
Foto: Ivan Teixeira
Quem precisa de atendimento na Policlínica Geral de Nova Iguaçu, o PAM Dom Walmor, precisa madrugar na fila. Porém, mesmo enfrentando horas de espera, ainda existe a incerteza do atendimento médico. Uma leitora do Jornal de Hoje denunciou as longas filas, falta de médicos e a falta de repasse que faz com que pacientes paguem seus próprios exames e remédios.
Morando no Brasil há 15 anos, a suíça Emmanuelle Gilda Wiltmero Souza, de 65 anos, contou que está há mais de uma semana tentando atendimento médico na Policlínica. “Chego na fila às 4h30 da manhã e recebo a informação que as agendas para consultas estão lotadas. Isso é um absurdo”, reclamou a suíça. Emmanuelle é diabética e possui Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) em decorrência do cigarro. Ela está custeando os medicamentos que antes eram fornecidos pelo governo municipal. “Tomo insulina três vezes por dia e faço a medição da glicose desde junho do ano passado. A Policlínica não está fornecendo mais a caixa de fita de medição, cada uma está custando R$98,00 e eu recebo apenas um salário mínimo de viúva”, contou. “A prefeitura não está passando a verba para os laboratórios. Quando precisamos fazer algum exame temos que pagar do nosso bolso”, complementou. Emmanuelle gasta em torno de R$300,00 por mês em remédios.
Filas na madrugada reúnem centenas de pessoas

Segundo Emmanuelle, sua última consulta no Pam Dom Walmor foi dia 12 de maio. Desde então, ela não consegue marcar um retorno na unidade. “Recebi encaminhamento para o cardiologista e outras especialidades, mas estão com agenda cheia. Quem passa em frente a clínica de madrugada, vê todos os dias centenas de pessoas tentando um atendimento”, declarou a suíça.
Desde 31 de março Emmanuelle tenta marcar na Policlínica Dom Walmor um exame no coração. “Eu tenho coração grande, e preciso fazer um Eco Doppler do Coração para ver de onde vem minha insuficiência cardíaca, não estou conseguindo no Pam Dom Walmor e na clinica particular custa mais de mil reais”, contou.
Emmanuelle disse que procurou ajuda no Posto de Saúde próximo a sua casa, localizado na Rua Alzira, no bairro Andrade de Araújo, em Nova Iguaçu, e ouviu como resposta que não poderia ser atendida. “O posto de saúde daqui não tem médico. Dependemos de especialistas. O doutor falou que não poderia fazer nada por mim porque eu precisava de um cardiologista e pneumologista e que essa não era a especialidade dele e por isso não poderia ser receitada”, relatou.

Foto: Emmanuelle Wiltmero
Questionada sobre a quantidade de senhas distribuídas diariamente no Pam Dom Walmor e sobre a previsão de contratação de médicos e ampliação de atendimentos na unidade, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) não se manifestou. No entanto, a Semus garantiu que não há atrasos nos repasses para a Policlínica e informou que a unidade “oferece 21 especialidades médicas e atende todos os meses cerca de oito mil pacientes de Nova Iguaçu e de outros municípios da Baixada. A rede municipal de saúde conta com 63 unidades, seis delas são Policlínicas e o Centro de Saúde Vasco Barcellos está localizado no Centro de Nova Iguaçu”.
“Descaso na saúde é pior que na África”
Emmanuelle é enfermeira e veio para o Brasil pela primeira vez no ano de 1998, em missão com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A época foi o auge da epidemia da Esporotricose, uma micose provocada pelo fungo da espécie Sporothrix schenckii. Chega a afetar os vasos linfáticos, a pele e até alguns órgãos internos, como o pulmão, ossos e cérebro. “Falando como enfermeira e não como paciente, afirmo: o Brasil está matando pessoas. Estão cometendo genocídios. Andei por muitos países do continente africano, e mesmo aqueles mais pobres não têm o descaso na saúde como acontece aqui no Brasil”, contou a enfermeira que trabalhou como missionária da OMS por 28 anos.
por Por: Gabriele Souza