Cemitérios mais vazios no dia de finados

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A maioria dos cemitérios da Baixada, como o municipal de Nova Iguaçu, registrou baixo movimento em relação aos anos anteriores
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

O dia 2 de novembro, que marca o feriado de Finados, já não mobiliza mais milhares de pessoas aos cemitérios. E também não registra mais aquela guerra comercial, pela disputa da venda de flores, coroas, velas e outras lembrancinhas. Pelo menos foi o que se observou na quinta-feira (2), nos oito cemitérios de Nova Iguaçu, Mesquita e Belford Roxo.
A explicação para o esvaziamento, segundo algumas pessoas ouvidas pela reportagem do Jornal de Hoje, é a religião. E as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Datafolha sustentam esse pensamento. Eles mostram que, nos últimos 10 anos, a população evangélica cresceu 61.45% no Brasil, enquanto o catolicismo perdeu 9 milhões de fiéis.
Na opinião de Juliana de Farias Ramos, 32 anos, a religião está influenciando no esvaziamento de visita aos cemitérios, nos dias de Finados, pelo seguinte motivo. “O povo era mais católico. Acendia vela e colocava flores nas sepulturas, acreditando que a alma do morto estava ali assistindo toda homenagem. E os evangélicos foram mostrando outro entendimento sobre o assunto. Acredito que, à medida que o número de evangélicos vai aumentando, os cemitérios vão ficando cada vez mais vazios nos dias de Finados”, detalha.
Já a comerciante Vera Lúcia Silva, 44 anos, tem outra opinião. “As pessoas estão mais ocupadas hoje, mais do que ontem. Preferem homenagear seus entes queridos todos os dias, em casa ou na igreja, nos dias de missa, como eu, sem a necessidade de ir aos cemitérios. Aproveitam o feriado para descansar”, avalia. O dinheiro também diminuiu. Nicolas Santos, 12 anos, passa o dia limpando sepulturas para ganhar gorjetas. “Até agora (15h30) só ganhei R$ 60,00”, mostra. “Antes já saí daqui com mais de R$ 1 mil no bolso. Hoje, só R$ 50”, interfere um coveiro.

Túmulos famosos com poucas visitas

Menino que limpava sepulturas lamentou a falta de ‘clientes’
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

José Carlos, 54 anos, dos quais 30 anos como funcionário do cemitério de Nova Iguaçu, confirma a queda do movimento e aponta o motivo. “Isso caiu muito e o motivo é esse aí”, diz, apontando para o grupo de evangélicos na porta de entrada e por todas as quadras do interior do cemitério. “Até a quadra 15, onde está a sepultura do Luisinho, que o pessoal dizia que o rapaz fazia milagre, tem pouca visita”, completa. Em Mesquita, no cemitério municipal, a sepultura do ex-prefeito e emancipador da cidade, José Paixão, ainda é bastante visitada. No Jardim da Saudade, também em Mesquita, a frequência caiu. Em Belford Roxo, no cemitério da Solidão, a sepultura de Benjamim Pinto Dias tem raras visitas e a do ex-prefeito Joca não recebe 3 mil visitantes como antigamente. “O povo hoje não liga muito pra isso ou aproveita a para descansar em casa”, pensa um coveiro não identificado. Mas em todos eles haviam evangélicos por toda parte.

O sobe e desce do número de religiosos

Evangélicos uniformizados distribuíram material religioso na porta do cemitério municipal de Nova Iguaçu
Fotos: Davi de Castro/Jornal de Hoje

O que se nota claramente, nos últimos anos, a exemplo dessa quinta-feira (2), além do esvaziamento de visitantes, é que a guerra na porta ou entrada principal dos cemitérios, não é mais pela venda de flores, coroas, velas ou outras lembranças. Agora a “guerra” é espiritual, ou seja, pela conquista de novas pessoas. Os cemitérios estavam lotados de evangélicos uniformizados, pregando a palavra de Deus em volta das catacumbas e buscando a conversão de pessoas. E do lado de fora, uma tenda montada com farto material evangélico. No mesmo local, católicos também lançavam a sua rede para pescar novos fiéis. Tanto que haviam missa às 8, 10 e 16h dentro do cemitério, com o tema “É tempo de Reflexão”.
De acordo com pesquisa feita pelo IBGE, entre os anos de 2000 a 2010 a população evangélica cresceu 61,45% no Brasil, enquanto o catolicismo perdeu 9 milhões de fiéis. A mesma fonte informa que em 2000 havia 26,2 milhões de evangélicos ou 15,4% da população. Já em 2010, esse índice saltou para 42,3 milhões de crentes ou 22,2 % da população brasileira. A pesquisa mostra ainda que, em 1991, os evangélicos eram apenas 9% no país. No primeiro Censo do IBGE, em 1870, uma grande fatia de 99,7% da população brasileira era católica. Agora, no último censo, são apenas 73,6%.
Na pesquisa do Datafolha, feita em 2016, mostra que o crescimento evangélico continua intenso, ao crescer 7 pontos percentuais, passando para 29% da população. E segundo o mesmo estudo, neste período, os católicos perderam 9 milhões de fiéis, ou 6% de brasileiros acima de 16 anos, mas ainda é maioria, com 60% da população. Os demais pontos (11%) estão distribuídos entre espíritas (2%), umbanda e candomblé (0,3%) e outras (2%) e sem religião (6,7%).
Rio menos católico – O estudo mostra ainda que o Rio de Janeiro é o estado menos católico do país, com 45,8% de fiéis. E o mais evangélico proporcionalmente, é o estado de Rondônia, com 33,3% de crentes. O menor percentual evangélico é o Piauí, com 9.7% da população. A pesquisa do Datafolha mostra também que metade dos evangélicos é oriunda do catolicismo. Ou seja, o índice de crentes aumenta de acordo com a queda do percentual católico.

 

por Davi de Castro -(davi.castro@jornalhoje.inf.br)

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