*Miguel Lucena
A violência contra a mulher tem sido discutida em números e há estatística para todos os olhares, mas falta uma análise sobre o exercício do poder arbitrário pelos homens e os fatores que levam a essa situação vexatória.
É público que cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos, uma é violentada a cada 11 e 13 são assassinadas por dia em média, uma cada duas horas.
Quarenta por cento das ocorrências registradas nas delegacias de Polícia Civil do Distrito Federal estão relacionadas a violência doméstica, após o advento da Lei Maria da Penha.
Resta analisar uma violência que aprisiona a alma feminina: a arbitrária e aleatória, que surge do nada, sem explicação.
Há nas delegacias casos de homens que chegaram de repente em casa e quebraram tudo o que viram pela frente porque não encontraram a janta na mesa, outros se incomodaram com o jeito como a mulher olhou para eles e muitos descontaram na companheira algum aborrecimento que tiveram com alguém no bar.
A mulher perde um tempo enorme tentando entender de onde provém essa violência até ser assassinada pelo marido ou companheiro, de quem às vezes só sabe o apelido.
A sociedade afrouxou as convenções e o que era bom para gente entendida, formada e bem situada, passou a ser um inferno para os mais pobres.
As relações passaram a ser superficiais e os parceiros se conheciam muito pouco, foram morar juntos logo que se conheceram ou na mesma noite, saindo do bar direto para a cama, não importando se a pessoa é irresponsável, drogada ou psicopata.
Geram filhos que vão ser negligenciados, abusados e violentados, servindo de exército de reserva para o mundo do crime.
As mulheres, erguendo a bandeira da liberdade total, largam um parceiro e pegam outros em sequência, obrigando os filhos a trocarem de padrasto a cada dois meses.
O pior é que a sociedade que arregaça as mangas no combate à violência contra a mulher é a mesma que se recusa a abrir a discussão sobre os freios éticos e morais necessários à sobrevivência da humanidade, sem perceber que caminhamos todos para o precipício.
*Miguel Lucena é delegado da PCDF e jornalista