
Foto: Gabriele Souza/ Jornal de Hoje
A Baixada Fluminense possui cerca de 4 milhões de habitantes. Desse total, 400 mil são jovens entre 18 e 24 anos, o que significa que possuem idades para ingressar na universidade. Dos treze municípios da região, apenas Duque de Caxias, Nilópolis e Seropédica sediam uma instituição de ensino superior pública. A meta estipulada pelo Plano Nacional da Educação (PNDE),implantado pelo Ministério da Educação (MEC), é que 33% dos jovens do país sejam univesitários, mas hoje apenas 18% estão matriculados. Pensando em melhorar a acessibilidade da população da Baixada ao ensino superior, um movimento para a criação da Universidade Federal da Baixada Fluminense (UFBF) ganha força a cada dia. A ideia é transformar o Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Nova Iguaçu, na Universidade Federal da Baixada.
Uma das lideranças desse movimento é o historiador e diretor do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ,em Nova Iguaçu, Alexandre Fortes.Segundo ele, a região possui potencial para receber uma nova universidade federal. “A Baixada possui uma população enorme que já é maior que alguns países do mundo, como o Uruguai, por exemplo. Fizemos um levantamento com os dados do senso e só na faixa prioritária do acesso à universidade são cerca de 400 mil jovens”, informou. Fortes afirma que a previsão é ampliar consideravelmente o acesso ao ensino superior. “Se temos hoje 3.500 alunos, significa menos de 1% de jovens na universidade pública. Nossa previsão não atende 100% dos jovens, até porque não seria possível, mas que pelo menos 40% das vagas sejam ocupadas em universidades públicas”, complementou.

Foto: Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados
A iniciativa tem apoio de parlamentares nas esferas estadual e federal. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) deputados estaduais criaram o ” Estatuto da Frente Parlementar em Defesa da Educação Superior com Fortalecimento do Instituto Multiciplinar da UFRRJ, transformando na Universidade Federal da Baixada Fluminense em defesa da educação superior na Baixada. Segundo o deputado estadual André Ceciliano a iniciativa não é uma luta apenas dos congressistas da região. “Estando todos de acordo com a criação da frente parlamentar, que é um projeto que tem a finalidade de criar uma universidade na Baixada voltada para Baixada. Lutaremos pela educação superior dos moradores da região, incluindo o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), que tem grande eleitorado na Baixada”,contou o deputado.

Ainda conforme o parlamentar, o documento que prevê a transformação do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, localizada em Nova Iguaçu, na Universidade Federal da Baixada será oficializado na próxima quarta-feira (21). Além de André Ciciliano, assinaram o documento os deputados André Lazaroni, Daniele Guerreiro, Dica, Dr. Deodalto, Fabio Silva, Farid Abrão, Iranildo Campos, Jorge Picciani, Luiz Martins, Marcelo Simão, Márcio Canella, Marcos Muller, Rogerio Lisboa, Rosenverg Reis, Wagner Montes, Waguinho, Zaqueu Teixeira E Zito.
Para o deputado federal Alessandro Molon, a demanda de cursos universitários na região é grande. “A Baixada é uma região extremamente importante para o Estado do Rio de Janeiro, com uma enorme densidade populacional e onde há uma grande demanda por cursos universitários. O potencial da área pode ser extremamente desenvolvido se tiver uma universidade federal, que funcione como uma espécie de pólo de desenvolvimento científico e tecnológico da Baixada. Temos trabalhado para garantir recursos no orçamento do ano que vem para ajudar a tornar realidade a Universidade Federal da Baixada Fluminense”.
Ensino federal superior: luta antiga

Foto: Ivan Teixeira / Jornal de Hoje
A luta por uma universidade federal que atenda as demandas da Baixada Fluminense é antiga. Segundo o historiador Alexandre Fortes, a mobilização começou em 2003. “Sabemos de uma mobilização grande que resultou em um abaixo assinado entregue ao ex-presidente Lula. Quando houve esse movimento de trazer uma universidade federal para a Baixada Fluminense decidiu-se criar um campus em Nova Iguaçu, e a UFF ganhou um campus novo em Volta Redonda”, disse Fortes. Para ele, o mais importante seria entender a importância da universidade pública para o desenvolvimento local. “O Campus da UFRRJ já representou o maior investimento feito na Baixada Fluminense em termos de educação pública federal. Hoje temos dez cursos, sendo que dois deles possuem duas habilitações, e mais um curso de educação a distância (Turismo), o que totaliza treze cursos”, complementou ele. No total, o Instituto Multidisciplinar atende 3.500 alunos de graduação e mais mil de educação à distância.
Militantes da Baixada de causas em defesa e na promoção de uma Cultura de Direitos Humanos também participam da luta. A ONG ComCausa é uma das entidades que está apoiando a criação da Universidade Federal da Baixada Fluminense. “Apoiamos por dois motivos: o acadêmico e o norteador. O acadêmico por possibilitar a ampliação da universidade gerando mais cursos. Enquanto o norteador por promover o acesso ao jovem da Baixada que ainda olha a universidade como um sonho distante”, explicou Adriano Dias, da ComCausa.
Para Adriano, a criação da universidade seria fundamental. “Por mais que temos campus pela Baixada, ainda não temos uma universidade com a nossa cara, com um olhar voltado para cá. O Instituto Multiciplinar é da UFRRJ e não tem autonomia para avançar em algumas coisas. A UFBF é um farol norteador, como pôde ser visto em outras cidades como Santa Maria (no Rio Grande do Sul), Juiz de Fora (em Minas Gerais), ou em Campinas (São Paulo) onde se percebe que tudo gira em torno da universidade”, exemplificou ele.
De acordo com o consultor da ComCausa, a iniciativa é um fator positivo para a região. “Essa transformação não vai acontecer de uma hora para outra, mas acreditamos que com essa criação teremos uma melhora de estima, por criar no jovem a perspectiva de fácil acesso e sem gerar grandes custos”, alega.
Assim como o diretor Alexandre Fortes, o consultor da ONG ComCausa acredita nos resultados favoráveis que a instituição irá trazer para a região. “A pré-disposição daqui é que atenda melhor a sociedade, o que é primordial. É a coisa mais legal que estamos envolvidos e estamos felizes quanto militante dessa demanda que irá construir coisas boas”, garantiu Adriano. Ele também garante que o custo e desgaste para a criação da universidade não se compara a outros projetos. “A estrutura está pronta. O PNDE permite que se use estruturas e potencialize para que atenda mais gente. Alinhado a fatores administrativos, é uma área da união que pode até ser ampliada”,informou.
Ele ainda argumenta que a universidade teria a autonomia de estabelecer relações com outros municípios da área de entorno. “Precisamos desse farol norteador para os jovens daqui. Apenas 1% tem o acesso, possibilidade existe, então porque não empenhar? É da discussão que se constrói. E muitas pessoas não tem conhecimento disso”, finalizou.
Por: Gabriele Souza (gabriele.souza@jornalhoje.inf.br)