Senado aprova abertura da CPI para investigar futebol

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A proposta de abertura da comissão investigatória é de autoria do senador Romário, do Rio de Janeiro  Foto: Romário /Waldemir Barreto/ Agência Senado
A proposta de abertura da comissão investigatória é de autoria do senador Romário, do Rio de Janeiro
Foto: Romário /Waldemir Barreto/ Agência Senado

Os senadores aprovaram ontem a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo que resultou na detenção de sete dirigentes da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e extorsão, em esquemas comerciais envolvendo competições como a Copa América, Libertadores e Copa do Mundo no Brasil.
A CPI será publicada nesta sexta-feira (29) no Diário do Senado e só não será instalada se 26 senadores retirassem suas assinaturas do requerimento até o fim da noite de ontem.
A proposta de abertura da comissão investigatória é de autoria do senador Romário (PSB-RJ). Ele fez a proposta logo após ganhar repercussão a prisão dos dirigentes em Zurique na manhã da última quarta-feira (27).
A investigação que culminou na detenção dos dirigentes em Zurique está sendo feita pela Justiça nos Estados Unidos. Já a CPI no Senado pretende avançar em valores referentes à Copa do Mundo de 2014, assunto que não está sendo apreciado pelas autoridades norte-americanas.
Em nota oficial do Senado, foi informado que a comissão contará com sete membros titulares e igual número de suplentes e terá 180 dias para investigar possíveis irregularidades em contratos feitos para a realização de partidas da seleção brasileira de futebol, de campeonatos organizados pela CBF, assim como para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de futebol de 2014. A instalação dependerá da indicação dos integrantes pelos partidos, o que leva em conta o cálculo de proporcionalidade das bancadas na composição do Senado. O limite de despesas da comissão será de R$ 100 mil.
Ontem, durante sessão no plenário do Senado, Romário falou sobre a CPI e disse esperar que os responsáveis sejam presos.
“Particularmente espero que Blatter seja preso antes de assumir um novo mandato. O Marin está preso e este é o momento de fazermos uma verdadeira devassa na CBF, a Casa Bandida do Futebol”, afirmou.
“Recentemente, fomos surpreendidos com notícias da venda da Seleção Brasileira de Futebol masculino. Jogador que entra em campo por valor de marketing. Escalação feita por empresários. Tudo registrado em contrato. Por tudo isso, tenho tentado emplacar uma CPI para investigar esses criminosos. É uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira e festejada ao som do hino nacional”, completou Romário, fazendo referência ao contrato da CBF com as empresas International Sports Events (ISE) e Pitch International, que prevê redução do valor pago caso a seleção brasileira não entre em campo com seus principais jogadores.

Marin dividiu propina de R$ 346 milhões

A investigação realizada pela Procuradoria de Nova York descobriu que o ex-presidente da CBF José Maria Marin seria um dos cinco beneficiários de uma propina de US$ 110 milhões (R$ 346 milhões, na cotação de quarta-feira, 27) pagos pela empresa uruguaia Datisa, criada pela Traffic e por outras duas agências de marketing para negociações de direitos de transmissão da Copa América.
Marin e os outros acusados receberiam o dinheiro por terem feito com que a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e a Concacaf (Confederação de Américas do Norte e Central) cedessem à Datisa os direitos mundiais de transmissão das edições da Copa América dos anos de 2015, 2019 e 2023, além da edição especial do campeonato em 2016, evento que será realizado nos Estados Unidos e reunirá seleções de todo o continente americano.
De acordo com os procuradores norte-americanos, o esquema foi fechado em janeiro de 2014, quando Marin era o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e membro do comitê executivo da Fifa. Já o representante da CBF na Conmebol, à época, era Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF, que não é citado nas investigações.

Porque o presidente da CBF Del Nero deve se preocupar

Del Nero (D) e seu parceiro Marin, preso da Suiça, descontraídos Foto: Ricardo Stuckert/CBF
Del Nero (D) e seu parceiro Marin, preso da Suiça, descontraídos
Foto: Ricardo Stuckert/CBF

Marco Polo Del Nero, sucessor de Marin e atual mandatário da entidade que comanda o futebol nacional, aparentemente é um dos suspeitos listados nos documentos montados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. E isso pode ter efeitos práticos no futuro do esporte nacional.
Del Nero assumiu a presidência da FPF (Federação Paulista de Futebol) em 2003 e teve trajetória ascendente desde então. Membro do comitê executivo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), ele foi indicado por Ricardo Teixeira, então mandatário da CBF, e passou a integrar o comitê executivo da Fifa em 2012.
O dirigente não chega a ser citado nominalmente em nenhum documento da investigação divulgado Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Em dois arquivos, porém, um dos suspeitos é descrito como membro do alto escalão da Fifa, da Conmebol e da CBF, credenciais que batem com as de Del Nero. As ações desse personagem reforçam indícios de participação do atual chefe do futebol nacional no esquema de corrupção.
Segundo a investigação, duas empresas de marketing esportivo fecharam contratos para compra dos direitos comerciais da Copa do Brasil após negociar pagamentos de R$ 2 milhões anuais de propina a um membro da CBF. Esse conspirador, que seria Ricardo Teixeira, teria lucrado ilegalmente com negociações de contratos da entidade durante a década de 90.
Em 2012, antes de o acordo ser consumado, José Maria Marin (citado nominalmente) e outro suspeito ascenderam ao poder da CBF e também teriam exigido pagamentos ilegais. Isso teria aumentado o valor da propina.
Numa conversa interceptada pela investigação, José Maria Marin chegou a negociar com José Hawilla o pagamento de propina a ele e outro membro da CBF, que seria Del Nero. Questionado se seu antecessor Ricardo Teixeira deveria seguir recebendo pagamentos ilegais, o então mandatário respondeu: “Chegou a hora de vir para nós”.
Del Nero também supostamente aparece em denúncia sobre a Copa América. Ele está em lista de personagens que teriam recebido propinas referentes a um contrato com a Datisa, empresa formada em 2013 com participação da Traffic. A companhia desembolsou US$ 317,5 milhões pelos direitos comerciais das edições 2015, 2019 e 2023, além da Copa América Centenário de 2016 (US$ 75 milhões, US$ 80 milhões, US$ 85 milhões e US$ 77,5 milhões, respectivamente). O suspeito recebeu U$ 500 mil, assim como outros dez oficiais da Conmebol.
>> Del Nero minimiza Até o momento, a única manifestação de Del Nero sobre o caso aconteceu em entrevista coletiva a jornalistas que estavam em Zurique na terça-feira. O dirigente brasileiro classificou o escândalo como péssimo, mas contemporizou: “Precisamos analisar tudo e saber o que aconteceu”. Depois, afirmou que as suspeitas precedem o início da administração de José Maria Marin na CBF, em 2012. “Não há nenhum contrato pós”, disse o atual presidente, desmentido pelas datas contidas nos documentos.
No Brasil, a CBF fez grande esforço para que as denúncias não pegassem em Del Nero. A entidade emitiu nota na terça-feira dizendo que “aguarda, de forma responsável, a conclusão das investigações, sem qualquer julgamento que previamente condene ou inocente”. O texto ainda afirma que “a nova gestão da CBF, iniciada no dia 16 de abril de 2015, reafirma seu compromisso com a verdade e a transparência”.

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