Humildade e fé no trabalho para vencer na vida

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Boanerges trabalhou na agricultura e hoje é conhecido como uma das vozes mais marcantes de Japeri Foto: Custódio Martins
Boanerges trabalhou na agricultura e hoje é conhecido como uma das vozes mais marcantes de Japeri
Foto: Custódio Martins

Filho de alagoanos, nascido e criado no bairro São Jorge, em Japeri. A história de vida de Antonio Boanerges da Conceição Graça pode soar comum: estudou até a quinta série do Ensino Fundamental e começou a trabalhar ainda criança para ajudar os pais e ter seu próprio dinheiro. Porém, o gosto pela leitura e o dom da oratória, desenvolvidos ainda na juventude, fazem de Boanerges, como é mais conhecido, um homem bem informado e culto, mas ao mesmo tempo humilde e de palavras simples que cativam a todos ao seu redor. Qualidades estas que o tornaram o dono de uma das vozes mais conhecidas (talvez a mais conhecida) de seu município.
Boanerges nasceu em maio de 1967 e herdou o nome de seu bisavô por parte de seu pai, José Sabino da Graça. É a ele e a sua mãe, Laura Maria da Conceição Graça, que o homem da voz inconfundível agradece pela educação adquirida na escola da vida. “Pertenço a uma família de agricultores. Eu ainda era criança quando comecei a vender para vizinhos e parentes as verduras plantadas pelos meus pais, gostava de correr atrás dos meus trocados”, recorda o saudosista Boanerges, que ainda hoje vende guloseimas originadas da agricultura familiar, como tapiocas e bolos.
Quem conhece Antonio Boanerges, sabe que uma de suas principais características é o poder de persuasão, sempre na base de um debate sadio e da troca de opiniões. Mas nem sempre foi assim. No início da década de 1980 sua família passava por dificuldades financeiras, José Sabino estava desempregado. “Naquela época o governador do Rio era o [Leonel] Brizola. E ele permitiu que os camelôs trabalhassem na Avenida Rio Branco [Centro do Rio] pelo período de seis meses. Então, meu pai e eu fomos para lá vender nossos produtos da roça. Depois daqueles seis meses, todos os ambulantes foram obrigados a se retirar, mas eu não aceitei sair. A polícia veio pegar nossos produtos e eu disse ‘então vão pegar do chão’. E joguei tudo para o alto”, lembra aos risos, relatando um ato de destempero aceitável para um jovem de apenas 15 anos naquela época.
A rebeldia lhe rendeu um “passeio” à 1ª Delegacia de Polícia, na Praça Mauá. Mas foi diante do delegado da unidade que o pré-adolescente demonstrou que sabia usar bem as palavras a seu favor. “Expliquei a ele a dificuldade financeira pela qual passávamos e argumentei que era melhor estar vendendo nossos produtos da roça e trabalhando com honestidade do que estar matando e roubando as pessoas. Resultado: o delegado permitiu que meu pai e eu trabalhássemos na Av. Rio Branco por mais um mês. Aquela avenida enorme foi toda nossa por 30 dias”, vibra o locutor, ao recordar o momento.

Prefeito Mirim e admiração por Lindbergh

Naquela época, Boanerges já frequentava o grupo de jovens da Igreja Matriz Senhor do Bonfim, em Engenheiro Pedreira. Foi lá que ele obteve uma simples, porém grande vitória pessoal. Sua sugestão de nome para o livro de cânticos do grupo foi a vencedora em uma competição e a obra foi batizada como ‘Cante e Sorria Como Um Passarinho’. A conquista seguinte foi a nível municipal. Boanerges foi eleito Prefeito Mirim de Nova Iguaçu em um concurso que reuniu milhares de concorrentes.
“Venci o concurso de orador dentro da sala de aula e depois foi escolhido como o representante da minha escola [E. M. Bernardino de Melo]. A competição, realizada no extinto Teatro Arcádia, no Centro de Nova Iguaçu, envolvia 72 escolas da cidade, e o aluno vencedor seria conhecido por meio de sorteio. Mas eu questionei, disse que não era justa a forma de escolher o prefeito mirim e sugeri que fosse feita uma votação. Cada aluno teve dois minutos para defender os partidos Arena ou MDB e opinar sobre eleições diretas e indiretas”, explica Boanerges, responsável pela criação das novas regras para o concurso. “Naquele momento, mais da metade dos candidatos desistiu. Dos 72 diretores das escolas presentes, 71 votaram em mim. O único que não votou foi o da minha própria unidade, pois escolheu outro candidato para que este fosse eleito como vice-prefeito mirim”, diverte-se.
Não demorou muito para que Boanerges se tornasse uma liderança jovem em sua região. Foi quando ele conheceu uma das figuras políticas mais influentes do Rio de Janeiro na atualidade, o jovem Lindbergh Farias. “Naquela época, eu era vendedor do Varejão das Fábricas, meu primeiro emprego de carteira assinada. Então passei a ser integrante do sindicato dos comerciários e comecei a exercer a militância política. Eu doava minhas horas de almoço para fazer locução nas ruas em apoio ao Lula, na segunda eleição para presidente que ele disputou. Este foi neste mesmo período que conheci o Lindbergh. Juntos, nós defendemos a luta dos estudantes pelo passe livre. Nos reencontramos tempos depois, quando ele já era presidente da União Nacional dos Estudantes”, conta Boanerges, que confessa ter o atual senador pelo PT como espelho. “Independente de qualquer opinião partidária, o Lindbergh é uma referência no que diz respeito a forma como se dirigir ao público, pois possui um discurso eloquente. Igual a ele não existe.”

Família como alicerce

Antonio Boanerges usou sua voz também em favor do pai José Sabino, candidato a Prefeito de Japeri após a emancipação, no início da década de 1990. Ele também cantou em bingos do município, foi mestre de cerimônia em festas de 15 anos e também locutor oficial na Escola de Instrução Especializa (ESIER), em Realengo, durante o período em que prestou serviço militar. Foi nesta época em que conheceu Jânia Batista, a mulher com quem viria a se casar. Curiosamente, o locutor não precisou ‘apelar’ para a voz sedutora como instrumento de conquista do coração da amada. “Entrei em um ônibus que ia fazer excursão em Aparecida e dei de cara com ela. Nos entendemos no olhar, não foi necessário dizer uma só palavra”.
Seis meses após aquela primeira troca de olhares, Boanerges e Jânia se casaram. A união matrimonial dura 30 anos e rendeu três frutos ao casal: Ariane, Max e Brenda. E uma nova geração já está a caminho: em outubro ele será avô do primeiro filho de Max. Tendo como um de seus princípios o respeito e os laços com sua família, ele admite não ser uma das pessoas mais fáceis de conviver. “Minha esposa merece um busto de bronze na Praça Olavo Bilac, em Engenheiro Pedreira”, brinca.
Antonio Boanerges é o único dos quatro filhos de José Sabino e Laura Maria que não possui diploma de nível superior, o que era um desejo de seus pais. No entanto, ele espera se realizar melhorando a qualidade de vida da população de Japeri. “É possível fazer política sem ódio, mas também sem medo. Para realizar meu sonho de seguir uma carreira política, preciso apenas ser gente, ter honestidade e sabedoria”, afirma Boanerges, dono de uma marcante voz e que deseja fazer dela um microfone para seu povo.

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