
Marisa morreu dois dias depois da coronhada
O laudo de necrópsia feito por peritos da Polícia Civil descartou que a morte de Marisa de Carvalho Nóbrega, de 48 anos, três dias após discutir com PMs durante ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foi causada por violência. Segundo o delegado Rodolfo Waldeck, titular da 32ª DP (Taquara), responsável pela investigação do caso, o documento revelou que a morte de Marisa foi natural, fruto de um aneurisma. Em depoimento na delegacia, duas testemunhas contaram que Marisa foi agredida com uma coronhada pelos policiais após tentar defender seus dois filhos.
“Estamos apurando se abordagem foi violenta. A apuração continua. Aguardamos o laudo de lesão das outras pessoas que estavam presentes”, contou Waldeck.
Segundo parentes, Marisa se envolveu numa discussão com PMs do Bope por volta das 2h do último dia 8. Um dos filhos da dona de mercearia — que também fazia bicos como empregada doméstica — voltava de uma festa com uma das irmãs quando foi parado pelos policiais na localidade da Cidade de Deus conhecida como Pantanal.
Os policiais, contaram a família, agrediram o adolescente, de 17 anos. Marisa dormia em casa e foi avisada por parentes do fato. Foi para o local e discutiu com PMs. De acordo com os parentes de Marisa, um policial deu uma coronhada na cabeça da mulher.
Uma testemunha que presenciou a confusão contou que a pancada da arma atingiu Marisa na nuca. Os PMs, disse ela, usavam luvas cirúrgicas. O adolescente teria sido agredido porque estava muito bem vestido, segundo os policiais, o que seria um indício de ligação com o tráfico.
Ao final das agressões, os dois filhos de Marisa foram liberados pelos policiais. A mulher, entretanto, só começou a passar mal quando chegou com os filhos em casa. Cerca de dez minutos após a coronhada, ela começou a vomitar e desmaiou. Marisa foi levada para uma UPA e, depois, para o Hospital Salgado Filho, no Méier. Dois dias depois, ela morreu. A certidão de óbito também aponta como causa da morte um aneurisma.