
Foto: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje
O descaso com a saúde pública em Belford Roxo volta a ser notícia. Desta vez, a indignação é da família de um homem que morreu no Hospital Municipal Jorge Júlio Costa dos Santos, o Hospital do Joca, e que não foi tratado com o devido respeito.
Antônio José de Paula Faria, de 59 anos, veio a óbito no último domingo, pouco antes de receber atendimento na unidade. De açodo com familiares, depois de dar entrada no Hospital, por volta das 20h30 de domingo, já com a certeza da morte do ente, foram providenciar os trâmites para o velório. Porém, quando a família retornou na manhã de terça-feira, para acompanhar o corpo para o enterro, descobriu que o mesmo não estava pronto para ser sepultado.
Foi então que começou o drama familiar. Carine Melo, de 37 anos, sobrinha da vítima, levou um susto quando viu o tio fora da geladeira, sobre uma mesa de mármore, dentro de um saco, com mau cheiro e em estado de decomposição. “Na mesma hora eu sabia que não estava certo aquele procedimento e procurei os responsáveis do hospital, mas nenhum deles se apresentou à minha família”, disse a mulher, demonstrando indignação.
Carine disse ainda que acreditava estar tudo resolvido para o funeral. “Nós estávamos prontos para o enterro e nos deparamos com esse absurdo. É um ser humano que foi tratado como um ninguém. No pior dos casos, deveriam ter nos avisado da falta de competência para que tomássemos providência. Se soubéssemos disso teríamos contratado um funeral com geladeira”, desabafou.
Caso de Antônio não é o primeiro

Foto: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje
O filho da vítima, Jeferson Basílio Farias, 28 anos, veio de Angra dos Reis, onde reside, e ficou arrasado com o que ele chamou de descaso do poder público. “Pessoas íntegras estão sendo enterradas como indigentes por negligência do Hospital do Joca. É um absurdo, meu pai, que sempre foi muito vaidoso, ter que ser enterrado como um nada. Ainda por cima em um caixão fechado porque está desfigurado, irreconhecível. Isso tudo porque o corpo apodreceu neste hospital”, disse aos prantos.
Jeferson revelou ainda que esse não foi o único caso que presenciou. “Há 20 dias estive em Belford Roxo para o enterro do meu sogro e descobri que ele também não pôde ser enterrado de caixão aberto, pois passou pelo mesmo abandono e também ficou em estado de decomposição. Eu exijo uma explicação e mais que isso. Não foi a primeira vez, mas espero que não se repita. Quero melhorias para que outras famílias não passem por isso, como estou passando pela segunda vez”.
Familiares dizem que não foram comunicados sobre deficiências, nem mesmo amparados pelos responsáveis do hospital. “Procuramos o diretor para pedir esclarecimento sobre o fato, mas nos informaram que o Dr. Valério estaria a caminho. Ele só pode ser fantasma, pois nunca está em seu local de trabalho”, criticou Jeferson. Devido todos esses imprevistos, o enterro que estava planejado para às 10h de ontem, teve que ser adiado para às 16h do mesmo dia, dispensando mais de 100 amigos e familiares que compareceram ao Cemitério Municipal da Solidão, em Belford Roxo.
Família alega falta de comunicação
Outro sobrinho de Antônio José, Bruno Paulo da Silva, 32 anos, também presenciou o estado do corpo e procurou a direção do hospital para pedir esclarecimento, sendo recebido somente por Cristiane Martins Freitas, que se apresentou como secretária da diretora do hospital. Ao ser questionado sobre os motivos do corpo ter sido deixado fora da geladeira, Cristiane informou que a geladeira do Hospital só comporta quatro corpos. Ele disse ainda que Cristiane não soube responder o porquê de a família não ter sido comunicada desse fato para garantir a integridade do corpo de seu tio.
A assistente Social Adriana Silva foi procurada pela família e informou que não há plantão de assistente social aos finais de semana e no período noturno. Ela disse aos parentes da vítima que quando assumiu o plantão, na manhã de ontem, não foi informada da existência de um corpo fora da geladeira.
“Isso não pode acontecer de maneira nenhuma. É um momento muito difícil, meu tio já não sente nada, mas a família está sofrendo muito. Não bastava a dor da perda, agora mais essa. Queremos que esse caso sirva de alerta para que a população não aceite os maus tratos e descasos do poder público. Queremos a devida punição para que isso não aconteça com outras famílias” finalizou a sobrinha Carine.
O filho de Antônio José, Jeferson Basílio registrou uma ocorrência na 54ª DP (Belford Roxo), a fim de pedir esclarecimentos sobre o fato.
Prefeitura nega a versão
Em nota, a Prefeitura de Belford Roxo, através da Secretaria de Saúde informou que “o Sr. Ângelo de Paula, irmão do paciente, recebeu e assinou a Declaração de Óbito e na ocasião foi informado de que as geladeiras estavam todas ocupadas, e que caso demorasse a fazer a remoção do corpo, que o mesmo seria encaminhado ao IML (procedimento este que depende da liberação da família). O Sr. Ângelo não autorizou a remoção para o IML e informou que faria a retirada no corpo na segunda-feira pela manhã. Entretanto, a família, mesmo estando ciente da indisponibilidade de gavetas na geladeira, só retornou a unidade nesta terça, dia 15/03, para efetuar o procedimento de remoção”.
O hospital informou ainda que alocou o corpo numa mesa de mármore, cobriu o mesmo com material plástico preto (procedimento comum) e ficou aguardando a retirada do corpo, uma vez que a família se comprometeu a fazer o mesmo, não autorizando o envio do corpo para a unidade do IML.
por Erick Bello – erick.bello@jornalhoje.inf.br