
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Cinco pessoas morreram e nove ficaram feridas após uma grande explosão no Conjunto Habitacional Fazenda Botafogo, no bairro Coelho Neto, às margens da Avenida Brasil, no Subúrbio do Rio de Janeiro, ocorrido na manhã de ontem. Segundo a Defesa Civil, o acidente foi causado por um vazamento na tubulação de gás da CEG, a concessionária fornecedora de Gás do Rio de Janeiro, em um dos prédios do conjunto.
O gás se acumulou no subsolo, e a explosão ocorreu pouco depois das 5h. Os apartamentos do pavimento térreo do bloco onde houve a explosão ficaram totalmente destruídos e outras unidades, inclusive de prédios vizinhos, também foram afetadas. O conjunto habitacional Fazenda Botafogo foi inaugurado no final da década de 70 e tem 86 prédios com 40 apartamentos cada. A estimativa é que morem 17 mil pessoas no conjunto.
“O fornecimento de gás foi interrompido por medidas de segurança e, no momento, as causas do acidente estão sendo investigadas. Qualquer informação, por hora, é prematura. A CEG está à disposição de seus clientes por meio de sua Central de Emergência que funciona 24 horas, todos os dias da semana, pelo 08000-240197”, disse a nota emitida pela CEG logo após o incidente.
A concessionária destacou que, dos 40 apartamentos do bloco onde houve a explosão, apenas 19 são abastecidos pelo gás canalizado da empresa, “o que dificulta a identificação da origem da explosão”, diz a nota.
De acordo com o subsecretário municipal de Defesa Civil, Marcio Motta, o prédio poderá voltar a ser habitado futuramente, já que a estrutura não foi abalada e não há risco de desabamento “Não existe essa possibilidade [de desabamento]. O que houve foi um rompimento do piso no pavilhão 1, que é o primeiro andar, e na laje do condomínio. Um dos pilares de sustentação também sofreu um leve abalo, mas nada que não possa ser restaurado e garantir a segurança das pessoas no futuro”, garantiu Marcio Motta.
Nove pessoas ficaram feridas
Dos nove feridos, três foram encaminhados para o Hospital Carlos Chagas (Fernando C., de 56 anos, José J. Santos, de 69, e Ednei S. Silva, de 41), dois para o Albert Schweitzer (Luiz P. Silva, de 72 anos e Alzemira C. Silva, de 58) e duas para o Getúlio Vargas (Paulo R. Pereira, de 35 anos, e Jociara S. Nicácio, de 33). Duas pessoas foram atendidas no próprio local e liberadas em seguida: Renata C. Lima, de 34 anos, e Lenira M. Costa, de 79 anos, que, segundo os bombeiros, recusou remoção para um hospital.
Das cinco vítimas fatais, três morreram no local e duas a caminho do hospital. Três mortos tiveram sua identificação divulgada: José S., de 85 anos, Rosane A. Oliveira, 55, e Francisco G. Oliveira, 55. Os outros dois corpos são de uma mulher adulta não identificada e uma adolescente de 13 anos.
Tragédia anunciada, dizem moradores

Moradores do conjunto habitacional Fazenda Botafogo disseram que há pelo menos um ano sentiam um forte cheiro de gás no local. “Todo mundo que mora nessa rua e quem a frequenta já reclamava de um cheiro de gás forte. Era uma tragédia anunciada. Pena que eles não quiseram evitar. Ela [a CEG] não nos ouvia por descaso, apenas isso. Essa é a verdade”, disse Ari Nunes de Oliveira, tio de um dos moradores do conjunto que perdeu a filha de 13 anos e a esposa.
“Eu ouvi um barulho muito forte, realmente assustador e meu neto me acordou dizendo que tinha explodido alguma coisa e que o prédio ia cair. Eu já percebo esse cheiro de gás escapando há um ano. Mas a CEG dizia que não tinha nada. Fazer o quê, não é? Isso já se anunciava faz tempo”, disse Maria José Soares, moradora há mais de 40 anos do 4° andar do conjunto habitacional.
Tatiane Reis, que mora com suas duas filhas e o marido disse que não pretende voltar para o apartamento. “Nem pensar! Agora eu quero sair daqui. Não terei mais segurança e tranquilidade para morar num local que acontece esse tipo de coisa. Graças a Deus não aconteceu nada comigo e com a minha família, mas não vou pagar pra ver”, afirmou a mulher.
Segundo a CEG, há pouco mais de três meses, em 21 de dezembro de 2015, a empresa fez uma varredura na rede de gás e não encontrou nenhuma anomalia. A concessionária informou ainda que atendeu a todos os chamados feitos pelos moradores relatando cheiro de gás e que sanou todos os vazamentos encontrados. “Todos os procedimentos e normativas técnicas padrão de segurança foram rigorosamente seguidos e implementados”, garante.
Desabrigados irão para hotel

Foto: Agência O Dia
A prefeitura do Rio informou que vai prestar todo o apoio necessário às famílias das vítimas da explosão no prédio número 38 do conjunto habitacional. Após reunião com os moradores, o prefeito Eduardo Paes anunciou que a prefeitura fará obras emergenciais no edifício e pagará uma ajuda de custo de R$ 1 mil por mês a cada família atingida.
Além disso, enquanto durarem as intervenções, o município vai arcar com a hospedagem em hotel para os que não tiverem acolhimento de familiares. “Nós pedimos que os moradores que possam ficar na casa dos parentes, assim o façam. Quem não pode, a Prefeitura se compromete a pagar a hospedagem em um hotel que tem aqui perto. De imediato, já trouxe uma empresa pra assumir a obra do prédio e vamos dar uma ajuda de custo para essas famílias no período que essa obra não estiver pronta”, disse Paes que criticou a demora da CEG em agir: “isso ocorre pela lentidão da companhia de gás em se posicionar. Não dá para deixar as pessoas aqui, sofrendo. Eles [CEG] terão que pagar pelos seus atos”, disse o prefeito.
Procon abre investigação contra a CEG
O serviço estadual de defesa do consumidor do Rio de Janeiro, o Procon-RJ, abriu uma investigação para apurar a responsabilidade da empresa distribuidora de gás CEG na explosão. A investigação do Procon baseia-se na suspeita da Defesa Civil Municipal de que o acidente foi provocado por vazamento em uma tubulação da CEG. De acordo com o Procon, o Código de Defesa do Consumidor estabelece que o fornecedor do serviço responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por problemas relativos à prestação do serviço.
A CEG deverá apresentar defesa em 15 dias úteis, contados a partir do recebimento da notificação, que, de acordo com o Procon-RJ, já foi emitida. Caso o prazo seja descumprido ou os argumentos não sejam aceitos pelo Setor Jurídico do Procon Estadual, a concessionária será autuada. Para o Procon-RJ, a responsabilidade da empresa é inquestionável.