Estudantes ocupam mais de 20 escolas no Rio

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De acordo com o movimento, 22 unidades de ensino foram ocupadas, mas a secretaria estadual da pasta confirma 13
De acordo com o movimento, 22 unidades de ensino foram ocupadas, mas a secretaria estadual da pasta confirma 13

O número de colégios estaduais ocupados por alunos em apoio à greve dos professores já chega a 22 no Rio de Janeiro. O Colégio Estadual Herbert de Souza, no Rio Comprido, na zona norte da cidade, é a mais recente ocupação dos estudantes fluminenses.

O professor de física Sebastião Guilherme Peixoto disse apoiar a ocupação, pois, segundo ele, a situação dentro da escola é crítica. “Não temos condições nenhuma de trabalho. O laboratório de física só está funcionando porque eu o limpei. Era pura sucata no começo do ano letivo”, contou.

A também professora Valéria de Moraes afirmou que a ocupação visa a alertar o governo sobre a situação de descaso que vive o ensino estadual. “Eu apoio porque é necessário trazer os olhos do Estado para a nossa situação. Não queremos tumultuar, nem fazer nada de errado. Pelo contrário, estamos lutando por uma educação de qualidade”, acrescentou.

O estudante Erick Rodrigues, do 3° ano do ensino médio, acredita que o colégio tenha suas limitações como qualquer outro, mas que oferece um ensino de qualidade. “A gente observa que os professores dão o máximo em sala de aula. Temos também uma boa estrutura que nos ajuda muito. Claro que algumas das reivindicações deles são interessantes, mas não dá para ser assim. Esses alunos não estão pensando que com essa atitude eles fazem com que a maioria perca um período letivo que faz toda a diferença. Nenhum vestibular vai levar em consideração esse tempo que ficaremos parados”, lamentou.

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Nas páginas de cada ocupação no Facebook, os estudantes divulgam a programação e as necessidades de doação, como alimentos, material de limpeza e higiene e até mudas para fazer uma horta e tinta para pintar as paredes.

Entre as reivindicações comuns a todos estão a eleição direta para a direção, a extinção do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Saerj), maior carga horaria para filosofia e sociologia, volta de porteiros e inspetores, pagamento sem atraso dos professores, máximo de 35 alunos por salas de aula, passe livre no transporte coletivo, melhor infraestrutura, ensino de qualidade, “por nós mesmos”, “pelos professores”, “por nossos direitos”.

Em vídeo divulgado nas redes sociais do Ocupa Cairu, o estudante Luã Lourenço, do terceiro ano, diz que o movimento surgiu entre os próprios alunos, como apoio aos professores antes mesmo da greve começar. “Montamos uma assembleia do dia para a noite mesmo, convocamos o pessoal. Tudo isso foi antes da greve, decidimos que iríamos sim pegar isso, se unir aos professores nessa luta, porque essa luta não é só deles. Porque uma sala sem ar-condicionado, uma sala sem ventilador, uma sala com 60 alunos, cara, é problema do professor e do aluno, é humanamente impossível você assistir aula assim e é humanamente impossível você dar aula assim. Foi a partir daí que a gente começou a ver que o problema não era só deles, mas de todos”.

Movimento maduro

Para o secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Antonio Vieira Neto, o movimento é manipulado
Para o secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Antonio Vieira Neto, o movimento é manipulado

Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o cientista político e social Daniel Cara, o movimento de ocupação das escolas, que começou em São Paulo, decorre das Jornadas de Junho de 2013. Porém, ele considera o movimento de agora mais maduro.
“Os jovens têm uma interação melhor com as instituições históricas estabelecidas. Tanto do movimento estudantil, como dos movimentos sociais, como dos sindicatos, em 2013 isso não era tão tranquilo, tinha um conflito. A liderança era sempre pluralizada, mas defendiam uma pauta apartidária e contrária às instituições e agora, nessas ocupações de escolas, a juventude tem interagido bem com as instituições mais tradicionais. Isso é positivo, porque acaba se tornando um movimento mais aglutinador”.
Cara explica que o movimento de ocupação das escolas começou com a luta contra a reorganização escolar anunciada pelo governo paulista e depois chegou a outros estados. No Espírito Santo ocorreu contra a reorganização do ensino com fechamento de turmas no campo; no Goiás, contra um modelo de gestão privatizada e militarizada do ensino; no Piauí e no Amazonas não ocorreram ocupações, mas houve reivindicação contra o modelo de gestão.
Para o cientista político, com certeza ele gera mudanças interessantes tanto no aluno como na escola ocupada. “Significa que ele está se apropriando de fato daquela escola, então, depois da ocupação, ele nunca mais vai ser o mesmo. No processo de tomar a decisão de ocupar, o grupo de alunos já muda a visão que ele normalmente tem da escola, que é um espaço frio, pouco aglutinador, que é um espaço que não é afeito à participação. Quando ele ocupa, ele inverte totalmente a visão que ele tem sobre a escola e também ele não vai mais ser o mesmo aluno e a escola não vai ser mais a mesma escola”.

Movimento “sem cara”

Para o secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Antonio Vieira Neto, que se reuniu com alguns estudantes depois da primeira ocupação, o movimento é manipulado. “Eu percebi que eles não tinham domínio sobre as decisões, porque esse movimento não é só de estudantes, é um movimento que vai além disso. Então é um movimento que, para nós, ele não tem cara, ele não tem um personagem que chame esse movimento para si. Então eu não tenho um interlocutor, eu quero dialogar, mas eu não sei com quem”.

O secretário diz que está chamando os pais e os responsáveis dos alunos para conversar sobre as ocupações. “E se for o caso, eu vou procurar igrejas, associações de moradores, para que esses alunos tenham aulas em lugares alternativos até que essas pessoas saiam das unidades escolares”.

Vieira Neto informa que, até o momento, foi pedida a reintegração de posse de apenas uma escola, a Mendes de Moraes, mas que o pedido ainda não foi julgado. Ele diz que há uma recomendação do governo do estado para que não haja violência e que ligou pessoalmente para o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, para que a polícia não se envolva. “Existe sempre excesso da outra parte, querendo incitar muitas vezes o policial”.

O secretário diz que há forças políticas por trás das ocupações. “Nós entendemos que esse movimento está criando uma evolução em que não é um movimento claramente de alunos. Nós temos inclusive relatos de pessoas que estão indo a São Paulo fazer treinamento para invasão de escola. Não existe ingenuidade nessa questão, existe claramente um movimento político com objetivo claro de confronto”, diz.

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