
Quem sorte, hein! Recém-saído da prisão e condenado a 22 anos em regime fechado na primeira instância, o goleiro Bruno retornará ao futebol profissional. Ontem (10), o jogador acertou contrato de dois anos com o Boa Esporte, time mineiro que conseguiu acesso na Série C em 2016 e disputará a segunda divisão do Campeonato Brasileiro nesta temporada. 35 mil mensais deverá ser o salário do jogador.
Clube da cidade de Varginha, o Boa ainda não fez anúncio oficial, mas o empresário do atleta confirma o acordo. Bruno será apresentado oficialmente na próxima terça-feira (12). Ele já posou para fotos com a camisa do novo clube.
Ontem, logo após o acerto, Bruno não quis falar com a imprensa, mas resumiu o momento como “superação”.
O atleta não atua profissionalmente desde 5 de junho de 2010, em jogo do Flamengo contra o Goiás, no Maracanã. Visitante, o time esmeraldino venceu de virada por 2 a 1 e contou até com falha de Bruno.
O goleiro se reuniu com a diretoria do Boa Esporte no começo da tarde de ontem. Rildo Moraes, diretor de futebol do time, já havia confirmado interesse na contratação do ex-corintiano, atleticano e rubro-negro carioca.

Foto: Arquivo/CRF
“Estamos em conversas há três anos com o Bruno e os seus advogados. Hoje ele está aqui em Varginha fazendo uma visita ao clube. Estamos conversando, vamos ver se vai dar tudo certo”, disse.
O Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão assinada pelo ministro Marco Aurélio Mello no fim de fevereiro, concedeu habeas corpus a Bruno para que ele responda ao seu processo em liberdade. Ele estava em prisão preventiva desde 2010, e a continuação da cautelar foi considerada “injustificável” pelo juiz.
Bruno, ao deixar a cadeia, tinha contrato firmado com o Montes Claros Futebol Clube, também mineiro. Um dos empresários do jogador, Lúcio Mauro, disse que conseguirá derrubar na Justiça o acordo assinado em 2014 porque o jogador nunca recebeu nada do time. “Esse contrato, na verdade, foi feito lá atrás para ver se liberava o Bruno a trabalhar, mas o juiz negou’, explicou, Lúcio.
Nas redes sociais, a repercussão da contratação de Bruno pelo Boa Esporte foi negativa. “Quem contrata o goleiro Bruno nem é gente”, criticou um internauta.
Estava em cana por homicídio
triplamente qualificado
Ex-goleiro de Atlético-MG, Corinthians-SP e Flamengo-RJ, Bruno estava preso desde 2010, acusado de envolvimento no assassinato de Eliza Samudio. Ele foi condenado em 2013 a 22 anos e 3 meses de prisão, em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver contra a ex-amante, além de sequestro e cárcere privado do filho que ele teve com Eliza.
O jogador recorreu da decisão, mas não teve recurso julgado. Ele estava preso por decisão de primeira instância há quase sete anos. Na decisão tomada no dia 21 de fevereiro e publicada no dia 26 pelo Supremo, o ministro Marco Aurélio Mello julgou não haver sustentação jurídica para manutenção do encarceramento. Bruno responderá ao processo em liberdade e aproveitará para jogar futebol.
Ele disse que não recebeu
carta dos ex-colegas de Fla
Campeão Brasileiro pelo Flamengo em 2009, o goleiro Bruno, que acaba de assinar contrato com o mineiro Boa Esporte, em entrevista à Radio Itatiaia, de Minas, revelou ter magoa de seus ex-companheiros de Flamengo.
Ele afirmou que gostaria de ter recebido uma carta, que fosse, em solidariedade no momento de sua prisão. “Eu gostaria de ter recebido no mínimo uma carta daquele grupo de 2009 do Flamengo, com o qual fomos campeões brasileiros. Na verdade eu não quero nada de nenhum deles, mas naquele momento ali, seria importante, independentemente se Patrícia Amorim proibiu, como alguns falaram para mim na época que ela, a presidente, vetara. Mas se fosse com qualquer um deles, independentemente do que tivesse acontecido, eu mandaria uma carta. Seria até mais radical e iria lá visitar. Independentemente se o cara errou. ‘Posso não concordar com o que você fez, mas vim aqui te ver’. Faltou prestar solidariedade. Eu só queria uma carta daquele pessoal”.
Alguns ex-colegas apareceram segundo o goleiro. “O Fábio. Foi lá o Jajá, que é pouco conhecido. Jackson Avelino, o Jajá, que jogou no América-MG e comigo no Flamengo. Teve algumas outras pessoas, como o Gladstone, que foi zagueiro do Cruzeiro. O próprio Irineu, que jogamos juntos na base do Cruzeiro. Estiveram lá fazendo o trabalho deles, que é de evangelização”.
O goleiro que chegou a ser capitão do Flamengo em 2010 e cotado para a Copa do Mundo também revelou que não estava preparado para o sucesso.
“O cara quando é muito pobre e se depara com o sucesso tão rapidamente, não consegue administrar. Eu mesmo não estava estruturado. A pessoa deixa se levar. E mesmo a Ingrid (esposa do jogador) me falando tantas vezes e chamando minha atenção, eu tinha que estar com o coração aberto para ouvir. Mas eu achava que eu colocando coisas materiais em casa já era suficiente, mas não é bem assim não. Até falo para as pessoas hoje que não é preciso de muito para sermos felizes. Para mim a coisa mais importante hoje é o amor e a família”.
por Jota Carvalho