Após a confirmação de mortes em decorrência da febre amarela e do número de casos de doença no estado, cariocas começaram a formar filas nas portas das unidades de saúde ainda no período da madrugada desta quarta-feira. A cena se repetiu em postos das zonas Norte e Sul do Rio — no Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, por exemplo, cerca de cem pessoas já aguardavam para receber uma dose antes das 6h. A situação era similar em outros pontos da cidade, como em Copacabana e Botafogo. Alguns dos que aguardavam nesses locais argumentaram que optaram pelas primeiras horas do dia porque tentaram nesta terça-feira e não conseguiram. Outros alegaram que gostariam de se vacinar e ficar imune à doença de uma vez por todas.
No período entre o fim da madrugada e início da manhã, o local de maior procura era a unidade da Tijuca. Por lá, o dia nem havia clareado e uma longa fila já se formava na porta do posto de saúde — situação que ficou pior durante a manhã, quando, por volta das 7h30m, a linha de pessoas já dobrava o quarteirão. Na porta do posto, a tecnóloga de telecomunicações Rosely Frayah era a primeira da fila: chegou ao local por volta das 2h20m. Moradora do bairro, ela, que já foi vacinada no ano passado, contou que decidiu ir mais cedo para garantir uma senha para a mãe de 75 anos.
“Eu não dormi. Por volta das 1h30m eu estava acordada e, como a minha mãe havia pedido para eu pegar uma senha, decidi vir logo para cá”, disse ela, que acha melhor tomar a vacina logo, antes que a dose fracionada comece a ser oferecida — Já que febre amarela não foi erradicada, ela poderia ser uma daquelas vacinas que o cidadão toma logo após de nascer. Isso evitaria esse tipo de transtorno. É uma doença que mata, não tem jeito. Tenho pavor dessa doença. Desde o ano passado já deram esse sinal de alerta.
O aposentado Nilson da Silva Porto, de 65 anos, também levantou bem cedinho para garantir a vacina. Ele conta que tentou receber a dose nesta terça-feira, ainda no período da manhã, mas não conseguiu devido à grande procura, pois a “fila já estava dobrando a esquina”.
— Já que é preciso tomar, vamos resolver isso logo de uma vez, não é? Fiquei surpreso ao chegar aqui e me deparar com as pessoas na fila. Ontem eu tentei, mas tinha muita gente, a fila dobrava a esquina e ainda era de manhã. As coisas não deveriam ser assim é um abuso. E depois as autoridades ainda dizem que não há fila nos locais.
A situação não era diferente em Copacabana, no posto de saúde João Barros Barreto, as pessoas começaram a chegar por volta das 5h. Por volta das 6h30m, cinquenta pessoas, organizadas em fila, esperavam a distribuição de senhas. Nas primeiras posições, estava Antônio Francisco Dantas Sampaio, de 74 anos. Assim como o aposentado na Tijuca, ele também tentava receber a dose pelo segundo dia consecutivo.
“Ontem cheguei por volta das 5h. Mas precisei passar pelo médico, antes de receber a dose. Quando saí, a fila estava enorme e não pude esperar porque tinha um compromisso. Uma funcionária me disse que eu poderia voltar até as 17h, retornei às 14h e não tinham mais vacinas disponíveis”,reclamou ele, que aguardava sentado em uma cadeirinha.
O quadro não era diferente em Botafogo, também na Zona Sul. Da mesma forma que em Copacabana, cerca de 50 pessoas formavam fila na porta do Centro Municipal de Saúde Dom Helder Câmara. A primeira da fila chegou pouco antes das 5h. Moradora do Morro Azul, no Flamengo, a cozinheira Kátia Lima, de 57 anos, madrugou para garantir a dose.
“Resolvi vir cedo para garantir a dose — afirmou ela, que acrescentou. As pessoas estão com medo e querem se prevenir, por isso procuram os postos cedinho. Acho até que o povo ainda não está totalmente alarmado e (quando isso ocorrer) a procura pode ser ainda maior.