
Foto: Ana Volpe/Agência Senado
Ontem, o plenário do Senado definiu a comissão especial que vai analisar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O colegiado será composto por 21 membros e outros 21 suplentes, indicados pelos líderes partidários. Há consenso quanto a indicação dos nomes e a votação deve ser tranquila. Maiores divergências, entretanto, são esperadas na eleição de presidente e relator da comissão, prevista para esta terça-feira (26).
Os líderes partidários tiveram até a última sexta-feira (22), para fazer as indicações dos nomes e a composição final foi bem negativa para o governo. Dos 21 indicados, apenas cinco são contra o impeachment da presidente, enquanto um senador se diz indeciso. Todos os demais 15 membros são a favor do afastamento.
A comissão foi montada respeitando a proporção do tamanho dos blocos partidários. Desta forma, os blocos com mais senadores em exercício tiveram direito a mais vagas. O PMDB, que sozinho compõe o bloco da maioria, recebeu cinco vagas. A oposição segue empatada com o bloco de apoio ao governo, cada um com quatro vagas. Os outros três blocos detêm o restante dos postos na comissão.
A instalação da comissão acontece apenas após a eleição do presidente e relator do processo, funções que devem ser oficializadas nesta terça. O PMDB, como maior partido, indicou o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) para a presidência, enquanto o bloco da oposição, segundo maior do Senado, indicou o nome de Antonio Anastasia (PSDB-MG) para a relatoria. Os nomes precisam ser aprovados por votação na primeira reunião dos 21 membros da comissão, que está prevista para hoje e será coordenada pelo membro mais velho do colegiado.
Os governistas, entretanto, já se manifestaram contrariamente à indicação de Anastasia e ameaçaram, inclusive, judicializar o processo. Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o relator deve estar aberto às argumentações de ambos os lados e não pode ter uma opinião formada.
>> Confira a composição da comissão – Bloco da Maioria (PMDB): Rose de Freitas (PMDB-ES), Simone Tebet (PMDB-MS), Waldemir Moka (PMDB-MS), Dário Berger (PMDB-SC), Raimundo Lira (PMDB-PB). Oposição (PSDB-DEM-PV): Antonio Anastasia (PSDB-MG), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Ronaldo Caiado (DEM-GO). Apoio ao Governo (PT-PDT): Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-RS), José Pimentel (PT-CE) e Telmário Mota (PDT-RR). Socialismo e Democracia (PSB, PPS, PCdoB e Rede): Romário (PSB-RJ), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Bloco Moderador (PR, PTB, PSC, PRB e PTC):
Wellington Fagundes (PR-MT), Zeze Perrella (PTB-MG). Democracia Progressista (PP-PSD): Ana Amélia (PP-RS), José Medeiros (PSD-MT) e Gladson Cameli (PP-AC).
Lula diz que o impeachment
é “agenda do caos”

Foto: Paulo Pinto/Agência PT
Em encontro de partidos e de organizações de esquerda ontem em São Paulo, o ex-presidente Lula afirmou que o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está sendo conduzido por uma “quadrilha legislativa” que promove, junto com a grande imprensa, “a agenda do caos”.
“Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos”, disse Lula em discurso lido por Dulci.
Lula criticou, ainda, a falta de cuidado dos parlamentares para analisarem o pedido de impedimento contra Dilma. A abertura sumária do processo, segundo ele, foi um “pelotão de fuzilamento” contra a presidente. “Não houve uma mínima análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento, comandado pelo que há de mais repugnante no universo político”.
O ex-presidente afirmou que o PT vai resistir: “Aqui no Brasil vai ter muita luta. Esperem que viveremos momentos de combate democrático”.
Lula lembrou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é réu em dois processos por corrupção, além de ser alvo em mais alguns inquéritos que virão a público em breve, segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Lula retomou o discurso do PT e da presidente Dilma, de que o peemedebista aceitou o processo de impeachment por vingança.
“Essa operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas secretas na Suíça. Quando os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara abriu o procedimento do impeachment”, disse Lula, em referência a processo de cassação de mandato contra Cunha na comissão da Câmara.
Lula disse que “os golpistas” querem voltar ao poder para “controlar a polícia, intimidar o Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado” e restabelecer “o reino da impunidade que sempre os preservou”.
Bastante aplaudido, o líder petista argumentou que a oposição tem responsabilidade na crise política. Segundo ele, durante os últimos 18 meses, “enquanto o governo se esforçava para equilibrar as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava para agravar a crise (…) com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo e a incerteza 24 horas por dia”, disse, acrescentando que a tentativa de destituir a presidente “é a maior ilegalidade desde 1964”.
“O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu, é assim que a direita cresce em todos os países da América Latina”, comparou o ex-presidente.