
Foto: Divulgação/PSDB
Em entrevista à revista alemã de economia Capital, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a presidente Dilma Rousseff, afirmando que ela não está envolvida no escândalo de corrupção na Petrobras.
“Não, não diretamente. Mas o partido dela, sim, claro. O tesoureiro está na cadeia”, afirma FHC em entrevista publicada – em alemão – na edição deste sábado (01/08) da revista. “Eu a considero uma pessoa honrada, e eu não tenho nenhuma consideração por ódio na política, também não pelo ódio dentro do meu partido, ódio que se volta agora contra o PT.”
FHC atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade política pelo escândalo de corrupção na Petrobras. “Os escândalos começaram no governo dele”, argumenta. “Tudo começou bem antes, em 2004, com o Lula, com o escândalo do mensalão.”
Questionado se Lula estaria envolvido, FHC responde: “Não sei em que medida. Politicamente responsável ele é com certeza. Os escândalos começaram no governo dele”.
O ex-presidente, uma das principais lideranças do PSDB, afirma que era impossível que Lula não soubesse do mensalão. “Para colocá-lo atrás das grades, é necessário haver algo muito concreto. Talvez ele tenha que depor como testemunha. Isso já seria suficientemente desmoralizante”, comenta.
Mas FHC afirma que seria ir longe demais colocar Lula na cadeia: “Isso dividiria o país. Lula é um líder popular. Não se deve quebrar esse símbolo, mesmo que isso fosse vantajoso para o meu próprio partido. É necessário sempre ter em mente o futuro do país.”
Em outro ponto da entrevista, FHC elogia Lula. “Ele certamente tem muitos méritos e uma história pessoal emocionante. Um trabalhador humilde que conseguiu ser presidente da sétima maior economia do mundo.”
Mais adiante, FHC afirma que Lula era como um Cristo. “Eles fizeram dele um deus, mas ele apenas levou adiante a minha política.”
FHC diz ainda que há um lado bom na atual crise. “Os cidadãos veem: as instituições funcionam – Ministério Público, Polícia Federal, toda essa operação Lava Jato”, conclui.
Presidente espera decisão de governadores para sancionar ‘emenda Serra’
O governo federal espera uma decisão dos governadores até a próxima terça-feira (4), sobre o projeto de lei complementar que libera os recursos dos depósitos judiciais para os Estados. A presidente Dilma Rousseff pretendia anunciar a sanção do projeto na reunião da última quinta-feira (30), mas os próprios governadores questionam o artigo do projeto que hierarquiza como os Estados podem gastar os recursos. A ideia é que os próprios governadores cheguem a um consenso para orientar a decisão da presidente, que tem até o dia 5 de agosto para se decidir sobre eventuais vetos.
A ideia de sancionar o projeto proposto pelo senador José Serra (PSDB-SP) não agrada totalmente à equipe econômica. São R$ 20 bilhões que são usados pelo Banco do Brasil para operações de crédito e, mais do que isso, podem ser segurados para garantir parte da meta do superávit primário. No entanto, a sanção seria um agrado aos governadores em troca do apoio para evitar as “pautas-bomba” que hoje tramitam no Congresso.
O projeto de Serra dá preferência para o pagamento dos precatórios, depois as dívidas da previdência e então investimentos. A maior preocupação dos governadores neste momento são mais simples, despesas regulares de custeio em um momento de queda brusca de arrecadação.
Não há, no entanto, um consenso de como mexer nessa hierarquia. O artigo não pode ser vetado porque o projeto ficaria incompleto. Também não é possível regular o tema com uma Medida Provisória. O Planalto espera uma solução dos governadores até o início da próxima semana. “Está sendo formada uma comissão para, nos próximos três, quatro dias, chegar a uma conclusão sobre isso”, disse o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), na saída da reunião de governadores, na noite de quinta-feira.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, informou que o governo está aberto a permitir o uso de depósitos judiciais para pagamento de dívidas, medida recém-aprovada no Congresso. “A tendência é sancionar, manter o projeto de lei complementar na sua essência”, afirmou Levy a jornalistas, ao deixar a mesma reunião. Segundo o ministro da Fazenda, falta definir “algumas questões técnicas”. “Cada Estado é um Estado, é difícil fazer uma fôrma que sirva pra todo mundo. Todo mundo quer ter segurança”, comentou.
Levy admitiu que para o governo era melhor vetar a proposta, já que haverá impacto negativo no superávit primário, mas reconheceu que os governadores se sentem “asfixiados” com as despesas obrigatórias e reclamam não ter recursos para investimentos.
Alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Bahia e Rio de Janeiro já fizeram leis estaduais liberando o uso dos fundos. No caso do governo gaúcho, os depósitos acumulados já foram todos usados nos últimos dois governos, de Yeda Crusius (PSDB) e Tarso Genro (PT), e o atual governador José Ivo Sartori (PMDB) tem apenas os recursos que entram anualmente. Já a Bahia teria usado 80% dos recursos depositados.