pai de Ayala Vitória Cunha de Souza diz que faltava médico e até ambulância no Hospital Ronaldo Gazola para fazer transferência. A Secretaria Municipal de Saúde diz que houve atendimento, mas vai investigar e que ‘se alguém errou, será afastado’

Giovani Barbosa de Souza, pai de Ayala, conta que eles chegaram às 9h no hospital e ficaram sem atendimento até 19h, quando foram orientados quando foi trocado o plantão por uma enfermeira a irem para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, pois eles iriam “morfar” ali, já que eles não tinham como atender. Ele conta que deixou o Ronaldo Gazola às 20h e foram para casa, pois não tinham dinheiro para irem até a outra unidade.
“Fomos para casa, conseguimos dinheiro para ir para outro hospital. mas temos outros filhos e deixamos para o dia seguinte, pois estava tendo tiroteio e não conseguimos sair. Ela se alimentou, mamou, a minha mulher colocou ela para arrotar e ela vomitou. Acabou que ela dormiu, quando deu 3h percebemos que ela estava sem vida”, disse o ajudante de pedreiro, que mora com a mulher e outros cinco filhos, entre 4 e 12 anos, no Morro do Chapadão. Eles voltaram ao Ronaldo Gazola às 4h de quinta-feira, onde o pai diz que ficou esperando, novamente, até 9h.
“Não sei nem a causa da morte da minha filha. Só às 9h alguém desceu e me deu a papelada para preencher para retirar o corpo da minha filha. Nem o prontuário não querem me dar. Eles são obrigados a me darem o prontuário. A polícia disse que eles tem a obrigação de me dar”, reclamou o pai.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que os pais chegaram com a recém-nascida por volta das 11h e recebeu os atendimentos médicos enquanto lá esteve, diferente da versão da família. “O médico avaliou a recém-nascida e solicitou transferência para uma emergência pediátrica”.
O órgão também afirma que a transferência com disponibilidade de leito foi autorizada pela Central de Regulação, inclusive com ambulância, mas, diz a SMS, “segundo relatos do hospital, familiares já haviam levado Ayla para casa, contrariando as orientações médicas”.
A versão é rebatida pelo pai da criança. “Ficamos esperando o médico o tempo todo. Quero que ele (diretor) mostre que me atenderam pelas câmeras, pelo prontuário, é só ver que vão confirmar que não atenderam. A gente nem chegou a entrar no hospital, ficou na recepção o tempo todo. Dizem que atenderam 11h30. Só avaliaram e mandaram esperar a ambulância para levar para Realengo, mas também não tinha. Quando tinha médico, não tinha ambulância, quando tinha ambulância, não tinha médico”, criticou Giovani.
Apesar de afirmar que a criança foi atendida, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que vai apurar os fatos e “se alguém errou, será afastado”. “A SMS assume esse compromisso com a família da pequena Ayla”, prometeu o órgão, que classificou a morte como “tragédia inadmissível”
“A SMS assume o compromisso com a população do Rio, após determinação do prefeito Marcelo Crivella, de que as responsabilidades neste caso serão apuradas e que tomará as medidas necessárias para que isso não volte a acontecer. A secretária Beatriz Busch determinou a abertura imediatamente de uma apuração. E, caso alguma falha seja identificada, os profissionais envolvidos serão afastados”, diz a secretaria.
Os pais de Aylla registraram o caso na 39ª DP (Pavuna). Giovani esteve na manhã desta sexta-feira no Instituto Médico Legal (IML) para liberar o corpo da filha. O enterro da recém-nascida deve acontecer neste sábado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque.
Mãe a base de remédios
De acordo com Giovani, a sua mulher e mãe da criança, Andressa Barbosa, está à base de remédios, inconsolável e receberá acompanhamento psicológico. Ela está sob os cuidados da tia do marido, enquanto ele tentar resolver as questões da liberação do corpo e enterro.
“Ela toma remédio controlado, está na casa da minha tia, está muito mal. Ontem à noite, por exemplo, ela estava com a boneca, dando de mamar, pensando que fosse a nossa filha”, contou Giovani.
Andressa ainda desmaiou na quinta-feira quando recebeu a confirmação do hospital que a filha tinha morrido, batendo com a cabeça no chão. Ela foi levada para o Albert Schweitzer para fazer radiografia e foi liberada.