CEAM Meriti apresenta redução da violência contra mulheres

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Superintendência da Mulher, Gláucia Tavares, acolhe e acompanha as vítimas de violência, seja ela doméstica ou de qualquer outro tipo Foto:  Assimp Meriti / Gláucio Burle
Superintendência da Mulher, Gláucia Tavares, acolhe e acompanha as vítimas de violência, seja ela doméstica ou de qualquer outro tipo
Foto: Assimp Meriti / Gláucio Burle

Em um cenário com expressivo aumento da violência em todo o estado, em São João de Meriti as mulheres têm muito que comemorar. Segundo o Dossiê Mulher, do Instituto de Segurança Pública, quando analisados os números de 2015 em relação aos do ano anterior, verifica-se uma redução de 13,5% na prática de crimes contra as mulheres na cidade. A estatística considera registros de ocorrência realizados na 64ª DP (São João de Meriti).
No município, onde, devido a problemas de segurança pública, foi decretado estado de emergência no início do mês passado, a existência do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM) pode ser fator determinante para uma queda, nos últimos dois anos, de 50% nos casos de tentativa de homicídio, de 16,29% nos de estupro e de 15,75% nos de ameaça.
Prestes a completar três anos no dia 29 de julho, o centro, que já realizou mais de 5 mil atendimentos desde sua fundação, sendo 849 somente no último ano, conta com uma equipe composta por psicólogos, assistentes sociais e jurídicos, que acolhem e acompanham as mulheres vítimas de violência, seja ela doméstica ou de qualquer outro tipo.
Recentemente, o CEAM começou a tratar de casos emblemáticos: uma jovem que sofreu violência dentro da casa da sogra, uma vítima de racismo em seu trabalho e uma congolesa, que se encontra refugiada no município. Responsável pela Superintendência da Mulher – órgão vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Igualdade Racial –, Gláucia Tavares explica que o centro é referência para a mulher meritiense, pois ele é o local a que ela recorre quando não tem acesso a seus direitos.

‘Ouvi que meu cabelo não podia ser lavado’

Aos 24 anos, negra, magra e com o cabelo trançado, X é uma jovem formada em Contabilidade e moradora do município de São João de Meriti. Há 11 meses ela começou a trabalhar em uma multinacional em Botafogo, Zona Sul do Rio. Com o emprego, ela deveria ser motivo para sorrir. Mas é a tristeza que está estampada em seu semblante. Sua aparência não agradou colegas de trabalho, razão pela qual ela passou a ser vítima de racismo.
“Um pouco mais exaltado, um colega se aproximou e disse que meu cabelo era ridículo, que não podia ser lavado e que eu não devia deixá-lo crescer. Falou que, no comprimento que estava ainda passava, mas, caso ficasse maior, seria ridículo. Ele ficou repetindo isso e gargalhando durante muito tempo. A única coisa que consegui responder foi que meu cabelo não era impermeável e que eu conseguia lavá-lo sim”, relembra X, aos prantos.
Segundo a jovem, ao procurar sua gerente, a mesma a orientou a relatar o ocorrido ao departamento de Recursos Humanos. Contudo, mesmo após buscar ajuda no setor, ela continuou sendo hostilizada. “Após aquele episódio, no final de maio, um colega que senta ao meu lado gritou para eu não fazer tranças no fio do telefone, pois ele já não aguentava mais olhar para as tranças do cabelo do Y, um garoto de outro setor. Eu engoli aquilo a seco e continuei trabalhando, mas ele não se calou e passou a repetir diariamente a mesma fala. Novamente, fui ao RH. Lá, ouvi que aquilo não era racismo, que era uma imaturidade de menino e que eu tinha que aprender a lidar com este tipo de comportamento”, conta X.
Gláucia Tavares diz que, além de racismo, a jovem sofreu violência por ser mulher. “Ele a agrediu por achar que estava no direito de falar o que pensava e dizer a uma mulher como ela deveria se vestir, se parecer… A Lei Maria da Penha e a própria Constituição tratam dessa questão”, pontua a superintendente. Acolhida pelo município, a jovem está recebendo assistência psicossocial e apoio junto à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) de São João de Meriti.

‘Minha sogra jogou álcool contra meu corpo e ateou fogo’

Estatura baixa, corpo de menina, loira natural, fisionomia condizente com a idade: 18 anos. Antes mesmo de completar o Ensino Médio, o relacionamento ruim com os pais motivou Z a morar com o namorado que tinha acabado de conhecer na escola. Ela só não imaginava que a sogra, que no início a tratava como uma filha, iria mudar da água para o vinho.
“A partir do segundo ano, ela começou a me agredir, a me queimar, cortar meu cabelo. Ela não gostava do jeito como eu andava e me batia. Quando eu questionava o motivo, ela dizia que eram os santos que tinham mandado ela me bater, dizia que eles não gostavam das minhas atitudes”, revela Z, hoje com 20 anos.
“Meu namorado chegou a me defender uma vez, mas minha sogra o agrediu e nunca mais ele reagiu a meu favor. Nós não podíamos sair juntos. Eu tinha que ficar dentro de casa. Ela dava telefone de mulheres para ele e, quando ele estava na rua, minha sogra ligava e insinuava que ele estava com outras. Toda a nossa comunicação era controlada, seja por Facebook ou WhatsApp”, diz.
Após a sogra tentar atear fogo contra ela, Z resolveu buscar ajuda de sua família. “Ela aproveitou um dia que meu namorado não estava em casa, virou um vidro de álcool em cima de mim e acendeu o fósforo. Eu saí correndo pela rua e fui para a casa de minha mãe. A gente foi à DEAM e fez a denúncia”, explica. O caso foi encaminhado à Superintendência da Mulher, que acompanha a jovem com uma equipe de psicólogas.

Em um navio de carga, Ruth fugiu do Congo para o Brasil

Kalembra-Rian Ruth viajou da África para o Brasil com suas duas filhas, de 1 e 3 anos, em um navio de carga
Kalembra-Rian Ruth viajou da África para o Brasil com suas duas filhas, de 1 e 3 anos, em um navio de carga

Há quase cinco meses, Kalembra-Rian Ruth, 31 anos, tomou uma atitude que mudaria completamente o rumo de sua vida e o de suas duas filhas, Charon, de 1 ano, e Charlotte, de 3 anos. Com a ajuda de um pastor, ela conseguiu vaga em um navio de carga e fugiu do Congo, país que trava uma guerra com Ruanda, e veio para o Brasil.
“Decidi fugir, pois dezenas de pessoas estão sendo assassinadas diariamente em minha região e eu temia que isso acontecesse com minhas meninas. Meu marido, infelizmente, não pôde vir”, conta. Ela saiu da província de Katanga com apenas 300 dólares no bolso e embarcou em um navio de carga com destino ao Rio de Janeiro.
Ao chegar à capital fluminense, Ruth conheceu um jovem, também africano, que a ajudou a buscar ajuda. “Ele me levou para uma igreja. Lá, os membros me ajudaram a encontrar uma casa, que eu aluguei por cinco meses. Ganhei alguns móveis, fogão e geladeira. Hoje, minha maior preocupação é conseguir um emprego, pois tenho que deixar minha casa no próximo dia dez”, explica a congolesa, que já conseguiu vaga para suas filhas em creches da rede municipal de ensino. A família tem se alimentado com cestas básicas adquiridas pelo CEAM.

‘Temos que mostrar que elas não estão sozinhas’

Para a superintendente da Mulher Gláucia Tavares, o empoderamento da mulher deve ser feito de forma coletiva. “Temos que mostrar que elas não estão sozinhas. Nossa sociedade prega que as mulheres não são cidadãs. Neste sentido, o CEAM é importantíssimo, pois acolhe a mulher meritiense”, classifica.
Além de receberem orientações sobre pensão alimentícia, aposentadoria e INSS, na unidade, as mulheres são encaminhadas às secretarias de Saúde, Educação, Trabalho e Renda, a Superintendência da Melhor Idade, e, em determinados casos, à Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), Defensoria Pública e abrigos fora da Baixada Fluminense, neste último em casos de risco eminente de morte.
Instalado em uma casa bem feminina, colorida e acolhedora, o centro possui seis salas, brinquedoteca, copa/cozinha e banheiros, inclusive com acessibilidade para deficientes. A unidade está situada na Rua Defensor Público Zilmar Pinaud, 122, no bairro Jardim Meriti, em São João de Meriti.

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