
O anúncio de que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueirinha, em Duque de Caxias,na Baixada Fluminense iria terminar dividiu opiniões de moradores. A decisão foi do Gabinete de Intervenção Federal, que vai extinguir metade das UPPs, como anunciado há duas semanas, após reunião entre a cúpula da intervenção com comandantes da PM.
O receio é de que outros grupos tentem disputar o controle da comunidade.
— Quando a UPP veio, algumas leis internas foram quebradas. Por exemplo, não havia roubos na comunidade antes. Com a UPP, esse crime aumentou. Com a saída da UPP, vai ficar um buraco. Aqui é Comando Vermelho, mas a milícia quer entrar. A gente está vulnerável — disse uma moradora, que preferiu não se identificar.
A unidade foi inaugurada há quatro anos na região. Para alguns moradores, a presença dos policiais alterou a rotina e gerou mais insegurança.
— Acho que agora vai ficar melhor. Antes, era tiroteio todo dia. Os policiais entravam na favela e começava a troca de tiros. Quase não tínhamos lazer nem aula — relatou um estudante.
Mas, para um comerciante local, a região vai ficar desprotegida sem a presença dos policiais militares:
— Eles fazem ronda enquanto existe a UPP. Agora, não vai ter mais a polícia constantemente. Sem UPP, não vão proteger mais.
O historiador e coordenador de programas e projetos sociais, Luciano Ramos, trabalhou por oito anos na comunidade. Acompanhou a implantação da UPP, sua atuação e agora o anúncio do fim. Para ele, a comunidade sempre esteve sob domínio de um poder, seja estadual ou do tráfico:
— Mesmo com a UPP, o tráfico continuou agindo. Então, foi uma maquiagem. Agora, acho que um novo grupo vai chegar para tomar conta. Para os moradores, isso vai ser um caos. A comunidade não deveria estar sob nenhum domínio, mas ser protagonista com o apoio do poder público.
Para o coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araújo, o fim da UPP Mangueirinha não deve, a princípio, causar um aumento brutal da violência:
— A Baixada em sua maioria não tem UPPs e a violência tem aumentado. Não percebemos uma relação de causa e efeito relativa à presença das UPPs e o aumento da violência. Se houvesse uma política de segurança territorializada, com participação da comunidade, o fim da UPP seria uma tragédia. O que tem contribuído para o aumento da violência é a disputa entre milicianos e traficantes, e a presença da PM de forma não planejada.
Programas sociais serão mantidos
A Secretaria estadual de Segurança (Seseg) informou que o realinhamento das 38 Unidades de Polícia Pacificadora está sendo conduzido junto ao Gabinete de Intervenção Federal com base no diagnóstico iniciado pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em 2017. Por determinação do Secretário estadual de Segurança, General Richard Nunes, o efetivo será destinado para o aumento do policiamento ostensivo com atuação na mancha criminal para coibir a criminalidade.
A reestruturação teve início com a transformação das UPP Batan e UPP Vila Kennedy em companhias destacadas do 14ºBPM (Bangu), batalhão responsável pela área onde estão localizadas estas comunidades. A UPP Mangueirinha, em Duque de Caxias, será a próxima a ser incluída na dinâmica operacional do 15ºBPM (Duque de Caxias). A unidade em Caxias foi inaugurada em 2014 com 220 PMs para atender Mangueirinha, Pedra do Sapo, Corte Oito, Santuário e Centenário.
A Seseg disse ainda que a notícia sobre a suposta extinção das Unidades de Polícia Pacificadora leva angústia aos moradores, mas reafirmou que os programas sociais serão mantidos e que o realinhamento visa fortalecer a segurança das comunidades, além da melhoria das condições de trabalho dos policiais. Logo, as próximas ações do reordenamento das UPPs serão divulgadas em momento oportuno.