
Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã de sexta-feira (4) a 24ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Aletheia, em referência a uma expressão grega que significa busca da verdade. Sob um mandado de condução coercitiva, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado de sua casa, em São Bernardo do Campo, na região do Grande ABC, para o Aeroporto de Congonhas, zona sul paulistana. Após depor à PF, Lula fez um pronunciamento no diretório nacional do PT, em São Paulo, em que criticou a Justiça e a imprensa. No pronunciamento, o ex-presidente disse que se sentiu “ultrajado” com a ação policial e que o episódio servirá para o PT “levantar a cabeça”.
Lula voltou a negar que seja dono do apartamento tríplex, no Guarujá, no litoral de São Paulo, que está sendo investigado pelo Ministério Público e a Polícia Federal. “Se eu não comprei e não paguei, não é meu”, disse. “Um apartamento que não é meu e dizem que é meu. Espero que quando tudo acabar alguém me dê à chácara e o apartamento”, ironizou. “Quando eu pagar e estiver no meu nome, posso dizer que é meu e terei orgulho de dizer”, completou.
Críticas à Justiça
Lula fez críticas à atuação do Ministério Público Federal e do juiz federal Sérgio Moro, que autorizou a operação da PF. O ex-presidente chamou de “show pirotécnico” a atuação da Justiça no caso. “Lamentavelmente preferiam usar a prepotência, a arrogância, o show de pirotecnia. É lamentável que uma parte do Judiciário esteja trabalhando com a imprensa”.
O ex-presidente da República reiterou que não se nega a depor à PF, e que bastaria um convite. Em tom de ironia, disse que “a partir da semana que vem, quem quiser um discursinho do Lula, é só acertar passagem de avião, de ônibus não porque demora muito”, que ele estaria disposto “a andar pelo país”.
“Me senti prisioneiro”
Lula defendeu que a democracia precisa de “instituições fortes”. “É importante que os procuradores saibam que uma instituição forte tem que ter profissionais responsáveis.”
“Eu me senti prisioneiro hoje de manhã. Já passei muitas coisas na minha vida, mas acho que o país não pode continuar assim, amedrontado. Antes de os advogados saberem que seu cliente vai ser chamado, a imprensa recebe. Dentro da Constituinte, eu briguei para ter um MP [Ministério Público] forte. Eu vou indicar sempre o primeiro da lista, mas é importante que os procuradores saibam que uma instituição forte precisa de pessoas muito responsáveis”, disse.
Sobre a possibilidade de voltar a disputar a Presidência da República pela sexta vez, em 2018, disse que dependerá de sua saúde. “Não sei se serei candidato em 2018, a natureza é implacável com quem passa de 70 [anos]. Mas a ciência avançou e essas coisas que eu faço aumentam minha tensão de participar das coisas nesse país”.
Depoimento
Lula depôs por cerca de três horas no escritório da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, zona sul paulistana. Além da condução coercitiva, foram expedidos mandados de busca em diversos endereços do ex-presidente, como parte da 24ª fase da Operação Lava Jato. De acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que acompanhou o depoimento, foram abordados diversos assuntos durante as declarações prestadas à polícia, como as palestras que o ex-presidente concedeu após deixar o Palácio do Planalto e a ligação com um sítio em Atibaia, no interior paulista.
Segundo o procurador da República, Carlos Fernando Lima, há indícios de que Lula recebeu pagamentos, seja em dinheiro, presentes ou benfeitorias em imóveis das maiores empreiteiras investigadas na operação policial. De acordo com o procurador, foram cerca de R$ 20 milhões em doações para o Instituto Lula e cerca de R$ 10 milhões em palestras de empresas que também financiaram benfeitorias de um sítio em Atibaia e de um tríplex no Guarujá.
Em frente ao local onde Lula prestava depoimento, houve confusão entre um grupo de militantes do PT e da Central de Movimentos Populares e manifestantes críticos ao ex-presidente. Os grupos pró e contra trocaram agressões e ofensas. Também houve tumulto no saguão do aeroporto. Além de xingamentos e agressões verbais, houve empurrões e bandeiradas. Ninguém ficou ferido.
Dilma critica vazamentos e rebate suposta delação de Delcídio
A presidenta Dilma Rousseff fez, na tarde de sexta-feira, um pronunciamento em que se disse inconformada e indignada com a notícia de um suposto acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e contestou as informações sobre o que teria dito o parlamentar nos depoimentos. Dilma afirmou que é “absolutamente subjetiva e insidiosa a fala do senador, se ela foi feita”, e considerou descabidos alguns fatos relatados por Delcídio, segundo a revista IstoÉ.
Dilma convocou a imprensa para fazer uma forte defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No pronunciamento, a presidenta refirmou o teor de nota publicada na tarde de hoje, manifestando “absoluto inconformismo” com a condução coercitiva do ex-presidente e classificando de “desnecessária” a medida.
Pelo menos três citações da revista IstoÉ sobre o suposto depoimento de Delcídio no âmbito da Lava Jato foram contestadas pela presidenta. Dilma negou ter conversado com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, na tentativa de “mudar os rumos” da Lava Jato. Disse que os esclarecimentos sobre a compra da Refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2014, já foram devidamente prestados, embasados em documentação do Conselho de Administração da Petrobras, e que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou o arquivamento da investigação.
A presidenta considerou “lamentável” a ocorrência do vazamento ilegal de uma hipotética delação premiada, que, se foi feita, teve como motivo único a tentativa de atingir sua pessoa e seu governo. “Provavelmente, pelo imoral e mesquinho desejo de vingança e de retaliação de quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos que praticou”, ressaltou.