
Foto: Geraldo Magela /Agência Senado
A defesa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) divulgou nota pública em que “não confirma” as informações publicadas em reportagem de ontem da revista IstoÉ. A reportagem diz que o parlamentar firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
“À partida, nem o senador Delcídio, nem sua defesa confirmam o conteúdo da matéria assinada pela jornalista Débora Bergamasco. Não conhecemos a origem, tão pouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, diz a nota assinada pelo advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto e pelo próprio senador.
A nota diz ainda que Delcídio não foi procurado pela reportagem da IstoÉ para se manifestar sobre “a fidedignidade” dos fatos relatados. E conclui dizendo que “o senador Delcídio do Amaral reitera o seu respeito e o seu comprometimento com o Senado da República”.
A reportagem da revista diz que, na delação premiada, Delcídio teria feito denúncias contra a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a revista, o senador teria informado que procurou a família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró por determinação de Lula para tentar impedir que Cerveró firmasse acordo de delação premiada com o Ministério Público em outubro do ano passado. De acordo com a revista, a Dilma Rousseff teria interferido nas investigações da Operação Lava Jato.
Sobre se teria firmado um acordo de delação premiada, a defesa e o senador não mencionam. Se de fato existir, e para ser válido, o acordo precisa da homologação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, responsável pelos inquéritos da Lava Jato na Corte. Depois disso, Delcídio ainda terá que apresentar provas do que disser no âmbito da delação premiada.
Prisão de Delcídio
O senador foi preso no dia 25 de novembro de 2015 depois que Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, entregou ao Ministério Público o áudio de uma reunião na qual Delcídio propunha o pagamento de R$ 50 mil por mês à família e um plano de fuga para o ex-diretor deixar o país, que estava preso em Curitiba. O senador garantia ainda que poderia interferir junto a alguns ministros do Supremo para conseguir um habeas corpus para Nestor Cerveró.
Delcídio foi solto no dia 18 de fevereiro sob condição de se manter em recolhimento domiciliar, podendo deixar a sua residência apenas para ir ao Senado trabalhar e retornando no período noturno. No entanto, ele apresentou pedido de licença por 15 dias para fazer exames.
O senador enfrenta uma representação no Conselho de Ética e apresentou defesa alegando que se apresentou à família de Cerveró como amigo e não como parlamentar. Ele também argumenta que não chegou a procurar nenhum ministro do STF para tentar interferir a favor da soltura de Nestor Cerveró.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou hoje (3) a participação em qualquer atividade ilegal relacionada aos fatos investigados pela Operação Lava Jato, ou em quaisquer outros.
Lula nega participação em ilegalidades
Em nota divulgada pelo Instituto Lula, o ex-presidente diz que “jamais participou, direta ou indiretamente, de qualquer ilegalidade, seja nos fatos investigados pela Operação Lava Jato, ou em qualquer outro, antes, durante ou depois de seu governo”.
O texto não cita a suposta delação premiada que, segundo a revista IstoÉ, foi feita pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS), por meio de acordo com o Ministério Público Federal (MPF).
A revista IstoÉ publicou ontem reportagem em que afirma que o senador firmou acordo de delação premiada com o MPF. Segundo a reportagem, na delação, Delcídio disse que a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.
Cardozo diz que senador não queria ser prejudicado

Foto: José Cruz/ Agência Brasil
O recém-empossado advogado-geral da União (AGU) e ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que recebeu inúmeras visitas do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), quando comandava o Ministério da Justiça. Apesar de, na época, Delcídio fazer as visitas sob as mais diversas justificativas, Cardozo entende, agora, que o motivo real dos encontros era tentar induzi-lo a atuar contrariamente às delações premiadas firmadas por investigados pela Polícia Federal. Para Cardozo, Delcídio tinha medo de acabar sendo citado em alguma delação.
Nesses encontros, Cardozo disse, que ao ouvir os argumentos de Delcídio, solicitou ao senador que enviasse uma representação pedindo investigação da denúncia. De acordo com Cardozo, Delcídio nunca enviou o pedido. “Delcídio vinha quase que diariamente ao ministério. Meus assessores testemunharam a presença cotidiana dele por aqui. Eu até brincava que ia colocar uma placa com o nome dele em uma salinha. Vinha, aparentemente, por assuntos diversos, mas o que ele mais falava era: ‘temos de ver essa história de os réus estarem sendo pressionados para fazerem delação premiada’”, lembrou Cardozo, em discurso após transmitir o cargo de ministro da Justiça ao procurador Wellington César Lima e Silva.
Segundo Cardozo, Delcídio dava a impressão “de estar defendendo uma causa”, ao dizer que alguns estavam tentando prejudicar o governo. “Agora eu vejo que ele não estava defendendo nada ali, além do fato de não querer essas delações, para não ser prejudicado”. A situação, segundo o ex-ministro, “beirava o insuportável”.