O pagamento de resgate para ter de volta carros roubados também está sendo investigado no Rio pela Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), da Polícia Civil. A especializada apura se uma quadrilha está negociando com traficantes de favelas da Zona Norte a devolução desses veículos. Ontem, O GLOBO mostrou que a delegacia de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, tem informações de que cooperativas de proteção veicular estão pagando valores exigidos por assaltantes para reaver carros roubados.
A suspeita da DRFA é que o grupo que age na Zona Norte faça a negociação para vítimas de roubos e cooperativas de proteção veicular. Após o crime, a quadrilha é acionada e entra em ação para recuperar o automóvel levado pelos bandidos. Se identificados pela polícia, os integrantes do bando podem ser indiciados pelo crime de extorsão, cuja pena varia de quatro a dez anos de prisão.
O advogado Raul Canal, presidente da Agência de Autorregulamentação das Associações de Proteção Veicular e Patrimonial (AAAPV), admite que cooperativas do setor que atuam no Estado do Rio pagam aos ladrões para que os veículos sejam devolvidos. Segundo ele, a entidade não recomenda qualquer tipo de negociação com criminosos e vem tentando inibir essa prática. O advogado disse ainda que cooperativas de Minas Gerais estão começando a agir da mesma forma:
— O que ocorre é que as cooperativas adotaram essa prática no início e acabaram ficando reféns. Elas contratam uma empresa de pronta-resposta, integrada por policiais aposentados e até alguns da ativa, para recuperar os carros. E isso acontece rapidamente, em poucas horas. Nossa orientação é que esse pagamento não seja feito. É uma bola de neve. Não se consegue mais sair disso. Isso estimula os roubos — afirma Raul Canal.
O advogado informou que cerca de 20 cooperativas que fazem seguro no Rio são ligadas à agência. Na próxima semana, haverá uma assembleia na cidade com os associados.
— Queremos fazer um pacto ao menos com as cooperativas associadas para que não paguem mais resgate pelos veículos roubados. Vou alertar: “Vocês estão alimentando seus algozes”. O resultado disso é que os criminosos já concluíram que “sequestrar” automóveis é menos perigoso e mais rentável do que traficar drogas — opinou.
O delegado titular da 54ª DP (Belford Roxo), Luiz Henrique Ferreira Guimarães, atribui o aumento do número de roubos de veículos à prática de pagar pelo resgate dos automóveis. Em fevereiro passado, foram registrados 266 casos na cidade, uma alta de 52% em relação ao mesmo mês de 2017. Hoje, a delegacia vai pedir à Justiça a prisão de dois homens suspeitos de fazer parte de uma quadrilha de roubo de veículos que age em Belford Roxo. Rafael dos Anjos Gomes, de 20 anos, e Guilherme Albuquerque Silva, de 19, aparecem num vídeo que circula nas redes sociais desde o início desta semana. Na gravação,