
Foto: Divulgação/Factual Comunicação
Há dez anos, o maior encontro democrático de arte urbana do mundo acontece na Baixada Fluminense, sem restrições de convites ou permissões para participar. Batizado de “Meeting of Favela” (MOF), o evento reúne artistas de todos os continentes que se mobilizam para pintar todos os muros e paredes da comunidade Vila Operária, em Duque de Caxias. Além de ter o grafite como foco, o MOF reúne ainda apresentações de B-boys, MCs, DJs, bandas, skatistas, atores de teatro e circo, videomakers e fotógrafos. São todos voluntários e comprometidos em continuar transformando o local que hoje já é uma grande galeria a céu aberto.
A edição especial de 10 anos acontece neste domingo (11) e pela primeira vez, o evento contará com patrocínio. A Oi, o Governo do Rio, a Secretaria de Estado de Cultura e a Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro apoiam o MOF, colaborando com melhorias na estrutura e permitindo que o evento ganhe mais visibilidade.
Criado em 2006, o MOF surgiu após a realização do evento internacional “Meeting of Styles – MOS”, que só permitia a participação de artistas convidados, deixando muitos artistas fora do evento. Foi, então, que os dois grafiteiros realizaram a primeira edição do MOF totalmente democrática. Era um convite aos excluídos, abrindo os muros da comunidade para quem quisesse chegar. Foram mais de 50 participantes. A iniciativa deu tão certo que a última edição, em 2015, reuniu cerca de 3 mil pessoas, das quais 900 eram artistas. Foram brasileiros, chilenos, argentinos, mexicanos, sul-africanos, franceses e alemães num valioso intercâmbio de estilos, experiências e influências culturais.
Para este ano, o evento já tem confirmada a participação dos artistas: Manuel Gerulis (Alemanha – idealizador do Meeting of Styles), Chiara Frei (Espanha), Sebastian Schmidt / Still Same RZM (Alemanha), o grupo 12 Brillos Crew (Chile) e os brasileiros Marcelo Ment e Bruno Big. No entanto, o principal destaque será a presença de Martha Cooper, icônica fotógrafa nova-iorquina, que documentou o início da cena do grafitti e da cultura Hip-Hop em NY nos anos 1970 e 1980 e autora do famoso livro Subway Art.
“É o encontro de grafiteiros de vários estados e países que trazem suas próprias tintas e doam arte para a comunidade. Os moradores adoram, participam e ficam perguntando quando vai ser o próximo”, conta Carlos Bobi, um dos criadores do evento.
Moradores podem pedir pinturas especiais

Foto: Divulgação / Factual Comunicação
Durante todo o dia do evento, cada artista e grafiteiro bate na porta do morador pedindo licença e autorização para pintar o muro ou a parede do imóvel. Os moradores têm completa liberdade, e a exercem bem, para permitir ou não, para sinalizar o local que pode ser pintado e até para encomendar o tipo de pintura que gostariam de ter decorando as suas paredes. Ao final, os muros formam um grande painel, como uma exposição de grandes obras em progresso.
O encontro também gera renda para os moradores, que prestam serviços, hospedam visitantes e vendem produtos. Alguns deles, inclusive, já fazem parte da equipe de produção do evento e colaboram para a realização do projeto. Por tudo isso, o MOF acabou se tornando parte do calendário afetivo da Vila Operária.
Apesar do caráter voluntário, o MOF é realizado com extrema organização. Para controle, os grafiteiros participantes são cadastrados gratuitamente através da página do evento no Facebook (www.facebook.com/meetingoffavela). Os estrangeiros, e os que vêm de fora do Rio, podem solicitar uma vaga no alojamento que é montado na Escola Municipal Vinícius de Moraes, base operacional do evento.
A Vila Operária
A comunidade, como muitas outras no estado do Rio, é estigmatizada pela pobreza e violência. No entanto, o MOF sempre aconteceu num clima de integração, alegria e colaboração entre visitantes e moradores. Hoje, a Vila Operária também é conhecida por ser uma galeria de arte gratuita e participativa, estimulando o turismo, a geração de renda, elevando a autoestima da população local e oferecendo aos jovens a arte como forma de expressão. Com os anos, os moradores que, em geral, nunca entraram em um museu, já entendem de arte, elegem os seus artistas preferidos e acompanham os seus trabalhos pelas redes sociais.