Desperdício e falta de água:extremos do abastecimento na Baixada

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Moradores da Rua Morrinho em Éden sonham em ver os reservatórios abastecidos  Fotos: Ivan Teixeira
Moradores da Rua Morrinho em Éden sonham em ver os reservatórios abastecidos
Fotos: Ivan Teixeira

Enquanto um cano quebrado na Rua Clóvis, na Vila São Luís, em Nova Iguaçu desperdiça litros de água potável por hora, mais de quatro mil famílias de várias ruas de Éden, em São João de Meriti não têm uma gota de água em casa.A ordem é economizar, mas segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, o Rio de Janeiro perde 31,8% do volume que produz. Isso se deve, por exemplo, a falhas na detecção de vazamentos como a da rua iguaçuana.

Segundo moradores da Rua Clóvis, o vazamento nos fundos da Escola Municipal Osíres Neves tem cerca de quatro meses e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) ignora o problema. “O vazamento tá aí, os técnicos da CEDAE já vieram mais de uma vez e fazem a mesma coisa: iniciam o serviço e largam, alegando que vão almoçar e não voltam”, disse o morador, Maurílio José da Silva, de 45 anos. Conforme os residentes, o vazamento é de responsabilidade da CEDAE que quebrou o cano durante outra manutenção realizada na rua, porém a estatal alega que o problema é da prefeitura pelo cano quebrado estar aos fundos da escola. Ainda segundo Maurílio, os próprios moradores que têm “dado um jeito” no vazamento.

Caminhão pipa da Prefeitura de São João de Meriti cobra entre R$60,00 e R$150,00 para abastecer casa de meritienses  Fotos: Ivan Teixeira
Caminhão pipa da Prefeitura de São João de Meriti cobra entre R$60,00 e R$150,00 para abastecer casa de meritienses
Fotos: Ivan Teixeira

No local do vazamento a terra está cedendo e por conta dessa erosão, o veículo de um morador já caiu no buraco formado. “Esse buraco está cada dia maior. Meu carro caiu dentro dele enquanto eu manobrava, mas graças a Deus não sofri nada e não tive nenhum prejuízo”, relatou Euclídes Farias, de 31 anos. O local passou a ser depósito de lixo e a água deixou de ser potável ao se misturar com o esgoto. “A situação desse vazamento começou a incomodar até os alunos. Eles se mobilizaram e colocaram madeiras para poder entrar ou sair da escola sem sujar os pés”, contou o morador Luís Moreira.

Em janeiro desse ano, o presidente da CEDAE, Jorge Briard, admitiu pela primeira vez a possibilidade de racionamento de água no Estado do Rio para o final de 2015. Apesar da produção da Estação de Tratamento do Guandu ser o dobro da que o Rio precisa, o desperdício tem um alcance de 37% do volume tratado. O desperdício de água no Brasil é tão grande que se perde seis Cantareiras por ano.
Torneiras secas em Meriti

A moradora Silvia Lourenço armazena água em galões para atividades domésticas Fotos: Ivan Teixeira
A moradora Silvia Lourenço armazena água em galões para atividades domésticas
Fotos: Ivan Teixeira

Em São João de Meriti,a população das ruas Alfredo Maurício Brum, Anápolis, Pires do Rio, Piracanjuba, Caldas Novas, Cristalina, Ananias Antero da Costa, Anhanguera, Luisa Magna e Morrinhos, na localidade de Vila Zulmira, em Éden, sonha em ver água encanada nas casas. Há mais de duas décadas os moradores são obrigados a comprar água ou recorrer à vizinhos de outras localidades para realizar atividades como lavar roupa, cozinhar e tomar banho. Segundo os residentes, de onde deveria vir a ajuda,estão tirando proveito e carros pipas da Prefeitura de Meriti cobram entre R$60,00 e R$150, para abastecer os reservatórios das casas.

Outro problema é relatado pelo aposentado Manoel Espinoza, de 71 anos.Ele reside na Rua Morrinhos e vê a conta de luz aumentando todo mês na tentativa de puxar água. “Moro aqui há 45 anos, nunca vi a água chegar sem o auxílio de bombas na minha casa. Pago caro na conta de luz para tentar ter água em casa”, disse o aposentado.

A moradora Silvia Lourenço contou que armazena água da chuva para cozinhar. “As contas chegam, mas água mesmo só em sonho. Preciso pegar água da chuva para fazer as coisas em casa, até mesmo cozinhar”, contou. Na casa da aposentada Marina Maria da Silva, de 84 anos, a situação é parecida, as contas chegam, mas a água não. Para ter água, ela e a filha Rosimere, Nascimento Miranda, de 42 anos, precisam pagar por carro pipa para abastecer o reservatório da família “Meu marido construiu uma piscina para armazenarmos a água que compramos.Hoje está cheia porque o abastecemos essa semana”, disse Rosimere. Ela está com a filha de 14 anos se recuperando de uma cirurgia e a menina precisa de uma alimentação diferenciada. “Minha filha precisa comer frutas, e nós precisamos de água para atividades simples como lavar a fruta”, desabafou.

Marina Maria da Silva, de 84 anos, está com as contas pagas, mas a caixa d'água vazia Fotos: Ivan Teixeira
Marina Maria da Silva, de 84 anos, está com as contas pagas, mas a caixa d’água vazia
Fotos: Ivan Teixeira

Para conseguir água, os moradores gastam em média R$500,00 por mês entre conta de água e de luz. E aproveitando a oportunidade, os comerciantes estão cobrando em média R$250,00 por um abastecimento. A equipe do Jornal de Hoje flagrou o momento em que um caminhão pipa da empresa Dinâmica à serviço da Prefeitura Municipal de São João de Meriti fazia o abastecimento em uma casa. Moradores denunciaram que aquele caminhão cobra entre R$60,00 e R$150,00 para abastecer as casas da região. “De 15 em 15 dias, precisamos reabastecer nossos lares. É um absurdo ter que pagar por um caminhão da prefeitura para encher nossas caixas”, disse a moradora Silvia. Ainda segundo eles, o preço é de acordo com a capacidade dos reservatórios.

É no Lote 49 que se encontra a situação mais grave da Rua Morrinhos. Dona Maria da Glória da Silva, de 75 anos, é moradora do local há 33 anos e tenta desde então uma ligação da Companhia para sua casa. “Não consigo água da rua porque minha casa não tem ligação da CEDAE, já pedi inúmeras vezes e nada. Meus filhos também já fizeram o pedido e nada. Tenho um gasto enorme com caminhão pipa por mês sem poder, recebo apenas uma pensão”, contou.

Sobre a venda de água no caminhão pipa da Prefeitura de São João de Meriti, a assessoria de imprensa do governo municipal informou em nota que “a prefeitura tem somente um caminhão pipa em atuação na cidade e que o mesmo é responsável por abastecer as escolas municipais. Portanto, não realiza este tipo de serviço. Existem outros caminhões da empresa Dinâmica que já prestaram serviços para a Prefeitura, porém não realizam mais e podem estar ainda circulando com a logo da Prefeitura”.

Ainda em nota, a assessoria solicitou o dia,local de circulação e placa do veículo para verificar a denúncia. A equipe do JH flagrou às 10h30min desta terça-feira(7), na Rua Morrinhos, o caminhão, com identificação da Prefeitura de São João de Meriti, placa LUN 4456 vendendo água para os moradores.

A Cedae também foi procurada pela redação do JH e garantiu por telefone que mandaria uma resposta oficial por e-mail, mas até o fechamento desta edição não se manifestou.
Por: Gabriele Souza (Gabriele.souza@jornalhoje.inf.br)

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