
Foto: Agência Câmara
Ontem, parlamentares do PSOL acusaram o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus aliados de terem “vedado” a discussão na Casa sobre a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). “Criou-se um pacto espúrio de silêncio, inclusive de parte da maioria das lideranças, de omitir o assunto”, concluiu o líder da bancada, deputado Chico Alencar (RJ).
O PSOL acredita que Cunha cancelou a sessão de debates nesta quinta para evitar que outros parlamentares usassem a tribuna falar sobre a denúncia e pedir seu afastamento.
Ele cobrou uma explicação em plenário do peemedebista. “Está acontecendo há exatamente uma semana algo grave e inédito neste Parlamento. O procurador-geral apresentou uma denúncia robusta contra o presidente. De maneira inédita, um denunciado não se manifestou minimamente sobre isso no plenário e era obrigação elementar ir à tribuna na primeira vez após a denúncia”, disse Alencar.
O líder disse que o silêncio na Casa lembra o “silêncio da máfia”. “Parece que há um mar de cumplicidades e de temores”, afirmou. Alencar reclamou que Cunha virou as costas quando foi confrontado sobre a denúncia e questionou a viagem do peemedebista para os Estados Unidos. “Como se nada tivesse acontecendo, lá vai o presidente numa comitiva para representar o Parlamento brasileiro numa reunião nos EUA. Parece que deviam ir para a Disney, porque lá é um parque de diversões e um mundo encantado onde a vida real não chega”, provocou.
PSOL lidera briga pela saída do deputado-presidente

Foto: Agência Câmara
Ontem, foi divulgado o manifesto com 35 assinaturas de deputados que pedem a saída imediata de Cunha da Presidência da Casa, mas não há na lista nenhum parlamentar do PSDB, do Solidariedade e do DEM. Do PMDB, só há o apoio do deputado Jarbas Vasconcelos (PE). O PSOL, que encabeça o movimento, acredita que deve crescer o apoio em favor da saída do peemedebista.
O partido promete buscar o apoio de entidades civis para aumentar a pressão sobre Cunha e acabar com o “silêncio de cemitério”. “Eu chamaria o silêncio de silêncio ensurdecedor”, completou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Membro da CPI da Petrobras, Valente criticou a “blindagem” da comissão sobre a investigação de políticos.
O deputado apresentou ontem um requerimento de acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o operador do PMDB, Fernando Soares, mas, sem quórum, o requerimento não foi aprovado. “A cúpula da CPI esvaziou (a sessão). Nós conseguimos colocar o requerimento extrapauta, mas o presidente (Hugo Motta) votou em dois minutos para impedir o quórum dessa acareação”, disse Valente.
No início da entrevista do PSOL, o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), concluía sua conversa com os jornalistas. Questionado sobre a saída de Cunha, Guimarães evitou o confronto com o peemedebista. “O governo evidentemente não vai se manifestar sobre isso. O governo tem uma questão que para ele que é fundamental, que é a justiça, o trânsito em julgado, é o direito ao contraditório.”
>> Apuração interna – Questionado sobre futura representação no Conselho de Ética, Alencar disse que o PSOL ainda não entrou com o pedido de investigação porque não quer correr o risco de haver rejeição preliminar, já que o STF ainda não aceitou a denúncia da PGR contra Cunha. “O Conselho será acionado tão logo o Supremo faça a mínima manifestação”, respondeu. Segundo o parlamentar, o pedido já está sendo preparado “com muito esmero”.
Sobre outros parlamentares citados na Operação Lava Jato, Alencar afirmou que o partido pediu a abertura de sindicância sobre todos os investigados e que até hoje a Corregedoria não se manifestou. “O pacto de silêncio já era preliminar lá na Corregedoria. É mais um episódio degradante”, comentou Alencar.
Eduardo se recusa a comentar manifesto pelo seu afastamento
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), recusou-se a comentar o manifesto assinado por 35 deputados que pede sua saída do comando da Casa. “Não comento sobre isso, cada um tem direito de fazer o que quer”, disse. Cunha também não quis falar sobre a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o denunciou na semana passada. “Não comento”.
“A diferença de condição de investigado em um inquérito para a de um denunciado é notória. Neste caso, Cunha é formalmente acusado de ter praticado crimes. Com a denúncia do MP, a situação torna-se insustentável para o deputado, que já demonstrou utilizar o poder derivado do cargo em sua própria defesa”, diz o documento, que é assinado pelo peemedebista Jarbas Vasconcelos (PE).
Cunha foi acusado pelo lobista Julio Camargo de pedir propina de US$ 5 milhões no esquema de corrupção da Petrobras. Na semana passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou acusação formal contra o deputado, que deve ser apreciada agora pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No dia da denúncia, parlamentares já haviam divulgado um manifesto anônimo contra o peemedebista. Segundo o regimento da Câmara, não há previsão de que uma ação de parlamentares possa culminar com o afastamento do comandante da Casa – a decisão seria de Cunha, que já disse que não o fará.
Em evento na Força Sindical em São Paulo, no dia 21, um dia após ser denunciado, Cunha afirmou que renúncia não faz parte de seu vocabulário nem fará. “Não há a menor possibilidade de eu não terminar meu mandato à frente da Câmara. Renúncia é um ato unilateral”, afirmou na ocasião.