
Um mês e duas semanas após a operação da Polícia Civil e do Exército que terminou com oito mortes no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, as investigações sobre o caso estão paradas. Os militares que participaram da ação sequer foram ouvidos pelo Ministério Público Militar (MPM). O confronto balístico entre as armas dos militares e os projéteis encontrados nos corpos de três vítimas e no local do crime ainda não foi requisitado. Além disso, o depoimento dos homens do Exército, como testemunhas, na investigação aberta pelo MP estadual ainda não tem data para acontecer.
Os únicos depoimentos que os militares prestaram foram dados internamente, no Exército, e enviados posteriormente ao MPM. O órgão alega que os relatos são suficientes porque “os questionamentos que seriam feitos pelos procuradores já foram feitos”. Os depoimentos e a lista com os militares que participaram da ação ainda não foram remetidos ao MP estadual, que investiga os homens da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) que participaram da ação.
Enquanto as mortes seguem sem explicação, os órgãos de investigação são alvo de críticas. Em nota, a ONG internacional Human Rights Watch afirmou que “o MPM pode e deve fazer mais para investigar esses crimes”.
A ONG também criticou, na nota, a lei sancionada pelo presidente Michel Temer, que estabelece a Justiça Militar como o foro para julgamento de crimes contra a vida cometidos por militares contra civis durante operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). De acordo com Maria Laura Canineu, diretora do Escritório Brasil da Human Rights Watch, a nova lei é um “convite à impunidade”.
“Com as Forças Armadas envolvidas cada vez mais em operações de segurança pública no Rio, é extremamente importante que essa lei seja revogada o mais rápido possível”, afirma Canineu. Por conta da lei, a investigação dos militares que participaram da ação está a cargo do MPM.
As investigações não avançaram nem mesmo após o EXTRA revelar o relato de um sobrevivente da ação: segundo o padeiro, de 19 anos, os tiros que atingiram as vítimas foram disparados por homens vestidos de preto, da mata. Após a publicação da reportagem, o MP estadual ouviu o depoimento do padeiro. No entanto, nenhum órgão que investiga o caso esclareceu quem são os atiradores.