
Turistas estrangeiros subindo e descendo as vielas das favelas já fizeram parte da rotina das comunidades. Mas, desde que a violência voltou a se impor, os passeios turísticos nessas regiões vêm perdendo clientela. Em lugares conflagrados, como o Complexo do Alemão, os visitantes praticamente desapareceram. Condição que jogou na incerteza uma rede de pequenos negócios, de restaurantes a hostels, que começava a prosperar com o turismo nas regiões pacificadas.
“O Consulado dos Estados Unidos recomendou que não entrássemos em favelas de forma alguma, nem com um guia. Mas resolvi ver de perto”, disse uma turista que atravessou a Rocinha na última segunda-feira.
A americana foi à favela num dia atípico. Numa das lajes perto da Estrada da Gávea ocorria a gravação de uma telenovela. Quem conhece o dia a dia do lugar percebeu que havia mais policiamento que o normal. E foi o tamanho dos fuzis carregados pelos PMs que assustou a turista, que não viu, mas sabia da presença do tráfico por perto.
“É seguro para uma mãe ou uma avó andar com suas crianças na rua?”, questionou.
Dono da operadora Favela Tour, Marcelo Armstrong diz que a queda no negócio chega a 40%, se comparado ao período antes da Olimpíada:
“A violência é o principal motivo, mas não é o único. As notícias do Brasil no exterior prejudicam muito.
Em geral, os passeios em favelas custam de R$ 80 a R$ 200 por pessoa, dependendo do pacote. Assim como na Rocinha, no Dona Marta, em Botafogo, também diminuiu a quantidade de pessoas dispostas a pagar por esse turismo. Até o ano passado, cada grupo atendido pelo Favela Santa Marta Tour era formado por pelo menos dez pessoas. Atualmente, não chega à metade.
“Essa época são férias na Europa. Esperávamos muito mais gente. Esta semana só guiei duas pessoas por dia”, afirma Thiago Firmino, morador e guia.
Em outras favelas, a situação é mais grave. Não há mais turismo no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, e no Complexo do Alemão. O Prazeres Tour desativou o serviço em novembro de 2015, dois meses após cancelar um passeio devido a tiroteios. No Alemão, os guias locais desistiram do trabalho pouco antes da Copa de 2014. Mais de dez mil turistas visitaram a região em 2012 e 2013, período em que a novela “Salve, Jorge”, da TV Globo, era gravada no local.
A Riotur afirmou ainda que apoia as atividades turísticas nas comunidades. E divulgou que um quiosque de atendimento ao turista vai ser instalado até o fim deste ano na Rocinha.