
Foto: Ivan Teixeira/ Jornal de Hoje
As manifestações prós e contra as ocupações nas escolas estaduais estão avançando para o segundo mês e estão dando o que falar. Em Nova Iguaçu, o Instituto de Educação Rangel Pestana (IERP) é a única escola pública ocupada por cerca de 100 alunos, desde o dia 18 de abril. Na manhã de ontem, pais e alunos da unidade escolar, do Ciep 166 – Abílio Augusto Távora, do bairro Palhada e do C.E. Vicentina Goulart, de Miguel Couto, fizeram uma manifestação em frente ao IERP, pedindo a desocupação da escola e o retorno das aulas.
Segundo os alunos desfavoráveis a ocupação, os estudantes acampados dentro da escola representam somente uma parte de todo colegiado e estão tirando o direito de quem quer estudar. “Nós precisamos assistir as aulas para sermos aprovados no final do ano, caso o contrário, seremos todos reprovados e o pior, nós é quem vamos ser os prejudicados. Não acredito que eles irão sair somente a nosso pedido, por isso vamos recorrer a outros meios, como por exemplo, o Ministério Público, pois do jeito que está não pode ficar”, desabafou Laurene Mello, de 17 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio, uma das representantes do Desocupa Já.
Isabelle Moreira, 18, é outra integrante das manifestações contra a ocupação. Ela diz que atua em sentido oposto, porque caso a maior parte dos 200 dias e 800 horas de aula não sejam cumpridas com aproveitamento, os alunos serão reprovados. “Com a escola ocupada, não há nenhum professor dando aula, mas antes disso, pelo menos os que não aderiram à greve estariam com suas matérias em dia”, afirmou a aluna, que cursa o 2º ano.
Uma coordenadora de alunos do IERP, que preferiu não se identificar, está inconformada com a liberdade que deram aos alunos para ficarem tanto tempo nesta ocupação. “O Ministério Público deveria intervir no que está acontecendo em nosso Estado. Ninguém está tomando nenhuma providência para tirar eles, ou para ceder ao pedido dos professores. Sabe-se lá o que está acontecendo dentro das escolas ocupadas, com todos estes jovens sem a presença de pessoas adultas. Eu sou mãe, avó e bisavó e me preocupo com o futuro deles”, declarou.
A professora Lorena Gioseffi Maciel está secretária do IERP e citou alguns pontos de vista sobre o que está acontecendo na instituição. “Estamos lutando democraticamente pela desocupação da escola e para abrir um canal de diálogo com o grupo de ocupação. A comunidade está sendo muito prejudicada, pois a emissão de documentos como certidões, diplomas e transferências ficou interrompida. Com isso, caso alguém dependa desse serviço para o programa Bolsa Família ou até mesmo para a posse em algum concurso público será prejudicado. Queremos o bom senso dos alunos para avaliar o que será melhor para todos”, disse a professora e secretária, que também é ex-aluna do Rangel Pestana.
Grupos entram em diálogo
A manifestação de ontem aconteceu com o objetivo de realizar um diálogo entre os dois grupos, que têm ideias opostas. Foi exatamente isso que Rita de Cassia Porto, 43 anos, pedagoga e mãe de uma aluna do 2º ano, sugeriu aos alunos ocupantes da IERP. Ela conseguiu articular a reunião entre cinco alunos de cada grupo, para chegarem a um consenso. A reunião aconteceu no início da tarde de ontem, entretanto a equipe de reportagem do Jornal de Hoje não foi autorizada a acompanhar.
Alexander Vieira, 16, é um dos estudantes do CIEP 166 – Abílio Augusto Távora, que participou da manifestação contra a ocupação e falou com muito bom senso sobre a atual situação da educação estadual. “É melhor nós termos algumas aulas, que perder um ano letivo inteiro por conta dessa ocupação. Mesmo com a greve dos professores nós estamos tendo aula no Ciep 166, pois ainda temos alguns professores dando aula. Já aqui no Rangel, os alunos não assistem nada há quase um mês. Acredito que estão sendo muito mais prejudicados”, disse o jovem.
O professor de geografia, Wilson Norberto, que também é coordenador geral do SEPE, apoia a ocupação do IERP. Diante dos dois grupos de alunos, Wilson afirmou que a educação estadual está prejudicada com, ou, sem ocupação. “Não adianta desocupar, pois mesmo com as escolas vazias, não estava tendo aula devido à greve dos professores”. O docente aproveitou para desmentir o boato de que todos os alunos seriam aprovados por causa da greve. “Se não houver aula, todos serão reprovados, independente se são contra ou a favor a ocupação”, explicou.
Segundo o SEPE, o Estado do Rio de Janeiro soma 67 escolas ocupadas, desde o dia 21 de março. De acordo com os alunos a favor da ocupação, o ato é em apoio à greve dos professores, iniciada no dia 2 de março, e melhores condições de ensino.
por Erick Bello