observada por nossa equipe pedagógica da Educação Especial. Nosso objetivo é promover a acessibilidade aos alunos surdos do município, bem como uma educação inclusiva linguisticamente, respeitando as metodologias para surdos, como determina o decreto 5626/05 que regulamenta a lei 10.436/02”, disse a secretária municipal de Educação, Sheila Boechat.
‘Surdez não é problema para o surdo’
Professor universitário de História, Damião Silva é intérprete de Libras na Rede Municipal de Ensino. As aulas, que têm a duração de duas horas, são apresentadas por ele. “A surdez só é problema para quem não é surdo. O surdo sabe conviver com sua surdez muito bem”, assegura o professor.
Durante os três meses de aulas, professores, pedagogos, funcionários de apoio, assim como todos servidores das escolas municipais de Belford Roxo inscritos no curso, passarão por níveis de aprendizagem básico, intermediário e avançado. Segundo o professor, o suficiente para entrar na comunicação dos gestos e compartilhar o conhecimento em casa, com amigos, nos lugares de convivência. No final do curso, todos os participantes receberão certificado de participação.
Emoção com danças e canto
Com 20 anos de magistérios dedicados à Educação Especial, especializada para surdos, a Professora Taiza Batista emocionou os participantes com a apresentação de um pequeno grupo de seus alunos na abertura do curso. Meninos e meninas surdos dançaram e cantaram no movimento dos gestos de mãos, braços, harmonizando cintura, quadris e pescoços que bailaram de uma lado para o outro. Para a educadora, o ouvinte que aprende Libras dá oportunidade ao surdo de interagir, normalmente na sociedade.
A coreografia da apresentação foi ensaiada pela professora de Educação Física, Priscila Aguiar. “Eles amam se movimentar”, destacou. Quem também entrou no embalo foi o professor e pedagogo, Leandro Ribeiro de Melo Silva. Sua surdez não atrapalhou seus estudos em turmas inclusivas na infância até a conclusão de três pós- graduações em Educação. O profissional é um motivador da implantação do curso na rede municipal.
Oportunidades de aprender
Hugo Paiva, 15 anos, surdo desde a infância, aluno de Educação Especial do município, ensina libras aos colegas e torce para que todos tenham a oportunidade de aprender. A professora da Escola Municipal Geovana Vitória de Barros Firmino, Sara Mendonça, contou que tem uma noção sobre os sinais de Libra. “Aprendi um pouco na igreja. Trabalho com surdos e por não dominar os gestos, uso a comunicação alternativa com placas. Agora vou ficar com competência”. Já a educadora Maria Luiza do Nascimento Silva, disse: “É um curso muito importante para que tenhamos uma sociedade acessível a todos“, resumiu.