Tijolos históricos roubados do Casarão de Tinguá são encontrados

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

160408 H31 160408 H31C

Os tijolos foram utilizados para tapar buracos ao longo da Estrada Barão de Tinguá
Foto: Ivan Teixeira/Jornal de hoje

Um dia após o ato de vandalismo ocorrido na Fazenda São Bernardino, em Nova Iguaçu, quando o casarão teve uma de suas paredes demolidas na manhã de quinta-feira (7), o misterioso paradeiro dos tijolos pertencentes a um dos principais monumentos históricos da Baixada Fluminense, situado na Estrada Federal de Tinguá, foi finalmente desvendado. O material foi localizado na Estrada Barão de Tinguá, local de operação de registros d’água da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
O vandalismo foi cometido justamente por homens que usaram um caminhão com a logomarca da Cedae para transportar o material demolido com o auxílio de uma pá mecânica. Nas redes sociais, internautas compartilharam imagens que mostram o momento em que o veículo deixava a Fazenda São Bernardino. O registro foi feito por Geraldo Baptista, de 49 anos, que há 20 mora a poucos metros do casarão histórico. Foi ele quem impediu a continuação da demolição.
160408 H31B“Desconfiei do barulho e fui ver o que estava acontecendo. Quando me deparei com aquela situação, não pensei duas vezes e os chamei a atenção dizendo-lhes que estavam cometendo um crime e que poderiam ser presos por aquilo. Eles perceberam que poderiam ter problemas e começaram a se retirar do terreno. Foi quando aproveitei para fotografá-los”, conta Geraldo.
Os responsáveis pela destruição não foram identificados. Segundo a Prefeitura de Nova Iguaçu, a pá mecânica e o caminhão da Cedae estariam a serviço da regional de Belford Roxo.
O secretário de Cultura de Nova Iguaçu, Wagner D’Almeida, disse que vai pedir à Cedae a reparação dos danos causados às ruínas da Fazenda São Bernardino. Ele passou a tarde de sexta-feira (8) alinhavando com o Procurador-Geral do Município, Tiago Barbosa, as medidas que serão tomadas na Justiça, na segunda-feira.
“O que a gente sabe até agora é que arrancaram tijolos de uma das paredes para usar como entulho e tapar um buraco. O absurdo dessa explicação chega a ser pior do que a própria ação criminosa. Já temos fotos e testemunhas do crime, que serão arroladas”, afirmou D’Almeida.

Casarão terá vigilância 24 horas
H31C: Parede de cinco metros de altura foi demolida por homens da Cedae

Acompanhado do gestor de Centro de Memória de Nova Iguaçu, professor Allofs Daniel Batista, o secretário Wagner D’Almeida esteve nas ruínas da Fazenda São Bernardino para fazer uma avaliação dos estragos. Ele informou que a prefeitura iniciará uma série de ações com apoio das secretarias de Obras e Serviços Públicos e do Meio Ambiente que visam a preservação do local. Já na segunda-feira, uma força-tarefa da Empresa de Limpeza Urbana (Emlurb) irá fazer uma faxina na fazenda, que irá receber cercamento, iluminação e vigilância 24 horas por dia.
“Guardadas as devidas proporções, a Fazenda São Bernardino poderia ser o Coliseu da Baixada Fluminense. Ela é um bem do Estado e do País. Só que a prefeitura não pode fazer tudo sozinha, porque o orçamento municipal é um cobertor curto. A cidade precisa do envolvimento dos governos federal e estadual, dos historiadores e da própria sociedade civil organizada”, defendeu o secretário, que já estuda com o Iphan e o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac, a criação do sítio arqueológico da cidade de Nova Iguaçu.
Os vereadores Marcelinho das Crianças e Cacau também foram ver de perto os estragos causados pelos vândalos. Eles garantiram que irão cobrar das autoridades que as ações de conservação sejam mais firmes para combater tais atos e estudam a criação de um fórum permanente de conservação dos patrimônios históricos da região, que englobam a Estrada Real, a Fazenda São Bernardino, o Porto comercial e de passageiros, cemitério dos escravos, a delegacia, entre outros ainda existentes. Os parlamentares informaram que vão instaurar uma Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) para apurar a responsabilidade da Cedae no caso.

Ruínas já foram cenário de novelas da Globo

Apesar de o casarão ser um lugar histórico por ser um resquício do período colonial brasileiro, a conservação do local não é prioridade para nenhuma das esferas públicas. “Este local deveria ser mantido nos padrões de quando tem a famosa Festa do Aipim, ocasião em que o lugar está sempre apresentável para as milhares de pessoas que passam por aqui”, disse Geraldo Baptista. “A verdade é que quem conserva o local são os próprios moradores da região, através da Associação Circuito Turístico de Tinguá, que constantemente entram em contato com a Emlurb para solicitar a limpeza”, concluiu.
Geraldo disse que a Emlurb envia equipes bimestralmente para fazer o corte dos matos, mas como é uma região tropical com chuvas constantes, o matagal cresce muito rápido. “Deveriam aproveitar a situação para intensificar as ações de manutenção, com atuações mensais”, finalizou.
No ano passado o local foi utilizado pela Rede Globo para a gravação da segunda fase da novela Além do Tempo. Na ocasião, a emissora se comprometeu a investir na preservação e retirada das pichações do casarão. Recentemente, outra trama da emissora, Saramandaia também teve a fazenda histórica como cenário.
A história do casarão

A Fazenda São Bernardino foi construída em estilo neoclássico em 1875 e tombada em 1951 pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. De acordo com o historiador Allops Daniel Batista, gestor do Centro de Memória do município de Nova Iguaçu, o que causou a atual situação foi o incêndio em 1983, um ano após o início do processo de desapropriação.
“O Centro de Memória de Nova Iguaçu trabalha em pesquisas, preservação e difusão dos conhecimentos da história de Nova Iguaçu, mas ainda o município é limitado hierarquicamente com as esferas Federais, Estaduais, o que faz ações com Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) seguirem por muitos anos. O que atrasa tudo é que os diálogos entre as esferas seguem em velocidades diferentes e acabam se desencontrando ao longo do tempo”, contou Allops.
Em 2012, o historiador da cúria de Nova Iguaçu, Antonio Lacerda, concedeu uma entrevista ao Jornal Extra, informando que a fazenda foi desapropriada de forma irresponsável em 1976, pelo então prefeito João Batista Lubanco. Na época, a Prefeitura de Nova Iguaçu informou que a Justiça devolveu a fazenda aos antigos donos.
Um suposto processo judicial de desapropriação se arrasta há anos impedindo que providências sejam tomadas para a preservação. Este é o motivo apontado pela população para o abandono da causa.

 

por Erick Bello – erick.bello@jornalhoje.inf.br
Raphael Bittencourt – raphael.bittencourt@jornalhoje.inf.br

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Nunca perca nenhuma notícia importante. Assine nosso boletim informativo.

Publicidades

error: Conteúdo protegido!