
A Polícia Civil realiza, na manhã desta segunda-feira, uma operação contra traficantes de Japeri, na Baixada Fluminense. São 32 mandados de prisão a serem cumpridos no município. De acordo com o delegado Deoclécio Francisco Filho, titular do Departamento Geral de Polícia da Baixada (DGPB), em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, o grupo praticava vários tipos de crime, incluindo extorsão a moradores e comerciantes da favela do Guandu.
As investigações duraram cerca de cinco meses. Os policiais civis deixaram a Cidade da Polícia, na Zona Norte, ainda durante a madrugada. Ainda segundo o delegado, todo o grupo é comandado pelo traficante Breno da Silva de Souza, chefe do tráfico no Complexo do Guandu. Segundo investigações do Ministério Público estadual do Rio (MPRJ), Breno mantinha uma aliança com o ex-prefeito de Japeri, Carlos Moraes, e do ex-presidente da Câmara de Vereadores do município, Wesley George de Oliveira, o Miga, ambos do PP.
Escutas telefônicas reveladas pelo EXTRA em setembro deste ano indicam a estreita ligação do grupo político com Breno. Uma das conversas interceptadas que mais impressionaram os envolvidos nas investigações aconteceu em novembro de 2017, entre Breno e Jenifer Aparecida, apontada como mediadora entre os políticos e o traficante. No diálogo, a mulher afirma que Miga quer marcar um encontro com o traficante na Câmara de Japeri.
Um dos interesses dos políticos na troca de favores, para o MP, está no uso do poderio bélico “estruturado na forma de aparato de guerra disponibilizado pelo tráfico legal”, tornando-os imunes à atuação de adversários políticos.
À época, Breno já tinha 14 mandados de prisão por crimes como homicídio qualificado, tráfico de drogas e associação para o tráfico, e era o criminoso mais procurado da cidade. O traficante se recusa a ir até a Casa Legislativa, e Jenifer diz que sugeriu a Miga ir até o Guandu conversar com ele. O encontro é sugerido pela mediadora diante da insatisfação de Breno com a participação de Miga e o prefeito Moraes numa audiência pública na qual foi debatida a violência em Japeri. “Falaram vários bagulhos, dizendo que a gente está no domínio aqui, com 50 fuzis. Só faltou falar meu nome”, reclamou o traficante. “Pode abortar aquela missão que eu não vou ajudar mais ninguém não. Eu faço o meu, e eles fazem o deles”, disse.
Em outra escuta, durante um baile funk, Breno liga para Moraes para tentar fazer cessar uma operação da Polícia Militar na região. O traficante se mostra irritado com a ação policial, uma vez que o irmão de Miga, policial militar lotado no batalhão da área, estava de plantão. O prefeito diz que tentou falar com o irmão de Miga e com o próprio parlamentar, mas não consegue impedir a operação e chega a se desculpar. Moraes ainda avisa que os PMs voltarão ao Guandu mais tarde, antecipando a operação policial.
Revoltado com a atuação da PM em seu reduto, Breno, em conversa com o vereador Cacau, diz que Miga sofrerá retaliações por causa da atuação do irmão.
Parceria prossegue até o carnaval
No dia seguinte ao baile funk, Moraes e Breno se falam novamente por telefone, e o prefeito promete ao traficante que conversará, junto com Miga, com o comandante do batalhão da área para “alinhar” a atuação policial e evitar problemas para a organização criminosa. Moraes também promete ao criminoso investimentos em sua área. As trocas de favor entre os grupos também ficam evidentes em diálogo no qual Jenifer conta para o vereador Cacau que o traficante disse a ela que pedirá ajuda ao “prefeito ou deputado” para arrumar alguma atração artística na favela durante o carnaval.