A Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) investiga se o lança-rojão 84mm (AT-4) apreendido nessa terça-feira na comunidade Parque Floresta, na Caixa D’água, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, foi desviado do Exército Brasileiro. A polícia identificou que armamentos do modelo encontrado já foram adquiridos por essa Força. O Exército possui em seu site um manual de 1998 com instruções sobre o uso da arma.
O lança-rojão apreendido pela polícia tem várias inscrições em português em etiquetas coladas na arma. Em uma delas, consta a informação de que o armamento foi fabricado na Suécia. Nessa terça-feira, militares do Exército estiveram na DCOD, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho. Eles vão auxiliar a Polícia Civil nas investigações.
De acordo com o manual do Exército, o AT-4 é um armamento produzido especificamente para destruir veículos blindados. O lança-rojão dispara uma granada e é capaz de dar um único tiro, sendo descartado após o uso. Perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil vai apontar se o armamento ainda possui poder de fogo. Fontes da polícia ouvidos , no entanto, afirmam que a arma já não tinha mais como ser utilizada, pois o disparo já havia sido dado.
Segundo o especialista em armas Vinicius Cavalcante, lançadores de rojão do modelo apreendido nunca foram encontrados no Brasil em condições de uso, ou seja, ainda com possibilidade de fazerem disparo. Ele frisa, no entanto, que esse armamento já foi apreendido com as Forças Armadas da Colômbia (FARC).
– Essas armas foram adquiridas (no Brasil) pelo Exército e pelo corpo de Fuzileiros Navais para substituir os antigos lança-rojões que eram chamados popularmente de bazuca. Nós nunca capturamos uma arma dessas em condições de uso com a criminalidade. Mas nós já tivemos notícias na America Latina de que lançadores de AT-4 em condições de uso, que foram vendidos para as Forças Armadas da Venezuela, foram capturados na Colômbia. Muitos foram encontrados com as FARC.
A DCOD acredita que o armamento estava sendo utilizado pelos bandidos da comunidade Parque Floresta para intimidar criminosos de uma facção rival e também moradores e comerciantes da comunidade. O lança-rojão foi encontrado pelos policiais ao lado do muro de uma residência. O armamento, quando municiado, tem quase sete quilos e um metro de comprimento.
Com a chegada da polícia na favela, houve intenso tiroteio. Um blindado da DCOD caiu em um buraco e os policiais precisaram de apoio para retirar o veículo do local. Na operação, também foram apreendidas drogas. Clésio Moreira Dias Santos foi preso na ação.
No lança-rojão, estava escrito, a tinta branca,”Tropa do Jogador”. Segundo a polícia, é uma menção ao traficante Orlando da Conceição, o Orlando Jogador, morto em 1994. Um dos filhos do criminoso, Everton Alan Soares Conceição, é suspeito de ser o chefe do tráfico no Parque Floresta e está sendo investigado pela DCOD. Segundo a polícia, Everton está foragido e há um mandado de prisão contra ele.
Everton chegou a ser preso em dezembro de 2018, na Avenida Borges de Medeiros, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Na época, foi divulgado que ele respondia a uma tentativa de homicídio contra um policial militar do 39º BPM (Belford Roxo). O filho de Orlando Jogador ficou durante quatro meses atrás das grades. Em março deste ano, ele foi solto.
Orlando Jogador era um dos chefes do tráfico da maior facção criminosa do Rio no Complexo do Alemão, na Zona Norte. Ele foi assassinado em 1994, por Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, integrante de uma facão criminosa rival. Uê foi morto carbonizado aos 33 anos, em 2002, dentro de Bangu 1, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio, por ordem de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Em 2015, Fernandinho Beira-Mar foi condenado a 120 anos de prisão pela morte de Uê e de outros três presos, Carlos Alberto da Costa (Robertinho do Adeus), Wanderlei Soares (Orelha) e Elpídio Rodrigues Sabino (Pidi). Para cada crime, o bandido recebeu a pena máxima de 30 anos.
Os assassinatos ocorreram durante uma rebelião em Bangu 1. O presídio é o único no estado do Rio que é considerado de segurança máxima.